IRÃ - ELEITORES DÃO EXEMPLO DE CIDADANIA

Reportagem de Sílvio Queiroz

Brasília – Milhões de iranianos aguardavam com ansiedade, já na madrugada de hoje, o resultado da eleição presidencial mais concorrida em 30 anos de República Islâmica. No fim de um dia em que muitos passaram horas nas filas de votação, a única certeza no Irã era de que o entusiasmo dos cidadãos só ficou devendo ao histórico pleito de 1997, no qual 78% compareceram e dois terços deles consagraram o reformista Mohammad Khatami, contra a vontade do establishment político-religioso. Passados 12 anos, a votação maciça, na casa de 70%, contagiou o comitê de campanha do ex-primeiro-ministro Mir Hossein Moussavi, em cujo benefício Khatami desistiu de tentar retornar ao cargo. Mas, com 68% das urnas apuradas, o atual presidente, o ultraconservador Mahmud Ahmadinejad, caminhava para se reeleger em primeiro turno, com dois terços dos votos, contra pouco mais de 30% para o ex-premiê, segundo a versão oficial. Com base em apuração paralela, no entanto, Moussavi cantava vitória ampla sobre o governista. Em meio à discrepância dos números, espera-se que o veredicto saia ainda hoje. Bem atrás, cada um em torno de 1%, apareciam Mohsen Rezai, também conservador, e Mehdi Karroubi, outro reformista.

Pouco tempo depois de fechadas as urnas, Moussavi anunciara para a imprensa que, segundo os números totalizados por sua equipe paralela de apuração, com base em resultados "da capital e das províncias", o candidato reformista se elegeu presidente "por uma grande margem de votos". Ali Akbar Mohatshemipour, assessor de campanha, assegurou que o ex-premiê "obteve 65% dos votos". Se confirmado pela contagem oficial, esse resultado repetiria aproximadamente a inesperada vitória conquistada em 1997 por outro reformista, Mohammad Khatami. Momentos depois, a agência oficial de notícias Irna proclamou vitória para Ahmadinejad, mas não citou números.

Diante das informações consistentes sobre a participação em massa dos eleitores – "sem precedentes na história da República Islâmica", segundo o chefe da Comissão Eleitoral, Kamran Danejshoo – , o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, não esperou os primeiros resultados para confessar seu "entusiasmo". "Ao que parece, houve um debate robusto no Irã", disse Obama à imprensa. "Estamos vendo as pessoas olhando para novas possibilidades. Quem quer que vença, esse debate dá esperanças de que ficará mais fácil um engajamento (com Teerã) por outras vias."

O debate político ao qual o presidente norte-americano se referia continuava se desenrolando naquele momento, nas longas filas que se formaram diante das seções eleitorais, antes mesmo da abertura das urnas. Para garantir que todo eleitor pudesse exercer o direito, o encerramento da votação foi prorrogado até as 22h (14h30 em Brasília), quatro horas além da previsão inicial. Em Teerã, que concentra o maior número de eleitores, sobressaía a presença de mulheres e jovens de classe média, justamente a camada social que há quatro anos se ausentou em maior número, frustrada com o ponto-morto a que haviam chegado as reformas sociais após oito anos de tentativas do então presidente, Mohammad Khatami.

Candidatos Foi em meio à euforia de seus correligionários que Moussavi compareceu para votar. "Se Deus quiser, com a participação que estamos registrando nacionalmente, veremos à frente dias melhores e mais bonitos", disse o candidato reformista. O ex-premiê acenou com confiança para as câmeras, após depositar o voto e fazer com os dedos o sinal de vitória. Ahmadinejad, de sua parte, chegou à seção depois de cumprimentar eleitores e segurar crianças, fiel ao estilo populista com o qual surpreendeu os analistas em 2005. O presidente agradeceu aos cidadãos "por sua bondade, sua grandeza, pelo altruísmo diante dos sacrifícios e pela indulgência".

Sondado durante todo o processo eleitoral por analistas que buscavam uma indicação sobre suas preferências – embora sejam evidentes suas inclinações pelo campo conservador – , o líder religioso mais uma vez distanciou-se de qualquer dos candidatos. "Recomendei aos eleitores que decidam com base em suas próprias ideias", disse o aiatola Ali Khamenei. "Com a graça de Deus, a pessoa mais qualificada e merecedora será eleita para chefiar o poder executivo nos próximos quatro anos."

Fonte: Jornal Estado de Minas

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