MEU TESTEMUNHO - PRIMEIRA PARTE

Cartaz dos anos 30 onde se afirma que o comunismo despreza a religião

Por Cléber Sérgio de Seixas

Confesso aos leitores deste blog que estou meio sem tempo para escrever no mesmo, visto que iniciei minha faculdade no mês passado, o que me obriga a dividir meu tempo entre trabalho, faculdade e manter este blog. Já pensei até em desistir, mas não o farei tão facilmente, visto que já me sinto compromissado com os que me lêem, apesar de saber que não sou nenhum grande escritor nem expert em nada. Agradeço àqueles que direta ou indiretamente têm dado sua contribuição para que meu ânimo continue em alta no que tange à manutenção deste blog.

Estou há dias esperando uma oportunidade para dar uma resposta ao comentário do leitor José Fialho. Só o faço agora, atrasado, por força das circunstâncias, que não me têm sido favoráveis, como afirmei anteriormente. Mas devo fazê-lo por ter ficado extremamente emocionado ao saber que pessoas do outro lado do mundo, especificamente em Portugal, estão lendo este modesto blog.

No dia 17 de maio deste ano postei um artigo intitulado O Maior Comunista é Deus. Neste artigo eu afirmo que há mais coincidências do que divergências entre o cristianismo e o comunismo do que supõe tanto cristãos quanto comunistas ortodoxos. Afirmei também que “Creio, hoje, que uma crença, seja qual for o segmento religioso, jamais pode servir como elemento justificador de qualquer tipo de injustiça”. Vou dar um exemplo hipotético. Suponha um cristão que viva numa cidade onde o prefeito pratica corrupção e age de forma a prejudicar toda a municipalidade. Se o cristão for um fundamentalista, ou seja, alguém cujas ações são sempre fundamentadas ao pé da letra bíblica, mesmo sendo direta ou indiretamente prejudicado pelas ações do prefeito corrupto, ele deverá guiar-se, por exemplo, pelo versículo que diz que “todo homem esteja sujeito às autoridades superiores, porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas” (Rm13:1). Portanto, seguindo o ponto de vista do apóstolo Paulo, mesmo que o munícipe cristão esteja absolutamente certo jurídica e políticamente, deverá submeter-se – não rebelando-se - ao prefeito pois ele é “ministro de Deus para teu bem” (Rm13:4). Em outras palavras, o cristão e cidadão deverá suportar, mesmo que de dentes cerrados, as consequências da corrupção praticada pela mais alta instância do poder executivo no município. Outro exemplo seria o de um funcionário que suporta por anos a fio os desmandos e maltratos do patrão porque este último seria um instrumento nas mãos de Deus para sua disciplina.

Não quero me alongar aqui em questões de exegese bíblica, mas afirmo que, independente da interpretação, não creio que seja vontade de Deus que a opressão seja justificada pela interpretação bíblica. Até que ponto a bíblia deve ser um conjunto de cânones a serem obedecidos sem questionamentos é algo a ser repensado e reconsiderado pelos cristãos, seja qual for a vertente a que pertençam.

Cartaz dos anos 30 em que o comunismo mata a liberdade

Em resposta ao artigo O Maior Comunista é Deus, o caro leitor José Fialho, postou um comentário que reproduzo abaixo na íntegra. Em seguida prosseguirei em meu raciocínio.

"Quando li este artigo, minha alma vibrou de alegria, qual copo de água fresca, após caminhada forçada debaixo de sol ardente. Vivo nos dias de hoje, uma procura incessante e incansável de harmonização entre o passado, o presente e o futuro. Fui durante anos marxista/leninista convicto, militante ativo, companheiro fiel, camarada solidário, político autêntico, ateu por conseqüência doutrinária, irresignado à injustiça e à crueldade religiosa. Hoje convertido, professando a religião Evangélica Baptista, na tentativa de encontrar um caminho que me aproxime da santidade de Jesus Cristo, afirmo convictamente ter encontrado a essência da vida, em Jesus. Sou hoje, afirmo-o categoricamente, um homem novo, diferente para melhor, pois vivo com Deus no coração. Mas na essência, continuo como sempre fui, humanista, solidário, fraterno, fiel, companheiro, amigo... Descobri em suma, características que ja me eram inerentes, enquanto comunista, que são apanágio do irmão cristão de hoje. Descobri, pois, que são muito mais as características que unem comunismo e cristianismo, do que as que opõem. Começava a notar, porém, alguma perplexão quando me afirmava comunista cristão, por parte dos irmãos. Uns, talvez procurando uma saída épica para a situação, achavam o máximo, um comunista convertido-que grande milagre-, outros achando que uma coisa não combinava com a outra, provavelmente achando uma maluquice do Português, e outros ainda (comunistas) achando que tinha pirado de vez. Bem a verdade, é que como ilustrado no texto, nem todos os comunistas se opunham ao cristianismo, e muito menos ferozmente, como foi larga e erradamente difundido, a par com outras enormidades do dtipo "comer criancinhas ao pequeno almoço". Mas não foi só em Cuba que a Igreja Católica e os Cristãos ombrearam lado a lado, com o comunismo. Em Portugal onde fui Prefeito e diretor local do Partido Comunista Português durante vinte anos, não só convivemos pacifica e cordialmente com os cristãos, como construímos conservamos, e melhoramos muitas igrejas, como colaboramos com a obra social e religiosa delas. Além de que mais de 30% dos membros e militantes comunistas locais serem cristãos. Tendo convivido e participado desta realidade, nada mais natural, para mim, afirmar alegremente em simultâneo a minha condição de comunista cristão, ou cristão comunista, dando continuidade pratica a uma colocação ativa de partilha, solidariedade, companheirismo, fidelidade e fraternidade, temperada agora, com a crença nas promessa de um Deus Vivo, onipresente, onipotente, misericordioso, bondoso e amoroso. Também como o irmão, tenho a certeza que Deus além de nos premiar com a salvação e a vida eterna, qual sublime promessa, para o homem pecador, nos quer igualmente proporcionar, uma vida mais fraterna, mais justa e solidária, mais equitativa, mais confortável e feliz, aqui na terra. Como porém, a nossa "passagem" por esta terra, está subordinada ao "livre arbítrio" de que todos fomos dotados, cabe-nos a nós "seres viventes", criados para dominar sobre toda a terra, mas não uns sobre os outros, encontrar a forma de governo ideal para obter esse desiderato. Eu acredito, que a seguir à democracia, a forma de organização política mais consentânea com a felicidade humana é o comunismo na sua forma pura, temperado com as humanidades cristãs. Não se diga, que isso não existe, que é mera utopia, e que no cerne o comunismo é um regime cruel, despótico e escravizante, porque algumas tentativas falhadas, nas quais não me revejo nem nunca me revi, antes pelo contrário condeno, conspurcaram, uma filosofia essencialmente humanitária, redistributiva e equitativamente justa. Da mesma forma que algumas práticas cristãs, envergonharam e envergonham os irmãos católicos, pela sua crueldade e nepotismo, mas nem por isso deixam de se afirmar como um ideal cristão para a salvação do homem".

A experiência de José Fialho é inversa à minha, mas não antagônica em essência. Vou tentar ser breve contando meu testemunho, tomando o cuidado de fazê-lo com a maior humildade possível.

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