O OCASO DAS FERROVIAS - DO METRÔ AO APAGÃO RODOVIÁRIO

Por Cléber Sérgio de Seixas



No meu deslocamento diário casa-trabalho, utilizo dois meios de transporte: ônibus e metrô. Até o local onde desembarco do ônibus, são cerca de 40 minutos. Já no metrô, o tempo é de 25 minutos. Assim sendo, gasto, em média, 1 hora e 5 minutos para chegar ao trabalho, não levando em conta o trajeto feito a pé. Se eu dependesse somente de ônibus, poderia ser acrescentado a este tempo pelo menos mais 40 minutos.

No último dia 22 os metroviários de Belo Horizonte resolveram cruzar os braços numa greve cujas motivações vão do aumento de salário às reivindicações por melhores condições de trabalho. Apesar das recomendações do TRT para que uma escala mínima fosse respeitada, a categoria optou pela paralização total dos serviços. Como consequência, no primeiro dia da greve, a capital mineira quase parou. Engarrafamentos ocorreram em várias vias e cruzamentos da cidade; os ônibus ficaram super lotados, dificultando ainda mais a vida de quem se deslocava para o trabalho.

Metrô vazio: no dia 23/06 muitos usuários não sabiam que o metrô estava funcionando



Do dia 23 até ontem o metrô operava em escala mínima, nos horários de 05:30 às 08:00 e das 17 às 19 hs durante os dias da semana. Com tal escala, a população que depende deste meio de transporte se viu em maus lençóis, tendo que apelar para os famigerados e ineficientes lotações.



Toco neste assunto não para condenar os grevistas, nem tampouco para menosprezar suas petições, que , diga-se de passagem, considero razoáveis. O que quero pôr em relevo é a falta que faz um meio de transporte coletivo de qualidade numa grande metrópole como Belo Horizonte. Já toquei neste assunto noutro momento neste blog (clique aqui para ler o que já escrevi sobre o assunto). Gostaria de retornar ao tema aproveitando o ensejo da greve dos metroviários, cujo término se deu ontem em virtude de um acordo conciliatório registrado junto ao TST, em Brasília.

Um vazio na plataforma



Com o metrô parado, os indivíduos que estariam se deslocando através deste meio de transporte, logicamente, tiveram de optar por outro. Quem tiver condições, vai escolher uma modalidade de transporte individual, carro ou moto. Por outro lado, a quem não gozar deste privilégio, restará o transporte coletivo representando pelos ônibus, que na maior parte das vezes viajam acima da capacidade máxima de lotação. Como consequência disto, o volume de veículos automotores circulando aumentará drasticamente. Se com o metrô rodando o trânsito em BH não é lá essas coisas, imagine na falta desta alternativa de deslocamento.



Na chamada hora do rush é que se acentuam os problemas decorrentes da inexistência de um transporte coletivo eficiente. Se em virtude de uma paralização do metrô cada indivíduo resolver tirar seu carro da garagem e se lançar numa epopéia pelos grandes corredores de deslocamento das metrópoles e megalópoles, o que será do tráfego? Será a hora e vez do caos urbano no trânsito! Diante disto temos que refletir sobre o quão importante é o transporte ferroviário de passageiros.



Como neste país há muitos anos se prioriza o modal rodoviário em detrimento do ferroviário, projetos como o da expansão da linha 1 do metrô de Belo Horizonte e da criação das linhas 2 e 3, por enquanto, são só esperanças. Rumores dizem que somente o ramal Calafate-Barreiro ficaria pronto até a Copa do Mundo de 2014, a ser realizada no Brasil - às vezes fico a imaginar o trânsito em BH num dia de jogo da seleção no Mineirão! Enquanto não se concretizam essas promesas, quem depende do transporte coletivo continua padecendo de um sistema ineficiente, com trajetos lentos percorridos em veículos mal conservados e desconfortáveis, pagando passagens caras. Até que as obras estejam concluídas, fica a pergunta: nosso transito aguentará até lá sem que seja vitimado por um colapso total?

No livro “Não Verás País Nenhum” o jornalista e escritor Ignácio de Loyola Brandão faz a narrativa de um futuro sombrio quando o trânsito numa grande cidade simplesmente pára. Nesta obra de ficção, as pessoas vêm a óbito dentro de seus veículos em virtude do “apagão” rodoviário. Não podemos cair na tentação da futurologia e ousar dizer que a vida vai imitar a arte num futuro próximo. O que podemos e devemos é repensar nossos modais de transporte e priorizar o ferroviário, sobretudo o eletro-propulsado, tal qual o metrô, por se tratar de um tipo de transporte que polui menos, é mais rápido, mais confortável, mais seguro e, sobretudo, mais eficiente.

Comentários