A importância de ser radical
Por Cléber Sérgio de Seixas
Causa-me espanto a distorção que é feita com o sentido da palavra radical. Geralmente toma-se como radical algo ou alguém afeito a extremismos, inflexível, intransigente, desequilibrado. Não que esta palavra não admita um dos sentidos citados. No entanto, prefiro me concentrar no aspecto positivo do termo e pretendo, nessas breves linhas, livrar o vocábulo radical dos preconceitos a ele associados.
O dicionário Aurélio dá as seguintes definições para a palavra radical:
1. Relativo à raiz.
2. Fundamental, básico, essencial.
3. Que prega o radicalismo ou age com radicalismo, ou que revela radicalismo, inflexibilidade; radicalista.
A primeira definição Aureliana refere-se à relação de radical com raiz. Por ela, conclui-se que radical é aquele ou aquilo que vai na raiz das coisas, que se aprofunda, que busca o fundamento das questões. Para radicalismo o Aurélio apresenta as seguintes definições, dentre outras:
1. Doutrina ou comportamento dos que visam a combater pela raiz as anomalias sociais mediante a implantação de reformas absolutas.
2. p, ext, Qualquer doutrina ou comportamento que, sendo politicamente inflexível, provoca antagonismos.
Iniciarei minha breve argumentação em defesa do radicalismo pela exposição de uma passagem bíblica. Nos evangelhos, Jesus propõe a seus discípulos a parábola do semeador. A parábola fala das diferentes circunstâncias de germinação de sementes que foram semeadas em tipos de solo variados. Gostaria de me ater ao exemplo de dois tipos de sementes que caíram em solos diferentes. Um tipo caiu à beira do caminho, onde as aves vieram a comer. O solo “à beira do caminho” é um chão batido, endurecido pelo pisar, pelo trânsito constante de pessoas e que, portanto, não oferece condições para a penetração da semente, impossibilitando sua germinação. Um outro tipo de semente mencionado na parábola é aquele que foi semeado em solo rochoso. O solo rochoso é aquele no qual a semente encontra uma certa camada de terra, germina, mas, logo em seguida à germinação, a planta acaba encontrando pedras no percurso do crescimento de sua raiz. Como a raiz não terá como aprofundar-se devido às pedras, a planta acaba por secar-se pela incidência dos causticantes raios solares em sua parte superior. Na primeira situação, a semente nem chegou a penetrar no solo. Já na segunda, houve a penetração e germinação, mas o solo, por ser raso e pedregoso, não ofereceu condições para o crescimento e sobrevivência da planta. É necessário à planta aprofundar suas raízes a fim de extrair do solo os nutrientes que lhe fornecerão o suprimento indispensável para resistir às adversidades, bem como para lhe promover o crescimento.
É comum ouvir dizer “fulano é radical demais...”. Mas que demérito há em ser radical, tendo em vista o que foi até agora exposto? Podemos dizer que atualmente há pouca radicalidade nos indivíduos. Poucos são aqueles que se propõem a fincar raízes em algum ponto de vista, atitude, relacionamento amoroso, escolha político-partidária etc. Para os mesmos é melhor ficar na comodidade da superfície, sem assumirem-se partidários absolutos de um determinado ponto de vista, para não correrem o risco da rejeição e estigmatização alheias. Radicalização implica opção por determinada linha de comportamento ou pensamento. Sempre que se opta haverão conseqüências advindas da escolha tomada, cabendo a quem tomou determinada posição a convicção necessária para suportar as opiniões contrárias. Às vezes é premente uma alta dose de coragem para ousar ser autêntico, pois é mais fácil ficar dando voltas em torno de si mesmo a assumir a própria identidade.
