POUCO A COMEMORAR



Não fosse um imerecido Nobel da Paz, o presidente dos EUA nada teria a festejar ao cumprir o primeiro ano de mandato. Gastou seu capital político sem obter nada substancial (de uma aprovação inicial de 68%, a maior desde John Kennedy, caiu para 49%) e seu partido sofreu uma derrota eleitoral humilhante.

O republicano Scott Brown ganhou a eleição para substituir o falecido senador democrata Ted Kennedy, um dos maiores defensores da reforma da Saúde, basicamente opondo-se a ela. Brown é menos conservador que a média dos republicanos e é algo excepcional a situação de Massachusetts, que já tem um sistema de saúde estadual, ao qual o federal apenas acrescentaria despesas, mas ainda assim foi uma derrota contundente.

As circunstâncias encontradas por Obama, criadas pelo governo de Bush júnior e pela gestão de Alan Greenspan no Fed, foram muito desfavoráveis, mas a maneira como as enfrentou não foram inspiradoras. Continua no Iraque, enviou mais tropas ao Afeganistão, desistiu de pressionar Israel a suspender as construções em terras palestinas, respaldou um golpe de Estado em Honduras e lavou as mãos em relação à mudança climática.

Mas isso é secundário para o eleitor dos EUA: o que o frustra é a política econômica, balizada pelo temor de desagradar ao setor financeiro. Proporcionou trilhões em ajuda aos grandes bancos sem exigir quase nada em troca e que esse governo, como os outros, é cúmplice de sua exploração.

Eleitores com empregos e moradia em risco veem bancos distribuírem dezenas de bilhões em bônus a executivos que teriam perdido cargos e fortunas, não fosse o socorro estatal. Ao ressentimento racional somam-se preconceitos alucinados de brancos empobrecidos que querem “de volta” o país supostamente tomado por um complô de negros, imigrantes e financistas.

Isso se reflete na reforma da Saúde, que beneficiaria dezenas de milhões, mas pode vir a ser rejeitada. Tantas foram as diluições para tentar agradar aos centristas que se tornou mais tímida e conservadora que a proposta do republicano Richard Nixon, em 1971. Ainda assim, é pintada pelos republicanos como golpe comunista, fascista ou ambos. E os democratas, ante uma oposição disposta a bloquear qualquer política que venha de seu governo, progressista ou não, só sabem reagir ao desafio recuando de suas propostas e desanimando ainda mais quem os ajudou por acreditar em Change e Hope.

Da redação da revista Carta Capital

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