SUSAN QUASE LÁ
Por Cléber Sérgio de Seixas
Lá estava ela novamente. Desta vez os olhares iniciais não eram de desdém, mas de curiosidade, tomados de expectativa. O que viria? Qual seria a canção interpretada?
No início ela escorrega, desafina feio, derrapa nos graves - dificílimos até para as mais profissionais - mas aos trancos recupera a trajetória e brinda a platéia com uma belíssima interpretação de Memory, do mestre Loyd Weber. Para quem fora até então uma simples dona de casa, até que Susan manda bem. Confesso que desde Barbra Streisand não ouvia Memory tão bem cantada. Já classificada para a final, resta esperarmos o desfecho desta inusitada história.
Faço votos que Susan tenha êxito e seja coroada a vencedora do programa Britain's Got Talent (espécie de Ídolos das terras de madame Thatcher), mas sou cético quando se trata de programas de calouros. Desde que vi Shirley Carvalho perder o último ídolos exibido pelo SBT para uma loirinha sem graça chamada Thaeme Marioto, tomei birra deste tipo de programa e jurei nunca mais ver. O mais surreal foi constatar que foi o público quem votou e escolheu Thaeme, a mais "bonitinha". Prevaleceu a aparência, não o talento.
O exemplo de Boyle é um alento, já que, caso ela vença, estará quebrando o paradigma atual de que só têm vez no mercado fonográfico aqueles cantores que se encaixam nos padrões de beleza, juventude e carisma que o mercado impõe. Susan não é bela, não é jovem, não é magra e, provavelmente, não será daquelas cantoras que ficam saltitando no palco, além de ter o clássico com seu principal repertório, algo intragável para a maioria dos pobres mortais. No entanto ela tem o que realmente devia interessar num cantor: voz. O resto, ao meu ver, é mero acessório.
Depois que inventaram o vídeo-clip, os quesitos para ser um cantor nunca mais foram os mesmos. Envoltos por verdadeira parafernália eletrônica, maquiagem pesada, figurino extravagante, os cantores têm que estar sempre "bem na fita" para estrelar seus clipes. A mesma lógica é válida para os shows, que se convertem em verdadeiras performances artísticas, onde tudo é válido, da pirotecnia, passando pelos efeitos especiais, às acrobacias coreográficas estilo Madonna. É claro que uma produção pode dar uma guaribada na aparência de muita gente com a qual a natureza não tenha sido muito gentil, mas não a ponto de fazer milagres. Assim sendo, quem não tiver sido agraciado pela genética ficará relegado ao ostracismo artístico.
Portanto, Boyle já tem meu voto, mas não creio que ela vencerá a disputa. Se meu ceticismo for contrariado, quem sabe uma nova era se instaure para os feios porém talentosos?
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