No segundo tipo de circunstância apontada pela parábola bíblica do semeador, a semente germina e apresenta certo crescimento, sendo queimada logo em seguida pelos raios solares, dada sua pouca profundidade. A aparência nem sempre quer dizer alguma coisa, assim como a falta dela quer dizer coisa alguma. O fato de serem frondosos o tronco, os galhos, as folhas e flores, não garante a profundidade da raiz nem tampouco a resistência da árvore. Há indivíduos que são assim, muito frondosos na superfície, mas ao mesmo tempo de pouca profundidade. Logo que se lhes chega a luz do sol, esmaecem pela falta de vigor de seus argumentos, ou seja, pela pouca profundidade de suas raízes. Um autor desconhecido certa vez afirmou que “o sol é o melhor desinfetante”. De fato, indivíduos superficiais não resistirão quando suas proposições forem postas a lume. Caso não houver profundidade nas argumentações, o sol queimará toda e qualquer superficialidade.
Além disso os superficiais – doravante considerados como em oposição a radicais - são facilmente tombados pelos ventos representados pelas opiniões de outrem. Ser superficial é “tremer nas bases” quando sua opinião é confrontada com opinião antagônica. Pelo contrário, ser radical é manter-se firme, seguro, não necessariamente intransigente, diante das antíteses que lhe forem apresentadas. É possível ser radical sem no entanto ser intolerante. Um barco sem leme, que é levado para lá e para cá pelo sabor dos ventos, é um exemplo interessante para ilustrar o indivíduo superficial.
Sob o ponto de vista gramatical, radical é a parte invariável da palavra. Por exemplo, na palavra radicalizar temos o radical formado por radical, seguido do sufixo izar. Portanto, radicalizar é o ato de tornar algo radical, assim como radicalismo seria a doutrina ou comportamento típico dos radicais. Comparando as duas definições, temos que o radical deve ser o indivíduo intransigente no que tange à essência de seu pensamento e/ou comportamento, mas que é flexível naquilo que é ou deve ser genérico. Por exemplo, se a violência é algo inaceitável para um determinado indivíduo, por tratar-se de algo que contraria em essência sua formação enquanto ser humano, cabe ao mesmo ser radical em não aceitá-la ou praticá-la, ou seja, não transigir cedendo a práticas violentas. Há indivíduos, no entanto, que não são radicais exatamente por transigirem tanto que chegam a negar suas próprias convicções, tal como o camaleão, que assume as cores e tonalidades do ambiente que o abriga. Indivíduos “camaleonescos” são aqueles para os quais ser ou não ser dependerá do momento e lugar.
O pedagogo Paulo Freire, assumia-se como um radical. Em sua maior obra, Pedagogia do Oprimido, salientava a importância de ser radical, sem, no entanto, ser sectário e afirmava: “A radicalização é sempre criadora, pela criticidade que alimenta”. A radicalização nos impele a um mergulho em determinado assunto, de forma a alcançar-lhe o cerne, desnudando-lhe a essência.
“A radicalização é crítica, por isto libertadora. Libertadora porque, implicando no enraizamento que os homens fazem, na opção que fizeram, os engaja cada vez mais no esforço de transformação da realidade concreta, objetiva”. Esse mergulho na essência aguça a criticidade do radical, conduzindo-o à quebra de paradigmas, à libertação de superstições, preconceitos e sofismas e, por conseguinte, a uma melhor compreensão da realidade na qual está inserido, engajando-o na tarefa de transformá-la.
“O radical, comprometido com a libertação dos homens, não se deixa prender em ‘círculos de segurança’, nos quais aprisione também a realidade. Tão mais radical, quanto mais se inscreva nesta realidade para, conhecendo-a melhor, melhor poder transformá-la”. É mais seguro para o indivíduo superficial permanecer no consensual, no lugar comum, a fim de proteger-se do choque com o diverso. Melhor é “descontingenciar” a realidade para, radicalmente, compreendendo-a, transformá-la.
