HONDURAS E O FUTURO DA AMÉRICA LATINA
Por Cléber Sérgio de Seixas
A vitória de um candidato socialista no Uruguai acrescenta mais um elo à cadeia esquerdista que tem se formado nesse continente, ao mesmo tempo em que uma eleição de caráter duvidoso, realizada sob o ambiente de um golpe de estado, lança sombras sobre o futuro latino-americano.
O impasse que tem sido observado em Honduras está distante de um desfecho popularmente satisfatório. É sintomático que a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a União Européia não tenham enviado observadores para monitorar a lisura do pleito hondurenho. Será que havia o temor por parte de tais entidades internacionais de se defrontarem com alguma irregularidade que deveriam condenar e dar publicidade?
Apesar de o processo eleitoral ter sido acompanhado por 445 observadores de 31 países, existem fortes indícios de manipulação por parte do TSE hondurenho, que afirma que mais de 61% de votantes se fizeram presentes, o que legitimaria a eleição, quando se sabe que, na verdade, uma maioria contrária ao regime golpista boicotou a eleição, permanecendo em casa com medo de represálias, o que explicaria o baixo índice de violência e confrontos de rua na data do pleito. Zelaya não aceita ser reconduzido ao cargo para repassar o poder a um candidato eleito sob tais circunstâncias. Lula, Daniel Ortega e Zapatero não aceitam, por enquanto, o resultado de uma eleição realizada sob golpe.
É importante sublinhar que o golpe de estado em Honduras ocorre num cenário em que governantes latino-americanos como Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa recorrem constantemente a expedientes constitucionais tais como referendos para dar à democracia a acepção mais pura da palavra. Em outras palavras, o golpe que apeou Zelaya do poder é na verdade uma forma de evitar que o mesmo levasse a cabo naquele país da América Central o mesmo que os supracitados chefes de estado já fizeram em suas nações.
O mais interessante é que Zelaya não era pertencente a um partido de esquerda, e sim ao Partido Liberal (PL), de direita. A ira interna e, ao que tudo indica, externa, se abateu sobre Zelaya a partir do momento em que ele se aproxima do governo venezuelano para negociar questões relativas a petróleo e quando concede um aumento expressivo de salário mínimo. É sabido por todos que Honduras é, literalmente, uma republiqueta das bananas, tendo seu mercado exportador de frutas majoritariamente voltado para os EUA. Assim sendo, um aumento no salário representaria produtos vendidos a preços mais elevados aos clientes norte-americanos.
Para os conhecedores da história da América Latina, a crise hondurenha é um retrocesso sob o ponto de vista da democracia no continente latino-americano, bem como um claro sinal do reagrupamento das forças anti-democráticas capitaneadas pela nação do Tio Sam, que só aceita a democracia em seu território. O precedente do golpe hondurenho traz preocupações a todos aqueles que já viveram sob as botas de regimes ditatoriais na América Latina.
Grande parte da imprensa nacional e internacional preparou terreno para que a opinião pública se satisfizesse com a tese do “golpe preventivo”. Pseudo-intelectuais e “especialistas”, aqui e acolá, surgiram para corroborar a tese de que o que ocorreu em Honduras não foi um golpe de estado. Neologismos foram criados e um governo golpista foi transformado em “de fato” ou “interino”. O problema é que tal tipo de expediente pode se repetir sempre que algum governante das terras ao sul do Rio Bravo tente implantar em seu país alguma medida de cunho popular e reestruturante. Em entrevista, Lula afirmou que "nossa preocupação é que introduzam a tese do golpe preventivo na América Latina".
No fim de sua magistral obra As Veias Abertas da América Latina, o brilhante Eduardo Galeano cita uma frase de Simon Bolívar: “Nunca seremos afortunados, nunca!”. O grande libertador morreu derrotado e nunca viu concretizar seu sonho de uma Gran Colombia, ou seja, um continente unido econômica, social e culturalmente. Terá sido profética a afirmação de Bolívar de que nunca seremos aventurados?
