Vítima de Pinochet, cantor Victor Jara terá corpo exumado
Depois de sofrer espancamento e tortura, Jara tombou crivado de 44 balas em 15 de setembro de 1973, poucos dias após o golpe de Estado do general Augusto Pinochet. Sua morte ocorreu no Estádio do Chile, em Santiago, que depois do golpe militar foi usado como centro de detenção e tortura. Os restos mortais do cantor — cujo assassinato se converteu em um dos símbolos contra a ditadura pinochetista (1973-1990) — estão no Cemitério Geral de Santiago.
Ao que tudo indica, o Chile está numa cruzada para reparar a verdade e denunciar as atrocidades contra Jara. Há uma semana, o ex-militar José Adolfo Paredes, de 54 anos, foi acusado formalmente pela Justiça chilena pela morte do cantor. Paredes responderá a processo por homicídio qualificado.
A prisão — que é preventiva — também foi decretada por Juan Fuentes. O assassino de Jara ficará em uma cadeia de segurança máxima de Santiago. Outro ex-soldado, Francisco Quiroz, foi libertado pelo tribunal. Os dois eram recrutas na época do assassinato e tinham o trabalho de custodiar os presos políticos no centro de detenção em que o estádio foi transformado.
O advogado e representante da família de Jara, Nelson Caucoto, se mostrou inconformado com a decisão.
Em maio de 2008, o juiz encerrou o caso Jara ao considerar culpado de assassinato — mas não de ter disparado o gatilho — o coronel aposentado do Exército Mario Manríquez Bravo, diretor do campo de prisioneiros. O inquérito foi reaberto no início do mês passado, quando uma nova evidência foi apresentada e o ex-recruta passou a ser monitorado.
Um relatório do Centro de Investigação e Informação para Jornalistas divulgado em 27 de maio revelou detalhes das últimas horas de Jara a partir de 12 de setembro. Depois do golpe, cerca de 600 estudantes e professores se amotinaram na Universidade Técnica do Estado de Santiago em protesto pela ocupação militar. Entre eles estava Jara, que também era professor.
As forças militares invadiram o local, detendo várias pessoas, incluindo o cantor. Nesse ponto, o testemunho do ex-militar trouxe novidades. Segundo ele, um subtenente “começou a brincar de roleta russa com o revólver apoiado na cabeça de Jara''. Foi quando aconteceu o primeiro disparo. Conforme o relato de Paredes, o subtenente ordenou a ele e a outros recrutas que descarregassem seus rifles no corpo do artista — e a ordem foi cumprida.
O ex-militar também disse que Jara havia sido interrogado ao menos duas vezes no estádio, além de ter sofrido tortura. Ele teve a língua arrancada e as mãos espancadas até serem esmagadas. Depois dos tiros, o corpo do cantor foi posto em um saco e levado para um veículo militar, sendo encontrado três dias depois, perto de um cemitério.
Membro do Partido Comunista Chileno e ativo partidário do presidente socialista Salvador Allende (1908-1973), Jara foi um dos mais populares personagens do meio artístico de seu país no início da década de 70 — e um dos mais célebres mártires da ditadura. O cantor, compositor e poeta foi autor de renomadas canções de conteúdo social, como El Derecho de Vivir en Paz (O Direito de Viver em Paz), que serviram de símbolo para parte da geração de chilenos que enfrentou a repressão. Em sua homenagem, o Estádio do Chile chegou a ser renomeado Estádio Víctor Jara.
Já Pinochet morreu em dezembro de 2006, aos 91 anos de idade, sem ter sido condenado pelos cerca de 3 mil mortos e 28 mil torturados e vítimas da ditadura. Ao contrário de Víctor Jara, muitos dos mortos do regime pinochetista permanecem com seus corpos desaparecidos.
Publicado originalmente no portal Vermelho. Clique aqui para ler o artigo na íntegra
Nota do Blog: Victor Jara era uma espécie de Chico Buarque chileno. Diz a lenda que durante as torturas seus algozes quebraram suas mãos para que o músico não mais pudesse tocar seu violão, além de ter a língua arrancada para não mais poder cantar. Jara foi uma dentre milhares de pessoas torturadas e/ou brutalmente mortas pela ditadura assassina que governou o Chile sob as bênçãos de Washington.
Abaixo a tradução da canção El Derecho de Vivir en Paz, de autoria de Jara.
Ao que tudo indica, o Chile está numa cruzada para reparar a verdade e denunciar as atrocidades contra Jara. Há uma semana, o ex-militar José Adolfo Paredes, de 54 anos, foi acusado formalmente pela Justiça chilena pela morte do cantor. Paredes responderá a processo por homicídio qualificado.