Em Pedagogia da Esperança, Paulo Freire também fala sobre radicalidade: “superarmos, de um lado, os sectarismos fundados nas verdades universais e únicas; do outro, as acomodações ‘pragmáticas’ aos fatos, como se eles tivessem virado imutáveis, tão ao gosto de posições modernas, os primeiros, e modernistas, as segundas; temos de ser pós-modernamente radicais e utópicos. Progressistas”. No fim dos anos 90, quando da derrocada do comunismo no leste europeu, a palavra de ordem era a que apregoava o “fim da história”, entendido como sinônimo da aceitação do triunfo inexorável da ideologia capitalista neoliberal. Tal idéia foi passada como fatalismo, verdade universal, teologia, como se fosse possível o fim da história mesmo com a existência dos fatores homens e tempo. A história não teve e nunca terá fim, pois é um devir constante. Enquanto o sectarismo conduz à estagnação e acomodação, por estar ancorado em verdades únicas, o pragmatismo propõe uma adaptação aos fatos. Ora, não é o homem que deve render-se à inexorabilidade dos fatos. É comum dizer que no futuro todos os trabalhadores deverão converter-se em empreendedores, ou seja, donos do próprio negócio, já que não haverá emprego para todos. Tal máxima só se coaduna com os interesses das classes dominadoras, que lucram com a permanência das coisas como estão, visto terem sido elas as criadoras das situações desumanizadoras. Se é que deve haver uma adaptação, que seja a dos fatos aos homens, não o contrário. Os fatos é que devem seguir uma dinâmica humanística. Lembrando Marx, “se o homem é formado pelas circunstâncias, é necessário formar as circunstâncias humanamente”. “Deixemos tudo como está para ver como fica”, diriam os acomodados de plantão. Pelo contrário, o destino não está escrito nas estrelas. Não é algo inelutável que as classes oprimidas não possam mudar a seu favor. Estas devem buscar o papel de protagonistas na história, assumindo-se, como disse Freire, pós-modernamente radicais, utópicas e progressistas.
Por falar em utopia, podemos entendê-la, em seu sentido positivo, como um convite ao movimento, ao rompimento da inércia com a qual muitos querem nos domesticar. Eduardo Galeano, jornalista uruguaio, assim ilustrou a questão durante o Fórum Social Mundial realizado em Porto Alegre: "A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar". A utopia é um convite à radicalidade transformadora. Portanto, ser radical é também ser utópico, dinâmico e revolucionário, é sonhar com um futuro mais justo para nós e nossos pares. Sejamos, então, radicais.
Causa-me espanto a distorção que é feita com o sentido da palavra radical. Geralmente toma-se como radical algo ou alguém afeito a extremismos, inflexível, intransigente, desequilibrado. Não que esta palavra não admita um dos sentidos citados. No entanto, prefiro me concentrar no aspecto positivo do termo e pretendo, nessas breves linhas, livrar o vocábulo radical dos preconceitos a ele associados.
O dicionário Aurélio dá as seguintes definições para a palavra radical:
1. Relativo à raiz.
2. Fundamental, básico, essencial.
3. Que prega o radicalismo ou age com radicalismo, ou que revela radicalismo, inflexibilidade; radicalista.
A primeira definição Aureliana refere-se à relação de radical com raiz. Por ela, conclui-se que radical é aquele ou aquilo que vai na raiz das coisas, que se aprofunda, que busca o fundamento das questões. Para radicalismo o Aurélio apresenta as seguintes definições, dentre outras:
1. Doutrina ou comportamento dos que visam a combater pela raiz as anomalias sociais mediante a implantação de reformas absolutas.
2. p, ext, Qualquer doutrina ou comportamento que, sendo politicamente inflexível, provoca antagonismos.
Iniciarei minha breve argumentação em defesa do radicalismo pela exposição de uma passagem bíblica. Nos evangelhos, Jesus propõe a seus discípulos a parábola do semeador. A parábola fala das diferentes circunstâncias de germinação de sementes que foram semeadas em tipos de solo variados. Gostaria de me ater ao exemplo de dois tipos de sementes que caíram em solos diferentes. Um tipo caiu à beira do caminho, onde as aves vieram a comer. O solo “à beira do caminho” é um chão batido, endurecido pelo pisar, pelo trânsito constante de pessoas e que, portanto, não oferece condições para a penetração da semente, impossibilitando sua germinação. Um outro tipo de semente mencionado na parábola é aquele que foi semeado em solo rochoso. O solo rochoso é aquele no qual a semente encontra uma certa camada de terra, germina, mas, logo em seguida à germinação, a planta acaba encontrando pedras no percurso do crescimento de sua raiz. Como a raiz não terá como aprofundar-se devido às pedras, a planta acaba por secar-se pela incidência dos causticantes raios solares em sua parte superior. Na primeira situação, a semente nem chegou a penetrar no solo. Já na segunda, houve a penetração e germinação, mas o solo, por ser raso e pedregoso, não ofereceu condições para o crescimento e sobrevivência da planta. É necessário à planta aprofundar suas raízes a fim de extrair do solo os nutrientes que lhe fornecerão o suprimento indispensável para resistir às adversidades, bem como para lhe promover o crescimento.
