MIREM-SE NO EXEMPLO DAQUELAS MULHERES
"Toda mulher é meio Leila Diniz"
Rita Lee
Rita Lee
Por Cléber Sérgio de Seixas
Num dia desses minha esposa contou-me o caso de uma amiga sua que, após quase 20 anos de casamento e um filho de 18 anos, nunca havia tido um orgasmo com o marido. Nos dias de hoje isso pode soar como um caso isolado, mas houve épocas em que exemplos como esse eram comuns. Eram tempos em que a função da mulher casada era cuidar dos filhos e da casa, submetendo-se ao marido e, algumas vezes, sendo seu objeto sexual. O prazer sexual da esposa não era preocupação do marido, e os casamentos, em sua maioria, eram uma grande fachada, pois as mulheres optavam por viverem infelizes com seus cônjuges a se separar dos mesmos, já que mulheres desquitadas eram mal vistas pela sociedade.
Algumas, no entanto, fizeram fama por estarem à frente de seu tempo. Consideremos o exemplo de Leila Diniz, que foi marcante numa época em que o machismo ditava as cartas mais do que hoje. No início dos anos 70, grávida, ousou se deixar fotografar de biquíni, um absurdo naquele tempo. A atriz também causou furor quando proferiu a frase: “transo de manhã, de tarde e à noite”. Depois que Leila deu uma polêmica entrevista ao jornal O Pasquim, na qual falou abertamente sobre sexo, a ditadura militar decretou uma lei de censura prévia à imprensa.Tratou-se do decreto nº 1077, apelidado de Decreto Leila Diniz.
Nos dias atuais várias pop stars são fotografadas nuas e grávidas sem que ninguém se ruborize, e há aquelas que vão à TV dar declarações bem mais íntimas do que as da falecida atriz. Além disso, há algumas revistas femininas cujas matérias são bem mais picantes que aquelas encontradas em publicações reservadas ao público masculino, apesar de menos imagéticas, diga-se de passagem.
Atitudes como as de Leila na atualidade não causariam escândalo, haja vista as várias conquistas sociais alcançadas pelas mulheres. Vários fatores contribuíram para a emancipação feminina. Dentre eles convém destacar o direito ao voto, a inserção no mercado de trabalho e a invenção da pílula anticoncepcional, que reconfigurou o ato sexual para o sexo feminino.
Num dia desses minha esposa contou-me o caso de uma amiga sua que, após quase 20 anos de casamento e um filho de 18 anos, nunca havia tido um orgasmo com o marido. Nos dias de hoje isso pode soar como um caso isolado, mas houve épocas em que exemplos como esse eram comuns. Eram tempos em que a função da mulher casada era cuidar dos filhos e da casa, submetendo-se ao marido e, algumas vezes, sendo seu objeto sexual. O prazer sexual da esposa não era preocupação do marido, e os casamentos, em sua maioria, eram uma grande fachada, pois as mulheres optavam por viverem infelizes com seus cônjuges a se separar dos mesmos, já que mulheres desquitadas eram mal vistas pela sociedade.
Algumas, no entanto, fizeram fama por estarem à frente de seu tempo. Consideremos o exemplo de Leila Diniz, que foi marcante numa época em que o machismo ditava as cartas mais do que hoje. No início dos anos 70, grávida, ousou se deixar fotografar de biquíni, um absurdo naquele tempo. A atriz também causou furor quando proferiu a frase: “transo de manhã, de tarde e à noite”. Depois que Leila deu uma polêmica entrevista ao jornal O Pasquim, na qual falou abertamente sobre sexo, a ditadura militar decretou uma lei de censura prévia à imprensa.Tratou-se do decreto nº 1077, apelidado de Decreto Leila Diniz.
Nos dias atuais várias pop stars são fotografadas nuas e grávidas sem que ninguém se ruborize, e há aquelas que vão à TV dar declarações bem mais íntimas do que as da falecida atriz. Além disso, há algumas revistas femininas cujas matérias são bem mais picantes que aquelas encontradas em publicações reservadas ao público masculino, apesar de menos imagéticas, diga-se de passagem.
Atitudes como as de Leila na atualidade não causariam escândalo, haja vista as várias conquistas sociais alcançadas pelas mulheres. Vários fatores contribuíram para a emancipação feminina. Dentre eles convém destacar o direito ao voto, a inserção no mercado de trabalho e a invenção da pílula anticoncepcional, que reconfigurou o ato sexual para o sexo feminino.
