O FACTÓIDE DO APAGÃO

Por Cléber Sérgio de Seixas

A mídia de forma desavergonhada resolveu classificar o blecaute ocorrido na noite do dia 10 passado como “apagão”. O termo “apagão” ganhou notoriedade e caiu na boca do povo durante o último governo de Fernando Henrique Cardoso, quando ocorreu um racionamento de energia. Nessa época, os brasileiros foram incentivados a poupar energia para que fosse evitado um colapso no sistema de distribuição, devido ao baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas e dos também baixos investimentos do governo no setor naquele momento. Porém, comparar o “apagão” de FHC com o blecaute que durou umas cinco horas em algumas regiões do país é, para dizer o mínimo, desonestidade intelectual. Uma das diferenças cruciais entre um e outro é que a falta de energia nos tempos de FHC se deu em decorrência de problemas na geração, enquanto que o desabasteciamento energético ocorrido anteontem, ao que tudo indica, foi devido a problemas na transmissão. Em outras palavras, não há nenhuma crise energética no Brasil, tal como ocorreu no governo do sociólogo dos príncipes.


Costumo comentar com minha esposa que, doravante até às eleições presidenciais do ano que vem, a campanha do PIG (Partido da Imprensa Golpista) contra o governo Lula e, consequentemente, contra sua afilhada política Dilma Roussef, vai se intensificar cada vez mais até chegar a um nível explícito em que não sobrarão dúvidas de que o objetivo do quarto poder é impedir que o presidente operário eleja um(a) sucessor(a). Pode-se esperar de tudo por parte da oposição e de seu tentáculo midiático em 2010.

O Jornal da Band do dia 11 de novembro dedicou seus 30 minutos para abordar de todas as perspectivas possíveis o assim chamado apagão. Sempre que possível, os âncoras Ricardo Boechat e Joelmir Beting aproveitavam para alfinetar o governo federal, responsabilizadando-o pela pane elétrica. Já o Jornal da Record foi mais sutil na abordagem, não sem um certo ar tendencioso a denegrir a imagem do governo.

O jornal Estado de Minas de 12 de novembro dedica um especial de várias reportagens ao blecaute e faz a seguinte chamada em sua capa: “E o Brasil apagou...”. Numa das matérias, assinada por Marcílio de Morais, há o seguinte trecho:

“O incidente que ocorreu nas linhas de transmissão de energia elétrica no Paraná e em São Paulo, desligando a usina hidrelétrica de Itaipu na noite de terça-feira e afetando o abastecimento de eletricidade em 18 estados brasileiros, provocou um curto-circuito político entre o governo e oposição ontem. Antes mesmo de serem esclarecidas as causas do blecaute, a oposição partiu para o ataque à ministra da Casa Civil e pré-candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, atribuindo a ela a responsabilidade pelo apagão por ela ter sido ministra das Minas e Energia, ainda que tenha deixado o cargo em 2005”.


Acuada pela popularidade de Lula, que pode transferir votos para Dilma, bem como pelas conquistas que ele recentemente obteve para o Brasil (por exemplo, a descoberta das camadas petrolíferas do pré-sal, o despontar do Brasil no cenário político e econômico internacional, a Copa do Mundo em 2014 e as olimpíadas no Rio em 2016), a oposição continuará a valer-se, via mídia, da distribuição de factóides com o intuito de desestabilizar o governo e, por extensão, denegrir a imagem de Dilma. Em outro trecho a matéria diz o seguinte:

“O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), apresentou um pedido na Comissão de Infraestrutura para realização de audiência pública com a presença do ministro Lobão e da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, para que prestem esclarecimentos sobre o apagão. Ele lembrou que ainda há duas semanas a ministra-chefe da Casa Civil garantiu que o Brasil estava a salvo de novo apagão elétrico”.

Note que os tucanos, que não propuseram até agora nenhum projeto político para o Brasil, tentam, novamente, desgastar Dilma levando-a a mais uma audiência, não bastasse o caso Lina Vieira. Na mesma matéria, o partido democrata – mais conhecido como partido do DEMO -  foi mais incisivo e adiantou para que veio, tocando direto na ferida:

“O líder do DEM na Câmara, Ronaldo Caiado (GO), relacionou o blecaute diretamente a Dilma Rousseff, ex-ministra de Minas e Energia. ‘Faltou investimento. O modelo implantado por Dilma expulsou os investidores e o governo não investiu, provocando o colapso’, disse”.

Sempre comparo a situação do Brasil sob Lula à do Chile sob Allende no início dos anos 70. Sabe-se, hoje, que a oposição interna e a externa ao governo socialista de Salvador Allender tentou desestabilizar seu governo de várias formas, da paralização do sistema de transportes (financiada pela CIA) até ao golpe de misericórdia que consistiu em bombardear o palácio de governo. Nesse ínterim, o uso de sabotagens a linhas de transmissão elétrica, por exemplo, foi um dos expedientes utilizados pelos adversários do governo da Unidade Popular.

Como disse certa vez Eduardo Galeano, a história é um profeta com o olhar voltado para trás para anunciar o que será. Á luz da frase deste grande jornalista uruguaio, afirmo que  pode-se esperar de tudo e um pouco mais no ano que vem no que tange a ataques da imprensa contra o governo. Factóides mais factóides surgirão com o intuito de “queimar o filme” do governo Lula. Se os factóides não surtirem efeito, outros tipos de sabotagem poderão ser utilizados. Pergunto ao leitor: não é muita coicidência que, num momento em que o ENEM tentava aumentar sua abrangência para abarcar também os vestibulares das universidades federais, tenha ocorrido um “vazamento” das provas? Da mesma forma, não é também uma coincidência que, logo agora que Dilma subiu 4 pontos nas pesquisas e Serra caiu também 4 pontos- ou “de quatro”, como queiram - aconteça um incidente energético que passa imediatamente a ser utilizado como fato político?

Não costumo dar ouvidos a teorias da conspiração, mas é bom ficar precavido pois sabotagens já ocorreram aqui e acolá e podem muito bem se repetir.

Comentários