Mujica é eleito no 2º turno
Reportagem de Silvio Queiroz
O candidato de esquerda do Uruguai, o ex-guerrilheiro José Mujica, de 74 anos, foi o grande vencedor do segundo turno das eleições uruguais, segundo projeção feita em cima de contagens parciais da consultora Factum. O candidato opositor, Luis Alberto Lacalle, admitiu a derrota ainda na noite de ontem. De acordo com a pesquisa, Mujica teria obtido 51,2% dos votos, contra 44,9% de seu adversário.
Mujica passou a tarde em um hotel no Centro da capital, preparado para se pronunciar assim que os números permitissem. Amplo favorito para derrotar o ex-presidente liberal Luis Lacalle, o candidato esquerdista chegou a declarar ironicamente, após depositar seu voto na urna, que o pleito estava "tão emocionante quanto dançar com a irmã".
Os locais de votação abriram as portas às 8h, e a única preocupação das autoridades era a previsão de fortes chuvas, o que, segundo o ministro da Corte Eleitoral, Edgardo Martínez Zimarioff, fez com que algumas seções em zonas rurais, afetadas por inundações, abrissem um pouco mais tarde. Também chamou a atenção a constatação de que a lei seca, da mesma maneira como ocorre no Brasil, foi solenemente ignorada.
Embalado pela vantagem, Mujica já pensava na composição do governo e fazia acenos à oposição, embora seu partido tenha maioria absoluta em ambas as Casas do Congresso. Além de garantir que seu companheiro de chapa, Danilo Astori, se encarregue da gestão econômica, Mujica se mostrou disposto a negociar sobre alguns temas – educação, segurança, energia e meio ambiente – e até abriu a possibilidade de nomear opositores para alguns ministérios. "Ter votos a mais não significa que sejamos donos da sociedade, muito menos que nossa verdade seja imaculada", declarou.
A realização das eleições em Honduras, sem que o presidente deposto, Manuel Zelaya, tenha sido restituído ao cargo, colocará o governo brasileiro diante de uma discussão delicada: como levar adiante a promessa de não reconhecer o novo presidente, especialmente se o comparecimento às urnas for significativo. O Itamaraty já deixou claro que reconhecer as eleições hondurenhas é uma atitude inadmissível, pois seria o mesmo que aceitar o golpe.
Na prática, se o Brasil mantiver essa postura, as relações diplomáticas entre os dois países ficarão congeladas. Além disso, a embaixada brasileira em Tegucigalpa será fechada e os acordos firmados serão suspensos. Segundo um diplomata brasileiro, que comentou a situação sob a condição de anonimato, ainda existem implicações políticas. Oficialmente, o Itamaraty diz não ter um plano B para a situação. "Não antecipamos cenários. As avaliações têm sido feitas com base em fatos concretos. E ainda há muito o que ocorrer nos próximos dias."
Na quinta-feira, a Suprema Corte de Justiça de Honduras deu seu parecer sobre o retorno do presidente deposto ao cargo. Esse foi o grande entrave para que se alcançasse um acordo entre ele e o governo interino de Honduras, liderado por Roberto Micheletti. A Corte aconselhou os parlamentares a rechaçarem a restituição do mandatário eleito. A polêmica questão será tratada na quarta-feira pelo Congresso. Por sua vez, Micheletti se afastou do cargo provisoriamente, em uma tentativa de tornar o clima eleitoral menos tenso. Seu retorno depende agora do Congresso e pode ser decidido no dia 2.
A principal preocupação do governo brasileiro é com o recado que será dado aos países da região. "Nossa preocupação é que introduzam a tese do golpe preventivo na América Latina", disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na avaliação do Itamaraty, a região tem um histórico de instabilidade política e que é preciso "combater qualquer estímulo nesse sentido". O assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, diz que o novo regime não deve ser aceito e que a "tendência é Honduras ser expulsa da Organização dos Estados Americanos (OEA)". No dia 4, os 24 países-membros da OEA se reúnem para avaliar as eleições em Honduras e, possivelmente, o futuro do país na organização.
Choques entre manifestantes e a polícia deixaram vários feridos na cidade de San Pedro Sula, cidade localizada no Norte de Honduras. Foi um dos poucos episódios de violência. De acordo com rádios locais, cerca de 1 mil manifestantes estavam reunidos no Centro da cidade para protestar contra as eleições, quando a polícia decidiu intervir. Até o fechamento desta edição, o número exato de feridos não havia sido divulgado.
Fonte: Jornal Estado de Minas - 30/11/2009
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