Bem-vindo ao futuro!



Por Cléber Sérgio de Seixas


Oficialmente, hoje é o primeiro dia do inverno, uma estação de clima seco e frio. Lembro-me que anos atrás as estações eram mais bem definidas e era possível perceber com mais facilidade as transições de uma estação a outra. Hoje, porém, a situação climática é bem diferente. Há casos de no inverno fazer mais calor que no verão e eventos próprios de uma estação se repetirem em outra. A questão crucial é a seguinte: nunca a atividade humana mudou tão rapidamente o clima do planeta como no século passado e nesse início de século XXI.

É atribuída ao líder messiânico de Canudos, Antônio Conselheiro, a profética frase: “O sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão!”. Nomes como Furnas, Sobradinho e Três Marias fazem-nos crer que a primeira parte do vaticínio de Conselheiro já se cumpriu, já que a vontade e engenharia humanas transformam, da noite para o dia, regiões áridas em oásis, e hoje o que restou do arraial de Canudos jaz sob o peso das águas do açude de Cocorobó.

Em meio à desoladora paisagem de rios secos, peixes mortos e morrendo, barcos encalhados e populações isoladas, sem água potável e sem meios de locomoção, membros da ONG Greenpeace, numa expedição para documentar os efeitos da estiagem que assolou região amazônica em outubro de 2005, fixaram no mosaico de barro seco, que fora antes o fundo do leito de um rio, uma placa com os seguintes dizeres: “Welcome to the future!”. Se a maior bacia hidrográfica do planeta pode ser atingida por uma seca, que será então de outras regiões menos favorecidas hidricamente? Será este o dantesco futuro que nos aguarda? Cumprir-se-á a segunda parte da profecia de Conselheiro?
Enquanto o planeta é castigado por tufões, furacões e secas, cientistas especulam se catástrofes como estas, cada dia mais superlativas, são oriundas do aquecimento global. Acredito que o aquecimento global é apenas a ponta do iceberg. A causa mais profunda, creio eu, está nos nossos hábitos, no modus vivendi intrínseco ao sistema econômico no qual vivemos, na forma como temos tratado nosso planeta. Se o consumismo é gêmeo siamês do capitalismo, é necessário aprofundar a reflexão a respeito de como temos explorado os recursos que a natureza tem nos dado sobejamente. Apenas considerando causas e efeitos, os fatos, na verdade, serão apenas uma questão de pura Física, se levarmos em conta o enunciado da 3ª lei de Newton que diz que “a toda ação corresponde uma reação de igual intensidade, porém de sentido contrário”. Não estranhemos, a natureza está apenas nos dando o troco!
Precisamos, no entanto, descer do pedestal da "civilização" e tentar aprender algo com quem vive mais harmoniosamente com a natureza: os índios. Não no sentido de parar a roda do progresso e sairmos por aí pelados e comendo insetos, mas visando ao que tem sido chamado de desenvolvimento sustentável, eufemismo de “explore, mas reponha!”. Podemos começar nosso aprendizado lendo alguns trechos da carta que um índio escreveu ao presidente norte-americano Franklin Pierce no ano de 1855: “... o homem branco não entende nossos costumes... ele é um estranho que vem na noite e toma à terra o que necessita... seu apetite devorará a terra e deixará para trás um deserto... Será o fim da vida e o início da subsistência... Todas as coisas estão relacionadas. Tudo o que fere a terra, também ferirá aos filhos da Terra”. Estamos, portanto, apenas colhendo o que plantamos. Se plantarmos desmatamento, extrativismo irresponsável, poluição do ar, rios e lagos, é óbvio que colheremos um futuro nebuloso para nossos filhos e netos.

Empresas e governos deixam de engatinhar e dão os primeiros passos em direção a uma maior responsabilidade no que diz respeito às questões ambientais, deixando para trás o extrativismo irresponsável de tempos passados e a ilusão de que os recursos que arrancamos do planeta são inesgotáveis.

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