Num momento em que o continente abre-se para a proposta da ALBA, forças não tão ocultas se movem para ofuscar o horizonte que se descortina. Cabe a nós, latino-americanos, estarmos alertas e de olhos bem abertos.
O impasse que tem sido observado em Honduras está distante de um desfecho popularmente satisfatório. É sintomático que a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a União Européia não tenham enviado observadores para monitorar a lisura do pleito hondurenho. Será que havia o temor por parte de tais entidades internacionais de se defrontarem com alguma irregularidade que deveriam condenar e dar publicidade?
Apesar de o processo eleitoral ter sido acompanhado por 445 observadores de 31 países, existem fortes indícios de manipulação por parte do TSE hondurenho, que afirma que mais de 61% de votantes se fizeram presentes, o que legitimaria a eleição, quando se sabe que, na verdade, uma maioria contrária ao regime golpista boicotou a eleição, permanecendo em casa com medo de represálias, o que explicaria o baixo índice de violência e confrontos de rua na data do pleito. Zelaya não aceita ser reconduzido ao cargo para repassar o poder a um candidato eleito sob tais circunstâncias. Lula, Daniel Ortega e Zapatero não aceitam, por enquanto, o resultado de uma eleição realizada sob golpe.
É importante sublinhar que o golpe de estado em Honduras ocorre num cenário em que governantes latino-americanos como Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa recorrem constantemente a expedientes constitucionais tais como referendos para dar à democracia a acepção mais pura da palavra. Em outras palavras, o golpe que apeou Zelaya do poder é na verdade uma forma de evitar que o mesmo levasse a cabo naquele país da América Central o mesmo que os supracitados chefes de estado já fizeram em suas nações.
O mais interessante é que Zelaya não era pertencente a um partido de esquerda, e sim ao Partido Liberal (PL), de direita. A ira interna e, ao que tudo indica, externa, se abateu sobre Zelaya a partir do momento em que ele se aproxima do governo venezuelano para negociar questões relativas a petróleo e quando concede um aumento expressivo de salário mínimo. É sabido por todos que Honduras é, literalmente, uma republiqueta das bananas, tendo seu mercado exportador de frutas majoritariamente voltado para os EUA. Assim sendo, um aumento no salário representaria produtos vendidos a preços mais elevados aos clientes norte-americanos.
Para os conhecedores da história da América Latina, a crise hondurenha é um retrocesso sob o ponto de vista da democracia no continente latino-americano, bem como um claro sinal do reagrupamento das forças anti-democráticas capitaneadas pela nação do Tio Sam, que só aceita a democracia em seu território. O precedente do golpe hondurenho traz preocupações a todos aqueles que já viveram sob as botas de regimes ditatoriais na América Latina.
Grande parte da imprensa nacional e internacional preparou terreno para que a opinião pública se satisfizesse com a tese do “golpe preventivo”. Pseudo-intelectuais e “especialistas”, aqui e acolá, surgiram para corroborar a tese de que o que ocorreu em Honduras não foi um golpe de estado. Neologismos foram criados e um governo golpista foi transformado em “de fato” ou “interino”. O problema é que tal tipo de expediente pode se repetir sempre que algum governante das terras ao sul do Rio Bravo tente implantar em seu país alguma medida de cunho popular e reestruturante. Em entrevista, Lula afirmou que "nossa preocupação é que introduzam a tese do golpe preventivo na América Latina".
No fim de sua magistral obra As Veias Abertas da América Latina, o brilhante Eduardo Galeano cita uma frase de Simon Bolívar: “Nunca seremos afortunados, nunca!”. O grande libertador morreu derrotado e nunca viu concretizar seu sonho de uma Gran Colombia, ou seja, um continente unido econômica, social e culturalmente. Terá sido profética a afirmação de Bolívar de que nunca seremos aventurados?
Num momento em que o continente abre-se para a proposta da ALBA, forças não tão ocultas se movem para ofuscar o horizonte que se descortina. Cabe a nós, latino-americanos, estarmos alertas e de olhos bem abertos.
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