"NUNCA ACREDITEI NO FRACASSO"

Da redação da revista Carta Capital

No dia 7 de setembro, durante as comemorações do 187º aniversário de Independência do Brasil, o delegado Protógenes Queiroz vai se filiar a um partido político e se preparar para concorrer, em 2010, a uma vaga na Câmara dos Deputados. Em estado de graça desde a apresentação da nova denúncia contra o banqueiro Daniel Dantas, em 6 de julho, a dois dias do primeiro aniversário da Operação Satiagraha, Queiroz decidiu reforçar o número de viagens e palestras (mais de cem, em um ano) que faz país afora. Sobretudo depois de ter sido afastado da Polícia Federal, em abril, sob a acusação de “participação em atividade político-partidária”, por ter subido no palanque, em setembro de 2008, no comício de um candidato do PT à prefeitura de Poços de Caldas, em Minas Gerais. Na quarta-feira 8, enquanto se preparava para participar de um evento contra a corrupção no Rio de Janeiro, Protógenes Queiroz falou, por telefone, à CartaCapital.

CartaCapital: O senhor foi afastado, primeiro, do comando da Operação Satiagraha, depois, das funções de delegado. Em algum momento, achou que aquele trabalho de investigação iria fracassar?
Protógenes Queiroz: Nunca acreditei que todo o esforço de investigação da Satiagraha, ao longo de quatro anos, fosse fracassar. Sempre acreditei na capacidade técnica dos meus companheiros da Polícia Federal, apesar de muitos lá dentro terem sofrido os mesmos problemas que sofri.

CC: Que problemas?
PQ: Principalmente de remoção de efetivos, de diminuição de agentes e de pessoal para analisar as informações. Mas, como se viu, isso foi superado.

CC: Como o senhor recebeu a notícia da denúncia formulada pelo procurador Rodrigo De Grandis, do Ministério Público Federal de São Paulo, contra Daniel Dantas e outras treze pessoas ligadas ao Opportunity?
PQ: Isso me deu um sentimento de dever cumprido. Não só para mim, mas para toda a sociedade brasileira, porque ficou claro que, depois da Operação Satiagraha, não há mais espaço para corruptos e corruptores no Brasil. Por isso, é importante mostrar que esse trabalho foi levado adiante para o bem do País. A denúncia do Ministério Público reafirma e confirma o conteúdo de todos os dados coletados pela Operação Satiagraha, ao longo de quatro anos.

CC: O que o senhor achou de mais importante na denúncia do MP?
PQ: Um ponto muito importante será a abertura de um inquérito policial para investigar a unificação da Brasil Telecom com a Oi (a BrOi). Todo esse processo de unificação foi fraudado, conforme se apurou durante a Satiagraha e pode ser constatado por documentos e pelos e-mails trocados entre os envolvidos. As provas coletadas pela Satiagraha demonstram a existência de esquemas de caixa 2 e transferência de cotas societárias entre empresas que não existem. Enfim, um esquema criminoso paralelo comandado pelo banqueiro condenado Daniel Dantas.

CC: Por que esse inquérito não foi aberto antes pela Polícia Federal?
PQ: Não sei. Mas eu pedi a abertura dele há um ano, com todas as provas que agora estão aí apresentadas pelo Ministério Público. Acho que a PF fez uma avaliação primária do caso, deu prioridade a outros fatos. Poderia ter tocado esse inquérito paralelamente, mas não fez. Foi preciso o MP tomar essa iniciativa.

CC: É possível, com essa denúncia, descobrir se houve, de fato, fraude na unificação das teles?
PQ: O Ministério Público aproveitou, integralmente, todos os dados coletados pela Operação Satiagraha. Com isso, não deu espaço para a defesa de Daniel Dantas alegar inconsistência da investigação ou das provas. São dados que revelam completamente um esquema criminoso muito bem montado.

CC: O que mais se pode esperar da Operação Satiagraha?
PQ: O Ministério Público pediu a abertura de mais três inquéritos, isso com todo o material coletado durante a operação. O que vem pela frente, não tenha dúvida, é que vão aparecer nomes de altas autoridades da República e de políticos. Também vai ficar claro o envolvimento de partidos políticos no esquema de Daniel Dantas. Está tudo no HD (disco rígido) apreendido pela Operação Chacal (em 2004, no computador central do Opportunity, no Rio).

CC: E a qual partido político o senhor vai se filiar, afinal?
PQ: Ainda não me decidi, até porque o quadro político-partidário no Brasil é uma tragédia. Mas será em um partido que possa reconhecer a importância da minha luta e a dimensão do que isso significa, hoje, no Brasil.

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