Eleições 1989 - 20 anos depois
Por Cléber Sérgio de Seixas
Nesse dia 15 de novembro convém lembrar que há exatamente 20 anos nós, brasileiros, voltávamos às urnas para eleger um presidente da república. Naquele ano de 1989, havia 29 anos que não votávamos para presidente, impedidos que estávamos por uma ditadura que calcou a democracia sob suas botas.
A nação verde e amarela e o mundo viviam tempos de mudança. No Brasil, tínhamos recém-saído de uma longa noite sob as rédeas dos militares, havíamos sido derrotados na campanha das Diretas Já, padecíamos de inflação de quase 1000% ao ano. O mundo havia assistido à queda do Muro de Berlim, o que alguns consideravam como a última pá de cal sobre o socialismo. Intelectuais se apressavam em decretar o “fim da História” e apregoar a vitória do ideário capitalista. Os arautos do neoliberalismo cantavam odes à unipolarização do mundo, que doravante ficaria sob a égide dos EUA. Em meio a este cenário, as propostas de partidos e candidatos de esquerda em todo o mundo eram ridicularizadas e consideradas ultrapassadas pela História.
No Brasil, há muito não se via tantos políticos notórios em disputa: Mário Covas, Ulisses Guimarães, Aureliano Chaves, Guilherme Afif Domingos, Leonel Brizola, Paulo Maluf, Roberto Freire, Lula. Sem uma definição no primeiro turno, o resultado das eleições fora adiado para o segundo turno, cuja data havia sido marcada para 17 de dezembro.
A disputa ficara polarizada entre um candidato que representava as elites e os interesses da mídia, e outro, que vinha dos movimentos de base, do operariado e das lutas sindicais. De um lado Collor, auto-proclamado “caçador de marajás”, eleito pela mídia como o mais preparado, jovem e belo. De outro, Lula, ex-deputado federal, de aparência sisuda, proferindo um discurso que não agradava à mida nem ao empresariado. Lembro-me, como se fosse hoje, das várias aparições de Collor em programas de televisão onde ele abusava de frases de efeito cujos conteúdos sempre faziam alusão ao combate à corrupção e à moralização na esfera política nacional. A mídia incensou-o até ao fim, tendo sido a apoteose deste apoio o famoso debate promovido pela Rede Globo, quando uma edição criminosa conduziu o “caçador de marajás” de Alagoas à vitória naquele pleito – tal episódio é apenas um dos vários que comprovam a trajetória criminosa das organizações dos Marinho. Contribuiu também para a derrota de Lula a veiculação na campanha de Collor do depoimento de Miriam Cordeiro, com quem Lula tinha tido um filho.
Eleito, Collor, o mais jovem a assumir a presidência da república, confiscaria a poupança dos brasileiros e iniciaria um governo marcado pela mudança constante de ministros e desastres na política econômica, em meio a passeios de jet-ski, vôos de supersônico e corridas de domingo cobertas pela mídia, nas quais sempre vestia camisetas estampadas com suas idéias. Não demorou e uma luta fratricida deu início ao fim do alagoano que dizia que tinha “aquilo roxo”. Em 2 de outubro de 1992, Collor era afastado por impeachment, após um longo processo no qual denúncias de corrupção vieram à tona. Seu vice, Itamar Franco, assumiria a presidência. Dois anos depois, o tesoureiro da campanha de Collor, Paulo César Farias, pivô do escândalo, seria encontrado morto numa casa situada no litoral alagoano - um caso que até hoje deixa dúvidas se foi um crime passional ou uma queima de arquivo.
