O TEMPO E A ESCOLA
Por Míriam Pacheco da Silva Seixas
A percepção do tempo muda de acordo com o que pensamos sobre ele. Se pensarmos com a visão da mitologia grega, aceitaremos Cronos como o responsável pela ciência do tempo. No período medieval o homem regulava o tempo através das estações do ano, dividindo o tempo entre dia e noite. Já na era moderna, vemos a figura do tempo através do relógio. A escola muda seu enfoque sobre o tempo conforme a disciplina que esteja sendo ministrada. Na Astronomia temos o tempo sob o olhar da Cosmologia; na Biologia temo-lo na apreciação dos ciclos da vida; na Matemática estimam-se os números; na língua portuguesa, a observação dos tempos verbais. A metodologia de ensino da maioria das escolas na atualidade, no entanto, não privilegia a interdisciplinaridade ou a transdisciplinaridade, sobretudo quando das mudanças de uma aula a outra, de uma disciplina a outra, sem que haja nenhum link entre elas, o que provoca uma ruptura abrupta no conteúdo ministrado.
O tempo na escola se assemelha ao da fábrica, onde a execução das tarefas se dá no compasso do relógio, mecanicamente. Sob estas condições, pouco se exige do trabalhador em termos mentais, já que tal forma metódica de trabalhar dispensa, sob certas circunstâncias, algum raciocínio mais apurado. É oportuno então, lembrar as clássicas cenas de Chaplin no filme Tempos Modernos. Assim como na fábrica existe o manual com as instruções de trabalho, na escola existe a cartilha, o livro didático, os horários pré-definidos. Tudo padronizado. Assim, toda a vida escolar fica subordinada aos ditames de um script que deve ser seguido à risca: soa o sinal para o intervalo, segue-se um curto tempo para a descontração, volta-se para as aulas monótonas, até chegar-se ao final de uma árdua jornada de aprendizado; um dia de trabalho bem difícil para os alunos-operários.
A prática educacional contemporânea tem cumprido um papel de exclusão daqueles que não se enquadram na medida de tempo tida como adequada – tempo que está mais para os capitães da indústria do que para os professores – os quais se convertem nos alunos problema, considerados lentos demais se levado em conta o padrão imposto. A escola ocupa-se com a emolduração dos alunos, potenciais futuros empregados, que deverão estar domesticados o suficiente para as necessidades das empresas. Assim a escola desvirtua seu caráter de educar para a prática social, para a cidadania.
Consideremos o tempo e seu papel na educação durante o período medieval, quando o aprendizado era constante e não havia a correria da vida contemporânea. Sobrava tempo para conhecer o mundo em que se vivia, com todas as suas peculiaridades: sua tecnologia, sua língua, sua cultura, suas leis. Não havia horário de começar ou de parar de aprender.
O tempo, como o conhecemos atualmente, é um fator recente para a aprendizagem, que surgiu junto com o advento do capitalismo. Nasceu na escola como aliado dos interesses da indústria. A partir de então, a escola precisava ensinar a “economia” do tempo, ou melhor dizendo, a realizar determinadas atividades sob a batuta do relógio; tempo cronometrado; a pontualidade na realização das tarefas. Nas escolas metodistas inglesas de princípios do século XIX, a primeira coisa que aprendiam os alunos era a pontualidade. Uma vez entre seus muros, a disciplina escolar assemelhava-se muito à militar.
O superintendente fará soar de novo a campainha, e então, a um movimento de sua mão, toda a escola levantar-se-á a um só tempo de seus assentos; a um segundo movimento os escolares se voltam; a um terceiro se deslocam lenta e silenciosamente ao lugar designado para repetir suas lições, e então ele pronuncia a palavra “Começai” (...) (Thompson, 1967:85).
Pela mesma época, Bally propunha o seguinte horário para a escola mútua: 8:45, entrada do instrutor, 8:52, chamada do instrutor, 8:56, entrada das crianças e oração; 9:00, entrada nos bancos; 9:04, primeira lousa, 9:08, fim do ditado, 9:12, segunda lousa, etc. (Foucault, 1976: 154)
Pela mesma época, Bally propunha o seguinte horário para a escola mútua: 8:45, entrada do instrutor, 8:52, chamada do instrutor, 8:56, entrada das crianças e oração; 9:00, entrada nos bancos; 9:04, primeira lousa, 9:08, fim do ditado, 9:12, segunda lousa, etc. (Foucault, 1976: 154)
Podemos perceber que o tempo na escola não mudou. Determina-se o tempo para o aprendizado de cada disciplina. Soa o sino e muda-se o foco do ensino da Aritmética para Ciências; soa novamente o sinal e cambia-se o pensamento de Ciências para Geografia. A jornada escolar segue visando formar um “exército de bons trabalhadores”, determinados a, no futuro, cumprir a carga horária empresarial. A partir daí podemos ter uma visão geral do que tem sido a nossa sociedade e sua visão sobre o tempo.
Para Platão, sobretudo no diálogo chamado Timeu, o tempo é “imagem móvel da eternidade”. Vemos que o homem entrega ao verbo a noção de tempo, indicando estado, ação ou processo.
A percepção do tempo muda de acordo com o que pensamos sobre ele. Se pensarmos com a visão da mitologia grega, aceitaremos Cronos como o responsável pela ciência do tempo. No período medieval o homem regulava o tempo através das estações do ano, dividindo o tempo entre dia e noite. Já na era moderna, vemos a figura do tempo através do relógio. A escola muda seu enfoque sobre o tempo conforme a disciplina que esteja sendo ministrada. Na Astronomia temos o tempo sob o olhar da Cosmologia; na Biologia temo-lo na apreciação dos ciclos da vida; na Matemática estimam-se os números; na língua portuguesa, a observação dos tempos verbais. A metodologia de ensino da maioria das escolas na atualidade, no entanto, não privilegia a interdisciplinaridade ou a transdisciplinaridade, sobretudo quando das mudanças de uma aula a outra, de uma disciplina a outra, sem que haja nenhum link entre elas, o que provoca uma ruptura abrupta no conteúdo ministrado.
O tempo na escola se assemelha ao da fábrica, onde a execução das tarefas se dá no compasso do relógio, mecanicamente. Sob estas condições, pouco se exige do trabalhador em termos mentais, já que tal forma metódica de trabalhar dispensa, sob certas circunstâncias, algum raciocínio mais apurado. É oportuno então, lembrar as clássicas cenas de Chaplin no filme Tempos Modernos. Assim como na fábrica existe o manual com as instruções de trabalho, na escola existe a cartilha, o livro didático, os horários pré-definidos. Tudo padronizado. Assim, toda a vida escolar fica subordinada aos ditames de um script que deve ser seguido à risca: soa o sinal para o intervalo, segue-se um curto tempo para a descontração, volta-se para as aulas monótonas, até chegar-se ao final de uma árdua jornada de aprendizado; um dia de trabalho bem difícil para os alunos-operários.
A prática educacional contemporânea tem cumprido um papel de exclusão daqueles que não se enquadram na medida de tempo tida como adequada – tempo que está mais para os capitães da indústria do que para os professores – os quais se convertem nos alunos problema, considerados lentos demais se levado em conta o padrão imposto. A escola ocupa-se com a emolduração dos alunos, potenciais futuros empregados, que deverão estar domesticados o suficiente para as necessidades das empresas. Assim a escola desvirtua seu caráter de educar para a prática social, para a cidadania.
Comentários