PRECONCEITO, E MAIS PRECONCEITO



Por Luiz Carlos Azenha

Algumas pessoas fogem deste assunto por puro preconceito. A disputa entre uma universidade (UNIBAN) e uma aluna (Geyse) seria coisa de gente rampeira, do lumpen intelectual que toma conta do Brasil (Bonner, Tas e Huck, como escrevi em outro post).

Vi no You Tube uma entrevista da moça, as cenas do linchamento moral a que ela foi submetida e o famoso vestido. Ontem mesmo vi uma senhora em um restaurante chique de São Paulo com um vestido mais curto. No trabalho, também. Deveria ser diferente em uma universidade?

Alguns tentam tornar a moça uma heroína, um símbolo tardio do feminismo e coisas do gênero. Não estranharei se ela, cedendo às tentações de nosso tempo, posar nua para alguma revista masculina. Não é assim que acabam todas as polêmicas no Brasil?

É curioso notar, igualmente, que pessoas combatem a canalhice dos estudantes da UNIBAN com outros preconceitos, como batizar a universidade de Unibambi ou coisa parecida.

A desqualificação alheia com o uso de preconceitos de classe, de gênero e outros foi incorporada ao discurso público no Brasil. Não é por acaso que Lula é "o analfabeto" ou "o defeituoso de quatro dedos" na visão de certas pessoas, algumas das quais de alta qualificação profissional, currículo vistoso ou títulos de doutor.

É evidente o saudosismo de alguns dos tempos em que os bens públicos -- saúde, educação, cultura -- eram exclusividade de poucos. As críticas à ampliação da sociedade de consumo contém, muitas vezes, uma pitada de preconceito de classe. Elas refletem o horror com a invasão de círculos antes exclusivos por essa "gentinha" -- pobres, pretos e p.....

Há alguns dias, em um clube decadente de São Paulo, ouvi de um sócio que a decadência se devia "à invasão dessa macacada".

A internet abriu espaço para a ascensão à categoria de formadores de opinião de centenas de milhares de brasileiros. Acontecimentos como o da estudante Geyse atropelam a pauta da mídia. Ganham repercussão via You Tube e sites de relacionamento. Só depois vão parar nos jornais. Mas a ampliação do número de debatedores não significa necessariamente que o debate se torne mais qualificado.

Há uma tendência à fulanização do debate. Exemplo? Há gente que defende a Uniban dizendo "não gostou, então leve a Geyse para casa". Há gente que ataca a Uniban falando em Unitalibã.

Assim, os princípios em jogo nesse debate acabam se perdendo. A Uniban tem o direito de "legislar" sobre a vestimenta dos alunos? A Uniban tem o direito de punir a vítima? Que tipo de universidade é essa que endossa um linchamento físico e moral? É um caso isolado ou existem outras? Como é que essas universidades se sustentam? Há dinheiro público envolvido na manutenção delas (ou seja, eu e você ajudamos a pagar por elas)? Deveríamos nós, via ProUni, sustentar esse tipo de ensino universitário? Se não, o ProUni deveria adotar condicionalidades além da renda do beneficiado? Quais as condicionalidades? Estou certo que cada um de vocês tem uma dúzia de perguntas pertinentes sobre o caso.

É preciso ir além, portanto, da fofoca. Só assim, acredito eu, o debate sobre um caso isolado pode servir à sociedade como um todo. Não sendo assim, seria melhor deixar Geyse e a Uniban para o trio Bonner, Tas e Huck. Até o próximo escândalo.

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