Celebremos as conquistas que as mulheres alcançaram, mas assumamos também que ainda há muito a ser alcançado pelo assim chamado sexo frágil.
Estatísticas revelam que mulheres ganham menos que homens exercendo as mesmas funções e ocupando os mesmos cargos em muitas empresas; inúmeras são espancadas pelos próprios companheiros em seus lares, crimes que ficam impunes na maioria das vezes; algumas enfrentam jornada dupla, uma no trabalho e outra no lar, e há culturas nas quais é praticada a circuncisão feminina, uma forma de negar à mulher o prazer sexual e reforçar a supremacia masculina.
A sociedade do consumo - com sua poderosa varinha de condão que tudo transforma em mercadoria - já há muito tempo associou a mulher a produtos de consumo tais como bebidas, revistas etc, coisas das quais se tira o máximo proveito e se descarta em seguida, tal como a cerveja que desce redondo e é mais gostosa se a identificarmos com a bela loira que estampa o outdoor. Segundo o ponto de vista dos machões consumidores, se a mercadoria chamada mulher se tornar feia ou ficar velha e gorda, deve logo ser descartada e trocada por uma mais nova, pois o tempo e a força da gravidade não respeitam "Giseles" nem "Lumas".
Em tempos de revolução sexual, as mulheres ainda são vítimas de preconceitos arraigados no imaginário masculino, muitos deles oriundos de interpretações de escritos de cunho religioso. Um exemplo disso é a narrativa bíblica onde Adão, o primeiro macho, justificando-se diante de Deus, acusou a mulher de ter-lhe oferecido o fruto proibido. Imediatamente, Javé proferiu sua sentença relativa aos delitos dos primeiros humanos. O texto bíblico do Gênesis afirma que o desejo da mulher seria para o marido e este a dominaria. Uma ação feminina, então, conforme alguns exegetas, teria sido a responsável por todas as desgraças que acometem a humanidade.
Se querem prazer, são vadias, se não o desejam, são frias; se o marido trai a esposa é porque a concubina foi quem o seduziu ou a esposa não fora competente o suficiente na cama. O homem que “papa todas” é garanhão no círculo de amigos, mas a mulher que sai com muitos é puta. Se a esposa se realiza sexualmente com o marido e procura-o com freqüência para o ato sexual há algo errado com ela, pois a esposa é a santa que desposou-o no altar, ao contrário das vadias com as quais ele se deita, se deleita e se lambuza na rua.
No antigo Malleus Maleficarum, a mulher orgástica era identificada com a feiticeira. Séculos depois, a mulher liberada sexualmente ainda é mal vista na sociedade.
Estatísticas revelam que mulheres ganham menos que homens exercendo as mesmas funções e ocupando os mesmos cargos em muitas empresas; inúmeras são espancadas pelos próprios companheiros em seus lares, crimes que ficam impunes na maioria das vezes; algumas enfrentam jornada dupla, uma no trabalho e outra no lar, e há culturas nas quais é praticada a circuncisão feminina, uma forma de negar à mulher o prazer sexual e reforçar a supremacia masculina.
A sociedade do consumo - com sua poderosa varinha de condão que tudo transforma em mercadoria - já há muito tempo associou a mulher a produtos de consumo tais como bebidas, revistas etc, coisas das quais se tira o máximo proveito e se descarta em seguida, tal como a cerveja que desce redondo e é mais gostosa se a identificarmos com a bela loira que estampa o outdoor. Segundo o ponto de vista dos machões consumidores, se a mercadoria chamada mulher se tornar feia ou ficar velha e gorda, deve logo ser descartada e trocada por uma mais nova, pois o tempo e a força da gravidade não respeitam "Giseles" nem "Lumas".
Em tempos de revolução sexual, as mulheres ainda são vítimas de preconceitos arraigados no imaginário masculino, muitos deles oriundos de interpretações de escritos de cunho religioso. Um exemplo disso é a narrativa bíblica onde Adão, o primeiro macho, justificando-se diante de Deus, acusou a mulher de ter-lhe oferecido o fruto proibido. Imediatamente, Javé proferiu sua sentença relativa aos delitos dos primeiros humanos. O texto bíblico do Gênesis afirma que o desejo da mulher seria para o marido e este a dominaria. Uma ação feminina, então, conforme alguns exegetas, teria sido a responsável por todas as desgraças que acometem a humanidade.