É comum ouvir dizer “fulano é radical demais...”. Mas que demérito há em ser radical, tendo em vista o que foi até agora exposto? Podemos dizer que atualmente há pouca radicalidade nos indivíduos. Poucos são aqueles que se propõem a fincar raízes em algum ponto de vista, atitude, relacionamento amoroso, escolha político-partidária etc. Para os mesmos é melhor ficar na comodidade da superfície, sem assumirem-se partidários absolutos de um determinado ponto de vista, para não correrem o risco da rejeição e estigmatização alheias. Radicalização implica opção por determinada linha de comportamento ou pensamento. Sempre que se opta haverão conseqüências advindas da escolha tomada, cabendo a quem tomou determinada posição a convicção necessária para suportar as opiniões contrárias. Às vezes é premente uma alta dose de coragem para ousar ser autêntico, pois é mais fácil ficar dando voltas em torno de si mesmo a assumir a própria identidade.
No segundo tipo de circunstância apontada pela parábola bíblica do semeador, a semente germina e apresenta certo crescimento, sendo queimada logo em seguida pelos raios solares, dada sua pouca profundidade. A aparência nem sempre quer dizer alguma coisa, assim como a falta dela quer dizer coisa alguma. O fato de serem frondosos o tronco, os galhos, as folhas e flores, não garante a profundidade da raiz nem tampouco a resistência da árvore. Há indivíduos que são assim, muito frondosos na superfície, mas ao mesmo tempo de pouca profundidade. Logo que se lhes chega a luz do sol, esmaecem pela falta de vigor de seus argumentos, ou seja, pela pouca profundidade de suas raízes. Um autor desconhecido certa vez afirmou que “o sol é o melhor desinfetante”. De fato, indivíduos superficiais não resistirão quando suas proposições forem postas a lume. Caso não houver profundidade nas argumentações, o sol queimará toda e qualquer superficialidade.
Além disso os superficiais – doravante considerados como em oposição a radicais - são facilmente tombados pelos ventos representados pelas opiniões de outrem. Ser superficial é “tremer nas bases” quando sua opinião é confrontada com opinião antagônica. Pelo contrário, ser radical é manter-se firme, seguro, não necessariamente intransigente, diante das antíteses que lhe forem apresentadas. É possível ser radical sem no entanto ser intolerante. Um barco sem leme, que é levado para lá e para cá pelo sabor dos ventos, é um exemplo interessante para ilustrar o indivíduo superficial.
Sob o ponto de vista gramatical, radical é a parte invariável da palavra. Por exemplo, na palavra radicalizar temos o radical formado por radical, seguido do sufixo izar. Portanto, radicalizar é o ato de tornar algo radical, assim como radicalismo seria a doutrina ou comportamento típico dos radicais. Comparando as duas definições, temos que o radical deve ser o indivíduo intransigente no que tange à essência de seu pensamento e/ou comportamento, mas que é flexível naquilo que é ou deve ser genérico. Por exemplo, se a violência é algo inaceitável para um determinado indivíduo, por tratar-se de algo que contraria em essência sua formação enquanto ser humano, cabe ao mesmo ser radical em não aceitá-la ou praticá-la, ou seja, não transigir cedendo a práticas violentas. Há indivíduos, no entanto, que não são radicais exatamente por transigirem tanto que chegam a negar suas próprias convicções, tal como o camaleão, que assume as cores e tonalidades do ambiente que o abriga. Indivíduos “camaleonescos” são aqueles para os quais ser ou não ser dependerá do momento e lugar.
