PRA FRENTE BRASIL!
Por Cléber Sérgio de Seixas
Se antes éramos 90 milhões em ação, hoje somos mais de 180 milhões cantando em coro: “Pra Frente Brasil”. A canção do tri ainda traz boas lembranças àqueles que puderam ver Pelé, Jairzinho e Tostão ao vivo e, pela primeira vez, em cores. Lembranças não tão boas terão aqueles que ousaram contestar o regime. Nos idos de 70 planejava-se fazer o bolo crescer para depois reparti-lo. O bolo cresceu, é verdade, mas poucos lhe conheceram o sabor. Naqueles tempos não era possível expressar o descontentamento por não ter comido do bolo, pois havia apenas duas opções com relação ao Brasil: ame-o ou deixe-o. Muitos amaram-no com os dentes cerrados, outros deixaram-no compulsoriamente. Fez e faz sucesso o jingle de duplo sentido da ditadura, cujos versos, implicitamente, comparavam a vitoriosa seleção de 70, desacreditada a princípio, ao Brasil do “milagre econômico” promovido pelos militares.
Ainda hoje, quando se aproxima o início de mais uma Copa do Mundo, a canção nos vem à memória. Mas que tipo de Brasil estamos exortando a ir à frente? Será apenas o Brasil de Dunga, Kaká, Robinho e companhia? Ou será também a nação continente, este gigante deitado em berço esplêndido, essa terra onde se plantando ou não tudo dá, cujo esplendor e riqueza tem sido acessível apenas a uma ínfima parcela de brasileiros? A pátria de chuteiras é também a nação dos descalços, detentora de índices sociais deploráveis, uma das piores distribuições de renda do planeta, apesar de estar entre as 15 maiores economias do mundo. País de extremos que tem dentro de seu imenso território regiões tão opulentas quanto as mais desenvolvidas da Europa e outras piores que os mais atrasados rincões da África, cujas taxas de desemprego e subemprego batem recordes. Temos que reconhecer os grandes méritos do governo Lula - que deverá entrar para a história com a mesma notoriedade dos saudosos tempos da Era Vargas -, mas devemos almejar vôos mais altos.
Se o patriotismo vem à tona em tons verde-amarelos estampados nas camisas, nos bonés, nas bandeiras sobre os dorsos ou no hino cantado com a mão ao peito, perdurará esta paixão até as eleições de outubro? Seremos tão patriotas, engajados e conscientes quando formos digitar os números dos candidatos na urna eleitoral? Acompanharemos os passos e ações daqueles que receberão nossos votos tal como monitoramos atentamente os jogos da seleção e a trajetória dos nossos ídolos futebolísticos? Ou continuaremos a prescindir de nossa cidadania, acordando de nossa letargia política apenas quando o caos social bater à nossa porta? Se até agora temos sido apolíticos, mudemos nossos paradigmas, pois certa vez num país chamado Grécia um sujeito chamado Aristóteles disse que o homem é um animal político. Entenda-se como político não apenas aquele que mergulha na militância ou que exerce cargo público, mas todo o que vive em sociedade e sob um Estado. Em outras palavras, para viver em sociedade precisamos da política. A política está em toda a parte - da empresa de transporte público que precisa de uma autorização para prestar seus serviços à população, às empresas de comunicação, que de igual forma precisam de concessão pública para operar.
Que o Brasil vença a Copa e nos traga o hexa. Mas que também marquemos nas urnas um gol de placa, escolhendo aqueles que vão realmente nos representar, não nos massacrar legislando e administrando em causa própria. Que no Brasil da política tenhamos tantas glórias quantas tivemos no Brasil do futebol. Se torcemos o nariz quando o assunto é política, lembremos que quem não gosta de política é governado por quem gosta. Se a maioria desinteressar-se, quem perderá é a democracia, que deverá ter o nome mudado para oligocracia, ou seja, um governo de poucos que beneficia a poucos.
Se antes éramos 90 milhões em ação, hoje somos mais de 180 milhões cantando em coro: “Pra Frente Brasil”. A canção do tri ainda traz boas lembranças àqueles que puderam ver Pelé, Jairzinho e Tostão ao vivo e, pela primeira vez, em cores. Lembranças não tão boas terão aqueles que ousaram contestar o regime. Nos idos de 70 planejava-se fazer o bolo crescer para depois reparti-lo. O bolo cresceu, é verdade, mas poucos lhe conheceram o sabor. Naqueles tempos não era possível expressar o descontentamento por não ter comido do bolo, pois havia apenas duas opções com relação ao Brasil: ame-o ou deixe-o. Muitos amaram-no com os dentes cerrados, outros deixaram-no compulsoriamente. Fez e faz sucesso o jingle de duplo sentido da ditadura, cujos versos, implicitamente, comparavam a vitoriosa seleção de 70, desacreditada a princípio, ao Brasil do “milagre econômico” promovido pelos militares.
Ainda hoje, quando se aproxima o início de mais uma Copa do Mundo, a canção nos vem à memória. Mas que tipo de Brasil estamos exortando a ir à frente? Será apenas o Brasil de Dunga, Kaká, Robinho e companhia? Ou será também a nação continente, este gigante deitado em berço esplêndido, essa terra onde se plantando ou não tudo dá, cujo esplendor e riqueza tem sido acessível apenas a uma ínfima parcela de brasileiros? A pátria de chuteiras é também a nação dos descalços, detentora de índices sociais deploráveis, uma das piores distribuições de renda do planeta, apesar de estar entre as 15 maiores economias do mundo. País de extremos que tem dentro de seu imenso território regiões tão opulentas quanto as mais desenvolvidas da Europa e outras piores que os mais atrasados rincões da África, cujas taxas de desemprego e subemprego batem recordes. Temos que reconhecer os grandes méritos do governo Lula - que deverá entrar para a história com a mesma notoriedade dos saudosos tempos da Era Vargas -, mas devemos almejar vôos mais altos.
Se o patriotismo vem à tona em tons verde-amarelos estampados nas camisas, nos bonés, nas bandeiras sobre os dorsos ou no hino cantado com a mão ao peito, perdurará esta paixão até as eleições de outubro? Seremos tão patriotas, engajados e conscientes quando formos digitar os números dos candidatos na urna eleitoral? Acompanharemos os passos e ações daqueles que receberão nossos votos tal como monitoramos atentamente os jogos da seleção e a trajetória dos nossos ídolos futebolísticos? Ou continuaremos a prescindir de nossa cidadania, acordando de nossa letargia política apenas quando o caos social bater à nossa porta? Se até agora temos sido apolíticos, mudemos nossos paradigmas, pois certa vez num país chamado Grécia um sujeito chamado Aristóteles disse que o homem é um animal político. Entenda-se como político não apenas aquele que mergulha na militância ou que exerce cargo público, mas todo o que vive em sociedade e sob um Estado. Em outras palavras, para viver em sociedade precisamos da política. A política está em toda a parte - da empresa de transporte público que precisa de uma autorização para prestar seus serviços à população, às empresas de comunicação, que de igual forma precisam de concessão pública para operar.
Que o Brasil vença a Copa e nos traga o hexa. Mas que também marquemos nas urnas um gol de placa, escolhendo aqueles que vão realmente nos representar, não nos massacrar legislando e administrando em causa própria. Que no Brasil da política tenhamos tantas glórias quantas tivemos no Brasil do futebol. Se torcemos o nariz quando o assunto é política, lembremos que quem não gosta de política é governado por quem gosta. Se a maioria desinteressar-se, quem perderá é a democracia, que deverá ter o nome mudado para oligocracia, ou seja, um governo de poucos que beneficia a poucos.
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