Se querem prazer, são vadias, se não o desejam, são frias; se o marido trai a esposa é porque a concubina foi quem o seduziu ou a esposa não fora competente o suficiente na cama. O homem que “papa todas” é garanhão no círculo de amigos, mas a mulher que sai com muitos é puta. Se a esposa se realiza sexualmente com o marido e procura-o com freqüência para o ato sexual há algo errado com ela, pois a esposa é a santa que desposou-o no altar, ao contrário das vadias com as quais ele se deita, se deleita e se lambuza na rua.
No antigo Malleus Maleficarum, a mulher orgástica era identificada com a feiticeira. Séculos depois, a mulher liberada sexualmente ainda é mal vista na sociedade.
Quem como Chico Buarque para cantar as particularidades da alma feminina? Os versos de Mulheres de Atenas jogam luz sobre a obscura situação de sujeição e sofrimento a que muitas estão submetidas: “Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas. Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas. Quando amadas, se perfumam. Se banham com leite, se arrumam... Quando fustigadas, não choram. Se ajoelham, pedem, imploram... Sofrem por seus maridos, poder e força de Atenas. Quando eles embarcam, soldados, elas tecem longos bordados. Mil quarentenas. E quando eles voltam sedentos querem arrancar violentos, carícias plenas, obscenas”. Mal interpretado, o poema-canção poderia ser considerado machista por encorajar o conformismo e a submissão incondicional feminina, no entanto trata-se de uma sutil exortação para que as mulheres não ajam como aquelas de Atenas.
Implícitas no poema estão as figuras diametralmente opostas da mulher fatal representada pela bela Helena, cujo rapto fomentou a Guerra de Tróia, e da mulher submissa e fiel simbolizada por Penélope, mulher de Ulisses, ambas personagens dos poemas homéricos Ilíada e Odisséia. Talvez haja um equilíbrio das personalidades destas duas representantes do sexo feminino dentro de cada mulher. Que não sejam destruidoras de lares e fomentadoras de guerras como foi Helena, mas que não percam a vaidade, saibam valorizar-se e lutar pelos seus direitos. Que sejam fiéis como foi Penélope na sua longa espera de 20 anos pela volta do amado Ulisses, mas que não sejam tolas a ponto de ignorar nos braços de quem dormem seus homens. Que não sejam nem uma nem outra, mas ambas ao mesmo tempo, aproveitando o que há de positivo em cada uma.
Que as mulheres sejam percebidas além do invólucro exterior. Que sejam vistas como portadoras de virtudes superiores aos efêmeros atributos físicos. Que sejam compreendidas, amadas, valorizadas e respeitadas como seres que sentem, que amam e que têm não apenas deveres, mas também direitos.
Cantemos a beleza, a ternura e a fidelidade das formosas mulheres, mas também as exortemos a serem independentes, objetivas, sem jamais abdicar da própria dignidade e auto-estima.
Implícitas no poema estão as figuras diametralmente opostas da mulher fatal representada pela bela Helena, cujo rapto fomentou a Guerra de Tróia, e da mulher submissa e fiel simbolizada por Penélope, mulher de Ulisses, ambas personagens dos poemas homéricos Ilíada e Odisséia. Talvez haja um equilíbrio das personalidades destas duas representantes do sexo feminino dentro de cada mulher. Que não sejam destruidoras de lares e fomentadoras de guerras como foi Helena, mas que não percam a vaidade, saibam valorizar-se e lutar pelos seus direitos. Que sejam fiéis como foi Penélope na sua longa espera de 20 anos pela volta do amado Ulisses, mas que não sejam tolas a ponto de ignorar nos braços de quem dormem seus homens. Que não sejam nem uma nem outra, mas ambas ao mesmo tempo, aproveitando o que há de positivo em cada uma.
Que as mulheres sejam percebidas além do invólucro exterior. Que sejam vistas como portadoras de virtudes superiores aos efêmeros atributos físicos. Que sejam compreendidas, amadas, valorizadas e respeitadas como seres que sentem, que amam e que têm não apenas deveres, mas também direitos.
Cantemos a beleza, a ternura e a fidelidade das formosas mulheres, mas também as exortemos a serem independentes, objetivas, sem jamais abdicar da própria dignidade e auto-estima.
Fiquem com Mulheres de Atenas na voz de Chico Buarque.
Comentários
Estava buscando fotos de Leila Diniz depois de comentar sobre a imagem da mulher grávida como símbolo de beleza... depois que fui lembrar que me esqueci de Leila corri para encontrar fontes... Bom trabalho. Já salvei em favoritos.
T.K. 2046