TRABALHADORES, UNÍ-VOS!



Por Cléber Sérgio de Seixas

No sistema econômico anterior - o feudalismo - os meios de produção estavam nas mãos do trabalhador, sendo este ao mesmo tempo produtor e distribuidor do que produzia. A transição do capitalismo para o feudalismo retirou das mãos dos trabalhadores os meios de produção, deixando-os de mãos vazias e sem condições de por em movimento sua potencial capacidade de trabalhar. Assim sendo, restava ao indivíduo trabalhador uma única mercadoria: sua força de trabalho. Sem a posse dos meios de produção, necessária à materialização de seu trabalho, não houve outra alternativa a não ser colocar à disposição do mercado sua capacidade de trabalhar, sua força de trabalho. Passou a fazer isso em troca de salários, o que, em tese, equivalia ao necessário à sua subsistência. Eram os primórdios do capitalismo, que descobriu maquiavelicamente que poderia extrair um valor maior da mercadoria força de trabalho. Marx teorizou e chamou tal forma de lucro de mais-valia, que é a medida da exploração do trabalhador no sistema capitalista. A mais-valia arrancava a máscara do sistema capitalista no qual, aparentemente, o trabalhador fazia um bom negócio vendendo sua força de trabalho ao patrão, podendo até escolher para quem fosse trabalhar. Esta falsa liberdade era colocada em contraposição ao fato de que no feudalismo o trabalhador servil, isto é, o servo, estava umbilicalmente ligado à terra e fazia um mal negócio.

Pensadores de várias nacionalidades se puseram a teorizar conforme as necessidades dos capitalistas nascentes. De Adam Smith, passando por Malthus, até David Ricardo, vários foram os que criaram teorias para justificar a nascente economia burguesa e a suposta liberdade inerente à mesma. Na verdade se tratava de uma liberdade para poucos. O liberalismo econômico escondia sob seu manto um defeito que os seres humanos trazem em seu âmago há séculos: a ganância. Em outras palavras, não se contenta com o necessário à sobrevivência, pelo contrário, busca-se acumular riquezas de forma a aumentar o status social. Enquanto Malthus dizia que os seres humanos eram os responsáveis pela própria desgraça por se reproduzirem rápido demais - ao passo que justificava a guerra como forma de diminuir a população do planeta -, David Ricardo estabelecia o salário mínimo como o suficiente para o trabalhador manter-se e, como disse Marx, “para que esta raça de donos de uma mercadoria peculiar possa perpetuar-se no mercado”, ou seja, para que o trabalhador tenha condições de gerar e criar filhos, mantendo sempre de prontidão um exército de mão de obra de reserva para os capitães da indústria.

Com tais teorias em mãos, os capitães da indústria ou burgueses, levaram a cabo um período de grandes transformações sócio-econômicas – a Revolução Industrial - , cujos reflexos são sentidos até hoje, no século XXI. É redundante dizer que para o banquete propiciado pelo crescimento econômico e pelo vertiginoso processo de industrialização, só foram convidados os ilustres burgueses, ao passo que aos trabalhadores, os verdadeiros produtores de toda a riqueza e os reais promotores do crescimento, foram destinadas as sobras que porventura caíssem da mesa.

A situação começou a mudar quando surgiram Karl Marx e Friedrich Engels. Nunca ninguém havia teorizado em prol dos trabalhadores, nunca ninguém havia lhes estendido as mãos, nunca alguém os havia auxiliado com argumentos tão concretos. É verdade que os socialistas utópicos haviam iniciado a jornada do desmascaramento do capitalismo, mas eles careciam de um embasamento mais científico, e pautavam suas ações sempre pressupondo uma boa vontade por parte dos burgueses. A cientificidade necessária só existiu graças a Marx e Engels.

Há cento e sessenta e dois anos, Marx e Engels conclamavam os trabalhadores à luta com a célebre frase: “trabalhadores de todos os países, uní-vos!” Era um chamado à consciência de classe, um encorajamento às classes que àquela altura muito sofriam nas mãos dos burgueses. Esse trecho do Manifesto do Partido Comunista de 1848, clássico da literatura marxista, correu o mundo no século XIX e desfez a orfandade dos trabalhadores. Finalmente alguém havia se preocupado com eles e teorizado por eles. Os pais do socialismo científico não somente mudaram os rumos do mundo de fins do século XIX, deixando rastros por todo o século XX, como também forneceram à classe trabalhadora uma tábua de salvação. Assim os sindicatos ganharam força, bem como os partidos comunistas surgiram aqui e ali. As bases do sistema capitalista foram, assim, abaladas.

Por vários países pipocaram movimentos de trabalhadores insatisfeitos com as condições de trabalho a que seus patrões os submetiam. Um desses movimentos ocorreu no dia 1º de maio de 1868, quando trabalhadores saíram às ruas de Chicago (EUA) para reivindicar a redução da jornada de trabalho. Durante as manifestações que duraram dias, houve mortos do lado da polícia e dos manifestantes. Como resultado das manifestações, a jornada diária de trabalho foi reduzida de dezesseis para oito horas. No ano de 1889, a segunda Internacional Socialista decidiu convocar anualmente uma manifestação em prol da redução das horas de trabalho para oito horas. A data escolhida, em homenagem aos trabalhadores de Chicago, foi o 1º de maio. Posteriormente vários países decretaram esse dia como feriado nacional. No Brasil, a ditadura de Getúlio Vargas instituiu o 1º de maio como dia do trabalho como forma de cooptar os trabalhadores, amansando-os, visto que esta data, até então, era marcada por protestos.

Graças ao empenho dos movimentos operários do início do século passado, podemos colher hoje frutos tais como jornadas de trabalho menores, seguridade social, férias, aposentadoria, dentre outras. Nada veio por obra e graça da benemerência do patronato, mas pela combatividade de homens e mulheres que buscavam condições mais humanas no ambiente de trabalho.

Neste dia do trabalho e do trabalhador, nossos louvores àqueles que calejam as mãos quando parafusam, quando tecem, quando assentam tijolos, quando coletam nosso lixo, quando cuidam de nossas enfermidades, quando nos ministram o conhecimento, enfim, quando garantem a movimentação das engrenagens sociais. Há muito que comemorar pelos trabalhadores, na mesma proporção que há ainda muito a conquistar. Estamos ainda muito longe de condições dignas de trabalho e salário. Assim sendo, nós, os trabalhadores, precisamos fortalecer nossos vínculos e conscientizarmo-nos de nossa força enquanto classe, sobretudo nesses dias em que paira sobre nossas cabeças o fantasma do desemprego, da redução das conquistas trabalhistas até agora alcançadas, da terceirização, do neoliberalismo que deseja desregulamentar o mercado de trabalho em prol dos patrões, etc.

Trabalhadores brasileiros, uni-vos!

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