A nação verde e amarela e o mundo viviam tempos de mudança. No Brasil, tínhamos recém-saído de uma longa noite sob as rédeas dos militares, havíamos sido derrotados na campanha das Diretas Já, padecíamos de inflação de quase 1000% ao ano. O mundo havia assistido à queda do Muro de Berlim, o que alguns consideravam como a última pá de cal sobre o socialismo. Intelectuais se apressavam em decretar o “fim da História” e apregoar a vitória do ideário capitalista. Os arautos do neoliberalismo cantavam odes à unipolarização do mundo, que doravante ficaria sob a égide dos EUA. Em meio a este cenário, as propostas de partidos e candidatos de esquerda em todo o mundo eram ridicularizadas e consideradas ultrapassadas pela História.
No Brasil, há muito não se via tantos políticos notórios em disputa: Mário Covas, Ulisses Guimarães, Aureliano Chaves, Guilherme Afif Domingos, Leonel Brizola, Paulo Maluf, Roberto Freire, Lula. Sem uma definição no primeiro turno, o resultado das eleições fora adiado para o segundo turno, cuja data havia sido marcada para 17 de dezembro.
A disputa ficara polarizada entre um candidato que representava as elites e os interesses da mídia, e outro, que vinha dos movimentos de base, do operariado e das lutas sindicais. De um lado Collor, auto-proclamado “caçador de marajás”, eleito pela mídia como o mais preparado, jovem e belo. De outro, Lula, ex-deputado federal, de aparência sisuda, proferindo um discurso que não agradava à mida nem ao empresariado. Lembro-me, como se fosse hoje, das várias aparições de Collor em programas de televisão onde ele abusava de frases de efeito cujos conteúdos sempre faziam alusão ao combate à corrupção e à moralização na esfera política nacional. A mídia incensou-o até ao fim, tendo sido a apoteose deste apoio o famoso debate promovido pela Rede Globo, quando uma edição criminosa conduziu o “caçador de marajás” de Alagoas à vitória naquele pleito – tal episódio é apenas um dos vários que comprovam a trajetória criminosa das organizações dos Marinho. Contribuiu também para a derrota de Lula a veiculação na campanha de Collor do depoimento de Miriam Cordeiro, com quem Lula tinha tido um filho.
Eleito, Collor, o mais jovem a assumir a presidência da república, confiscaria a poupança dos brasileiros e iniciaria um governo marcado pela mudança constante de ministros e desastres na política econômica, em meio a passeios de jet-ski, vôos de supersônico e corridas de domingo cobertas pela mídia, nas quais sempre vestia camisetas estampadas com suas idéias. Não demorou e uma luta fratricida deu início ao fim do alagoano que dizia que tinha “aquilo roxo”. Em 2 de outubro de 1992, Collor era afastado por impeachment, após um longo processo no qual denúncias de corrupção vieram à tona. Seu vice, Itamar Franco, assumiria a presidência. Dois anos depois, o tesoureiro da campanha de Collor, Paulo César Farias, pivô do escândalo, seria encontrado morto numa casa situada no litoral alagoano - um caso que até hoje deixa dúvidas se foi um crime passional ou uma queima de arquivo.
Há 20 anos pagamos caro por termos votado em um indivíduo e não num projeto. Demos ouvidos ao canto de sereia da mídia e elegemos um candidato que inseriu o país no contexto dos ditames do Consenso de Washington, iniciando um processo de privatizações, austeridade fiscal, invasão do capital estrangeiro e demonização dos movimentos populares, processo este que Fernando Henrique Cardoso daria seqüência.
De lá para cá houve quatro eleições para presidente. Amadurecemos muito nosso voto, contudo, ainda nos falta consciência para votar, visto que ainda votamos em indivíduos e não em propostas políticas.
No próximo ano iremos de novo às urnas para escolher o trigésimo sexto presidente do Brasil. Nos defrontaremos, novamente, com o dilema de votarmos sob perspectivas personalistas ou então visando um projeto de governo para o desenvolvimento do Brasil. Estejamos preparados, pois as investidas da mídia já despontam no horizonte de forma feroz, tentando nos induzir a votar conforme as preferências de uma elite que sempre se mostrou avessa aos interesses da grande maioria dos brasileiros.
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