O pedagogo Paulo Freire, assumia-se como um radical. Em sua maior obra, Pedagogia do Oprimido, salientava a importância de ser radical, sem, no entanto, ser sectário e afirmava: “A radicalização é sempre criadora, pela criticidade que alimenta”. A radicalização nos impele a um mergulho em determinado assunto, de forma a alcançar-lhe o cerne, desnudando-lhe a essência.
“A radicalização é crítica, por isto libertadora. Libertadora porque, implicando no enraizamento que os homens fazem, na opção que fizeram, os engaja cada vez mais no esforço de transformação da realidade concreta, objetiva”. Esse mergulho na essência aguça a criticidade do radical, conduzindo-o à quebra de paradigmas, à libertação de superstições, preconceitos e sofismas e, por conseguinte, a uma melhor compreensão da realidade na qual está inserido, engajando-o na tarefa de transformá-la.
“O radical, comprometido com a libertação dos homens, não se deixa prender em ‘círculos de segurança’, nos quais aprisione também a realidade. Tão mais radical, quanto mais se inscreva nesta realidade para, conhecendo-a melhor, melhor poder transformá-la”. É mais seguro para o indivíduo superficial permanecer no consensual, no lugar comum, a fim de proteger-se do choque com o diverso. Melhor é “descontingenciar” a realidade para, radicalmente, compreendendo-a, transformá-la.
Em Pedagogia da Esperança, Paulo Freire também fala sobre radicalidade: “superarmos, de um lado, os sectarismos fundados nas verdades universais e únicas; do outro, as acomodações ‘pragmáticas’ aos fatos, como se eles tivessem virado imutáveis, tão ao gosto de posições modernas, os primeiros, e modernistas, as segundas; temos de ser pós-modernamente radicais e utópicos. Progressistas”. No fim dos anos 90, quando da derrocada do comunismo no leste europeu, a palavra de ordem era a que apregoava o “fim da história”, entendido como sinônimo da aceitação do triunfo inexorável da ideologia capitalista neoliberal. Tal idéia foi passada como fatalismo, verdade universal, teologia, como se fosse possível o fim da história mesmo com a existência dos fatores homens e tempo. A história não teve e nunca terá fim, pois é um devir constante. Enquanto o sectarismo conduz à estagnação e acomodação, por estar ancorado em verdades únicas, o pragmatismo propõe uma adaptação aos fatos. Ora, não é o homem que deve render-se à inexorabilidade dos fatos. É comum dizer que no futuro todos os trabalhadores deverão converter-se em empreendedores, ou seja, donos do próprio negócio, já que não haverá emprego para todos. Tal máxima só se coaduna com os interesses das classes dominadoras, que lucram com a permanência das coisas como estão, visto terem sido elas as criadoras das situações desumanizadoras. Se é que deve haver uma adaptação, que seja a dos fatos aos homens, não o contrário. Os fatos é que devem seguir uma dinâmica humanística. Lembrando Marx, “se o homem é formado pelas circunstâncias, é necessário formar as circunstâncias humanamente”. “Deixemos tudo como está para ver como fica”, diriam os acomodados de plantão. Pelo contrário, o destino não está escrito nas estrelas. Não é algo inelutável que as classes oprimidas não possam mudar a seu favor. Estas devem buscar o papel de protagonistas na história, assumindo-se, como disse Freire, pós-modernamente radicais, utópicas e progressistas.
Por falar em utopia, podemos entendê-la, em seu sentido positivo, como um convite ao movimento, ao rompimento da inércia com a qual muitos querem nos domesticar. Eduardo Galeano, jornalista uruguaio, assim ilustrou a questão durante o Fórum Social Mundial realizado em Porto Alegre: "A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar". A utopia é um convite à radicalidade transformadora. Portanto, ser radical é também ser utópico, dinâmico e revolucionário, é sonhar com um futuro mais justo para nós e nossos pares. Sejamos, então, radicais.
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