O PRESENTE NA ÓTICA PÓS-MODERNA
Por Cléber Sérgio de Seixas
Alguém já disse que a vida é cinema, não fotografia. A vida, por sua fluidez, mais se assemelha a um rio que um lago, este último entendido como lugar de águas pouco renováveis e acumulador de detritos. Contudo, pretende-se congelar o presente, dissociando-o de passado e futuro. Partindo desse pressuposto, o passado não importaria e o futuro estaria sob a custódia do acaso ou da providência divina. Uma vez perenizado o presente, tudo se justificaria para tornar possível o que é desejável, num perigoso jogo onde os fins validarão os meios. Vive-se então o presente sem se preocupar com suas implicações no futuro. Parafraseando Vinícius de Moraes, o presente deve ser infinito enquanto durar. Sendo assim, seria lícito ao indivíduo agir sem levar em conta as conseqüências de seus atos. Ao adolescente tudo valeria para conseguir aquela mercadoria de grife ou ir àquela festa com os amigos, mesmo que as conseqüências fossem danosas; à jovem mãe justificaria deixar o filho bebê dentro do carro para se divertir no baile funk, apesar dos riscos para a criança; aos menos afortunados valeria a pena viver num barraco meia-água de favela desde que em seu interior houvessem um aparelho de dvd e uma televisão de plasma, mesmo que não houvesse cama para todos os seus habitantes. Como diz minha mãe, “mais vale um gosto do que dois vinténs”.
A vida pós-moderna é como um motor que sempre funciona no giro máximo, mesmo sob o risco de fundir-se. É a cultura onde tudo tem que ser fast (fast food, fast cars), “para ontem”, porque o tempo urge e não deveria ser desperdiçado, pois, como disse o renomado Benjamim Franklin, tempo é dinheiro. Tempus fugit, carpe diem! Vive-se, então, no limite, na tênue linha que separa a vida da morte, e os esportes radicais despontam como ícones deste estilo de vida, pois mais vale a adrenalina e o risco que a insatisfação do desejo não realizado.
Na pós-modernidade ser velho é sinônimo de ser “careta”, anacrônico. A moda, que torna cultura e produtos obsoletos logo que surgem, cumpre bem seu papel de engrenagem que faz girar a roda do consumo. O velho se faz, então, descartável. Os flagelados pela “síndrome de Peter Pan” vêem nas rugas apenas um triste sinal das implacáveis ações do tempo e da força da gravidade que tudo atraem ao pó, não um indício de experiência de vida. Antigos termos são substituídos por eufemismos. Assim, idosos ou velhos se transformam em indivíduos “de terceira idade”, ou "da melhor idade". Vale, portanto, tentar retardar a velhice e manter a beleza via aplicações de botox, cirurgias plásticas, dietas torturantes e mirabolantes etc, mesmo que o espírito esteja vazio e a mente atrofiada. Mas a passagem para a "Terra Do Nunca" é muito cara e poucos ganham o suficiente para custeá-la. Enquanto não inventam o elixir da juventude eterna, restam beleza, jovialidade e saúde como possibilidades para uns poucos abastados, como costuma dizer Frei Betto.
Nosso projeto de vida muitas vezes se apóia em bens finitos, quando deveria apoiar-se na solidez de bens infinitos, tais como a dignidade, a justiça, a paz e a ética. Centrado na finitude dos bens materiais, o desejo jamais encontrará satisfação, visto que é infinito. A cultura pós-moderna valoriza mais o ter que o ser. “Dize-me o quanto consomes e eu te direi o quanto vales”. Nossas prisões estão cheias de pessoas que cometeram delitos para adquirir objetos que os salvariam da invisibilidade social, do anonimato das multidões, tal como o rapaz que é preso por roubar um tênis de marca consagrada, ou aquele que rouba um carro só para dar um “rolé”.
O congelamento de uma situação vigente conduz ao fatalismo. Francis Fukuyama, em seu livro O Fim da História e o Último Homem apregoa que estamos vivendo o ocaso da história, isto é, a derrocada de todas as ideologias frente ao neoliberalismo. Tal fatalismo nos levaria à aceitação das situações opressoras do mundo em que vivemos, como, por exemplo, a desigual divisão internacional do trabalho, divisão esta muito parecida com a divisão de funções entre o cavalo e o cavaleiro. Contudo, não se pode congelar o presente, assim como não se pode falar em “fim da história” enquanto existirem homens, tempo e mundo, ou seja, enquanto existirem possibilidades a serem conhecidas e exploradas pelos homens. O cenário que se descortina diante dos nossos olhos não pode ser encarado como inevitável e inelutável. Resgatemos, portanto, a utopia, o sonho, a indignação, deixando o pessimismo para dias melhores, pois os atuais, não nos convidam à resignação.
