OUSADIA E SOFRIMENTO NO HAITI
Por Rogério Simões
Muitos países usaram o Haiti para interesses próprios desde a chegada de Colombo, particularmente Espanha, França e Estados Unidos. A Espanha lançou a moda com o uso dos nativos para a extração de recursos naturais, mas posteriormente abandonou o território. Os franceses, mesmo após dois séculos de exploração colonial, exigiram dos haitianos um pagamento de indenização bilionária, décadas depois de sua independência, como exigência para reconhecê-la. Os Estados Unidos invadiram o país em 1915, mantendo suas tropas até 1934.
Após o fim da sangrenta dinastia dos Duvalier (Papa Doc, Baby Doc e seus capangas Tonton Macoutes), que dominou o país dos anos 50 aos 80, a interferência internacional mudou um pouco de estilo. Em 1994, a Casa Branca de Bill Clinton recolocou o presidente democraticamente eleito Jean-Bertrand Aristide na Presidência, numa ação de apoio à vítima de um golpe militar. Dez anos depois, entretanto, a Casa Branca de George W. Bush retirou o mesmo Aristide do país e o levou para o exílio, numa manobra mal explicada até hoje. O presidente deposto alegou ter sido sequestrado, mas Washington disse que ele pediu para sair. A engajada jornalista canadense Naomi Klein escreveu, um ano depois, que Aristide atribui sua queda à sua recusa a atender às demandas dos Estados Unidos para privatizar o Estado haitiano. O mesmo Aristide, pouco antes do abrupto fim do seu último governo, peitou outra potência internacional, ao exigir da França bilhões de dólares como indenização por aquele pagamento forçado no século 19, logo após a independência haitiana. A França não gostou e só permitiu que o Conselho de Segurança da ONU aprovasse ajuda militar ao Haiti depois da saída do presidente.
Fonte: BBC Brasil
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