A HUMANIDADE NO MUNDO DA LUA
Por Cléber Sérgio de Seixas
Há exatos 40 anos o homem chegava à lua. A aventura é descrita como um dos maiores feitos da humanidade, só comparável à aventura da descoberta do novo mundo, levada à cabo pelo genovês Cristóvão Colombo. Ao pisar na lua, o astronauta Neil Armstrong disse que se tratava de um pequeno passo para o homem e um grande passo para a humanidade. A aventura da Apolo 11 tem que ser analisada dentro do contexto da corrida espacial em cujos pólos estavam soviéticos e norte-americanos. Também deve ser ressaltado que os projetos de exploração do espaço eram uma vertente menos belicista do processo chamado Corrida Armamentista, que por sua vez foi uma das facetas da Guerra Fria. Sob este prisma, a Corrida Espacial não pode ser dissociada da disputa entre os modelos econômicos capitalista e socialista. Estava em jogo, então, muito mais que quem lançaria mais foguetes, exploraria mais mundos ou enviaria cosmonautas mais longe no espaço.
Os russos saíram à frente na corrida espacial lançando o primeiro satélite artificial, o Sputnik, em outubro de 1957. No mês seguinte, o Sputnik II levava ao espaço o primeiro ser vivo, a cadela Laika, que teria morrido carbonizada no interior do modulo super aquecido. Novamente, a URSS se destacaria na corrida espacial ao enviar ao espaço o cosmonauta Yuri Gagarin a bordo da Vostok I - a primeira vez que um ser humano ia tão longe.
O programa americano tentou, sem sucesso, rivalizar com o russo nas conquistas. Assim sendo, se os russos tinham conquistado o espaço, restava aos americanos conquistar o nosso satélite natural, a Lua. A resposta dos americanos veio em 20 de julho de 1969. Armstrong e Aldrin foram os primeiros humanos a pisar em solo lunar. Enquanto os emissários da NASA desembarcavam no local lunar conhecido como “Mar da Tranqüilidade”, aqui nesse pequeno planeta habitado, muitos desejavam viver tranqüilos e desfrutando dos mais básicos direitos humanos. Quarenta anos depois, nem sei se podemos falar em direitos humanos para a grande parte dos seres humanos, já que a maioria nem tem garantidos para si os mais básicos direitos animais, como comer, beber e abrigar-se.
Na lua os astronautas norte-americanos deixaram uma placa com os seguintes dizeres: “Aqui os homens do planeta Terra pisaram pela primeira vez na lua. Julho de 1969. Viemos em paz, em nome de toda a humanidade”. Diante da frase supracitada devemos refletir sobre a suposta propriedade da afirmação. Estariam os norte-americanos, ali representados por alguns astronautas, qualificados para fazer tal afirmação? Se alguém arriscar-se a dizer “sim”, devemos refrescar-lhe a memória dizendo que, já em 1969, os americanos estavam envolvidos até o pescoço numa campanha militar assassina contra um país pobre e infinitamente inferior em termos bélicos e econômicos: a Guerra do Vietnã. Em outras palavras, de que adianta explorar novos mundos, e neles deixar afixados dizeres que evocam a paz, se aqui na terra inexistem paz, justiça social e harmonia? Da mesma forma, baseados em que os norte-americanos ousaram – e continuam ousando - arvorar-se em representantes “de toda a humanidade” ao pisarem na lua? Não deveriam ter reelaborado a frase para afirmar que foram à Lua em nome dos interesses imperialistas de uma nação que se pretende representante de toda a humanidade?
Portanto, sou obrigado a discordar de Armstrong e dizer que a conquista da lua foi apenas um pequeno passo para uma humanidade que ainda nem conseguiu resolver os problemas de seu próprio planeta e, no entanto, sonha em conquistar o espaço. A lua foi conquistada mas a humanidade ainda vive no mundo da Lua.
Finalizo então com as seguintes perguntas: a quem interessa a descoberta de novos mundos? Reproduzir-se-iam em planetas colonizados pelos humanos as mesmas desigualdades que vitimam a maioria esmagadora da população terrestre?
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