O LEGADO DO 11 DE SETEMBRO - PRIMEIRA PARTE

Por Cléber Sérgio de Seixas

Em 2001 eu ganhava o pão trabalhando com suporte a usuários numa empresa do ramo de informática. Relativo silêncio imperava no meu ambiente de trabalho, condição sine qua non para o bom desempenho das funções que eu e os demais desempenhávamos. Contudo, aquela normalidade que poucas vezes era quebrada, o fora naquele dia quando meu patrão, normalmente de poucas palavras, adentrou exaltado em nosso setor dizendo que terroristas tinham atacado os Estados Unidos usando aviões como bombas. Naquela época em que tudo parecia "pegadinha" e as informações na Internet não fluiam na mesma rapidez que hoje, não acreditamos, a princípio. A verossimilhança, contudo, faria notória aquela fatídica data que entraria para as memórias e para a História como o dia em que um símbolo da pujança comercial dos Estados Unidos ruiu feito castelo de cartas, sepultando sob seus escombros milhares de trabalhadores inocentes.

Quando, em 11 de setembro de 2001, dois aviões chocaram-se contra as torres gêmeas do WTC, o mundo, sobretudo o imaginário estadunidense, também chocou-se diante do inesperado ataque. Desde Pearl Harbour não se viu nada semelhante em território norte-americano. É fato que os cidadãos dos Estados Unidos foram pegos de supresa, o mesmo não podendo ser dito com segurança sobre as autoridades daquele país. O episódio acirrou a "doutrina Bush", ou seja, o ímpeto imperialista e intervencionista pautado por interesses geopolíticos, econômico-financeiros, e incensado pelo fundamentalismo dos Teocons e pelo pragmatismo dos Neocons. Talvez historiadores elegam aquela data como marco de uma mudança de era ou a qualifiquem como simples fato de uma era de mudança na qual o paradigma da hegemonia norte-americana foi questionado.
De lá para cá o imperialismo da nação do Tio Sam acirrou-se. Pode-se, com toda segurança, afirmar que o atentado às torres gêmeas veio a calhar aos objetivos imperialistas e intervencionistas de Bush e asseclas. Depois de 2001 vimos o Iraque ser invadido sob a desculpa esfarrapada de que Saddam Hussein estivesse escondendo e produzindo armas de destruição em massa - afirmação que foi recentemente desmentida e que por muito tempo encobriu o objetivo verdadeiro que era o ouro negro que aquele país oculta em seu subsolo. Também vimos o Afeganistão ser invadido sob a alegação de que estaria servindo de abrigo a Bin Laden e a membros da Al Qaeda. Assistimos o julgamento de Saddam e o do povo estadunidense sobre um presidente que deixou o cargo como o mais impopular da história dos EUA. Em seguida presenciamos, estupefatos, uma nação que tem a triste memória de um passado permeado pelo racismo contra os negros eleger um negro para a Casa Branca; casa que, quem sabe, fora assim batizada para deixar de fora da esfera dos interesses que ela representa, os indivíduos de cor. Mais estupefatos ainda estamos ao constatar que o negro que agora ocupa a cadeira de presidente dos EUA promete endurecer a campanha no Afeganistão, enviando mais tropas, ao mesmo tempo em que não consegue tirar do papel a promessa de melhorias no serviço de saúde público americano, que é tão ou mais ruim que o oferecido nas terras tupiniquins.
A América Latina também tem tido seus dias inglórios sob a égide da grande águia do Maine, que parecia adormecida. Recentemente, os latino-americanos foram surpreendidos pela reativação da famigerada Quarta Frota. Também é oportuno citar o golpe de Estado midiático (patrocinado pela mídia Venezuelana) que apeou Chávez do poder em 2002, e mais recentemente o que arrancou da presidência de Honduras Manoel Zelaya - ambos eruditos exemplos de que a política intervencionista de Washington nas terras abaixo do Rio Grande não são águas passadas, como alguns julgam.

Oito anos depois muitos indagam se o mundo se tornou um lugar mais perigoso em face do despertar da águia de rapina norte-americana. É possível ousar afirmar que sim, o mundo se tornou um lugar mais perigoso depois do 11 de setembro de 2001 se considerarmos que o legado dos eventos desta data fez o mundo retroceder pelo menos uns trinta ou quarenta anos, ressuscitando acontecimentos próprios de uma época em que o mundo era bipolar, golpes eram patrocinados pela CIA e ditaduras eram cevadas e louvadas pelos interesses estadunidenses.

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