Alguém já disse que a vida é cinema, não fotografia. A vida, por sua fluidez, mais se assemelha a um rio que um lago, este último entendido como lugar de águas pouco renováveis e acumulador de detritos. Contudo, pretende-se congelar o presente, dissociando-o de passado e futuro. Partindo desse pressuposto, o passado não importaria e o futuro estaria sob a custódia do acaso ou da providência divina. Uma vez perenizado o presente, tudo se justificaria para tornar possível o que é desejável, num perigoso jogo onde os fins validarão os meios. Vive-se então o presente sem se preocupar com suas implicações no futuro. Parafraseando Vinícius de Moraes, o presente deve ser infinito enquanto durar. Sendo assim, seria lícito ao indivíduo agir sem levar em conta as conseqüências de seus atos. Ao adolescente tudo valeria para conseguir aquela mercadoria de grife ou ir àquela festa com os amigos, mesmo que as conseqüências fossem danosas; à jovem mãe justificaria deixar o filho bebê dentro do carro para se divertir no baile funk, apesar dos riscos para a criança; aos menos afortunados valeria a pena viver num barraco meia-água de favela desde que em seu interior houvessem um aparelho de dvd e uma televisão de plasma, mesmo que não houvesse cama para todos os seus habitantes. Como diz minha mãe, “mais vale um gosto do que dois vinténs”.
A vida pós-moderna é como um motor que sempre funciona no giro máximo, mesmo sob o risco de fundir-se. É a cultura onde tudo tem que ser fast (fast food, fast cars), “para ontem”, porque o tempo urge e não deveria ser desperdiçado, pois, como disse o renomado Benjamim Franklin, tempo é dinheiro. Tempus fugit, carpe diem! Vive-se, então, no limite, na tênue linha que separa a vida da morte, e os esportes radicais despontam como ícones deste estilo de vida, pois mais vale a adrenalina e o risco que a insatisfação do desejo não realizado.
Na pós-modernidade ser velho é sinônimo de ser “careta”, anacrônico. A moda, que torna cultura e produtos obsoletos logo que surgem, cumpre bem seu papel de engrenagem que faz girar a roda do consumo. O velho se faz, então, descartável. Os flagelados pela “síndrome de Peter Pan” vêem nas rugas apenas um triste sinal das implacáveis ações do tempo e da força da gravidade que tudo atraem ao pó, não um indício de experiência de vida. Antigos termos são substituídos por eufemismos. Assim, idosos ou velhos se transformam em indivíduos “de terceira idade”, ou "da melhor idade". Vale, portanto, tentar retardar a velhice e manter a beleza via aplicações de botox, cirurgias plásticas, dietas torturantes e mirabolantes etc, mesmo que o espírito esteja vazio e a mente atrofiada. Mas a passagem para a "Terra Do Nunca" é muito cara e poucos ganham o suficiente para custeá-la. Enquanto não inventam o elixir da juventude eterna, restam beleza, jovialidade e saúde como possibilidades para uns poucos abastados, como costuma dizer Frei Betto.
Nosso projeto de vida muitas vezes se apóia em bens finitos, quando deveria apoiar-se na solidez de bens infinitos, tais como a dignidade, a justiça, a paz e a ética. Centrado na finitude dos bens materiais, o desejo jamais encontrará satisfação, visto que é infinito. A cultura pós-moderna valoriza mais o ter que o ser. “Dize-me o quanto consomes e eu te direi o quanto vales”. Nossas prisões estão cheias de pessoas que cometeram delitos para adquirir objetos que os salvariam da invisibilidade social, do anonimato das multidões, tal como o rapaz que é preso por roubar um tênis de marca consagrada, ou aquele que rouba um carro só para dar um “rolé”.
O congelamento de uma situação vigente conduz ao fatalismo. Francis Fukuyama, em seu livro O Fim da História e o Último Homem apregoa que estamos vivendo o ocaso da história, isto é, a derrocada de todas as ideologias frente ao neoliberalismo. Tal fatalismo nos levaria à aceitação das situações opressoras do mundo em que vivemos, como, por exemplo, a desigual divisão internacional do trabalho, divisão esta muito parecida com a divisão de funções entre o cavalo e o cavaleiro. Contudo, não se pode congelar o presente, assim como não se pode falar em “fim da história” enquanto existirem homens, tempo e mundo, ou seja, enquanto existirem possibilidades a serem conhecidas e exploradas pelos homens. O cenário que se descortina diante dos nossos olhos não pode ser encarado como inevitável e inelutável. Resgatemos, portanto, a utopia, o sonho, a indignação, deixando o pessimismo para dias melhores, pois os atuais, não nos convidam à resignação.
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