A prisão — que é preventiva — também foi decretada por Juan Fuentes. O assassino de Jara ficará em uma cadeia de segurança máxima de Santiago. Outro ex-soldado, Francisco Quiroz, foi libertado pelo tribunal. Os dois eram recrutas na época do assassinato e tinham o trabalho de custodiar os presos políticos no centro de detenção em que o estádio foi transformado.
O advogado e representante da família de Jara, Nelson Caucoto, se mostrou inconformado com a decisão.
Em maio de 2008, o juiz encerrou o caso Jara ao considerar culpado de assassinato — mas não de ter disparado o gatilho — o coronel aposentado do Exército Mario Manríquez Bravo, diretor do campo de prisioneiros. O inquérito foi reaberto no início do mês passado, quando uma nova evidência foi apresentada e o ex-recruta passou a ser monitorado.
Um relatório do Centro de Investigação e Informação para Jornalistas divulgado em 27 de maio revelou detalhes das últimas horas de Jara a partir de 12 de setembro. Depois do golpe, cerca de 600 estudantes e professores se amotinaram na Universidade Técnica do Estado de Santiago em protesto pela ocupação militar. Entre eles estava Jara, que também era professor.
As forças militares invadiram o local, detendo várias pessoas, incluindo o cantor. Nesse ponto, o testemunho do ex-militar trouxe novidades. Segundo ele, um subtenente “começou a brincar de roleta russa com o revólver apoiado na cabeça de Jara''. Foi quando aconteceu o primeiro disparo. Conforme o relato de Paredes, o subtenente ordenou a ele e a outros recrutas que descarregassem seus rifles no corpo do artista — e a ordem foi cumprida.
O ex-militar também disse que Jara havia sido interrogado ao menos duas vezes no estádio, além de ter sofrido tortura. Ele teve a língua arrancada e as mãos espancadas até serem esmagadas. Depois dos tiros, o corpo do cantor foi posto em um saco e levado para um veículo militar, sendo encontrado três dias depois, perto de um cemitério.
Membro do Partido Comunista Chileno e ativo partidário do presidente socialista Salvador Allende (1908-1973), Jara foi um dos mais populares personagens do meio artístico de seu país no início da década de 70 — e um dos mais célebres mártires da ditadura. O cantor, compositor e poeta foi autor de renomadas canções de conteúdo social, como El Derecho de Vivir en Paz (O Direito de Viver em Paz), que serviram de símbolo para parte da geração de chilenos que enfrentou a repressão. Em sua homenagem, o Estádio do Chile chegou a ser renomeado Estádio Víctor Jara.
Já Pinochet morreu em dezembro de 2006, aos 91 anos de idade, sem ter sido condenado pelos cerca de 3 mil mortos e 28 mil torturados e vítimas da ditadura. Ao contrário de Víctor Jara, muitos dos mortos do regime pinochetista permanecem com seus corpos desaparecidos.
Publicado originalmente no portal Vermelho. Clique aqui para ler o artigo na íntegra
Nota do Blog: Victor Jara era uma espécie de Chico Buarque chileno. Diz a lenda que durante as torturas seus algozes quebraram suas mãos para que o músico não mais pudesse tocar seu violão, além de ter a língua arrancada para não mais poder cantar. Jara foi uma dentre milhares de pessoas torturadas e/ou brutalmente mortas pela ditadura assassina que governou o Chile sob as bênçãos de Washington.
Abaixo a tradução da canção El Derecho de Vivir en Paz, de autoria de Jara.
O direito de viver
poeta Ho Chi Minh
que golpeia do Vietnã
toda a humanidade
Nenhum canhão apagará
o sulco de teu arrozal.
O direito de viver em paz!
Indochina é o lugar
mais pra lá do mar largo
donde reinventaram a flor
com genocídio e napalm.
A lua é uma explosão
que funde todo o clamor.
O direito de viver em paz!
Tio Ho, nossa canção
é fogo de puro amor,
é pombo pombal,
oliveira do olival.
É o canto universal
cadeia que fará triunfar.
O direito de viver em paz!
poeta Ho Chi Minh
que golpeia do Vietnã
toda a humanidade
Nenhum canhão apagará
o sulco de teu arrozal.
O direito de viver em paz!
Indochina é o lugar
mais pra lá do mar largo
donde reinventaram a flor
com genocídio e napalm.
A lua é uma explosão
que funde todo o clamor.
O direito de viver em paz!
Tio Ho, nossa canção
é fogo de puro amor,
é pombo pombal,
oliveira do olival.
É o canto universal
cadeia que fará triunfar.
O direito de viver em paz!
Abaixo o vídeo da música supramencionada na voz do saudoso Jara.
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