Codinome Bacuri

Por Cléber Sérgio de Seixas

Enquanto o país ainda comemorava a conquista do tri-campeonato mundial pela seleção de futebol em 1970, alguns brasileiros tinham pouco a comemorar. Vivia-se os chamados anos de chumbo no Brasil. Sob as botas dos militares muitos padeciam a tortura, o exílio e a morte.

Carlos Marighela, Lamarca, Joaquim Câmara e tantos outros já haviam tombado. Outros se encontravam nas prisões sendo torturados, e outros tantos, a maioria, calados. Um deles, cuja morte faz hoje 39 anos, foi um dos que mais padeceu nas mãos da ditadura e seus lacaios. Trata-se de Eduardo Leite, apelidado de Bacuri.

Eduardo Collen Leite nasceu em Minas Gerais no ano de 1945. Era técnico em telefonia. Começou a militar muito cedo no POLOP ( Política Operária ). No ano de 1967 serviu as forças armadas na 7ª Companhia de Guarda e depois no Hospital do Exército no bairro do Cambuci. Em 1968 entrou para a VPR ( Vanguarda Popular Revolucionária ), onde militou até o ano de 1969 e no mês de abril daquele ano se desligou da VPR para fundar a REDE ( Resistência Democrática ) e, posteriormente, ele e alguns militantes da REDE foram para a ALN (Ação Libertadora Nacional ). Em março de 1970 participou do sequestro do cônsul do Japão e, em julho do mesmo ano, do sequestro do embaixador alemão. Quando fazia os preparativos para o sequestro do embaixador inglês, foi preso pelo delegado Fleury e sua equipe.

Ficou vários dias preso e depois desapareceu. A versão divulgada pela imprensa na época foi a de que Bacuri teria fugido após acompanhar a diligência na qual Joaquim Câmara, o Toledo, fora preso. No dia 25 de outubro de 1970 os jornais noticiaram a suposta fuga. Jornais com esta notícia teriam sido mostrados ao próprio Bacuri quando ele ainda estava preso no DOPS - um claro indício de que planejavam sua execução. Um policial cujo apelido era Carlinhos Metralha afirmou que Bacuri fora levado a um sítio de propriedade do delegado Sérgio Paranhos Fleury, onde ficou vivo até o dia 07 de dezembro de 1970.

Revista Veja de 16 de dezembro de 1970

Foi torturado barbaramente por mais de 100 dias. Neste período deceparam-lhe as duas orelhas, quebraram-lhe ou arrancaram-lhe quase todos os dentes, vazaram-lhe a ambos os olhos, além de toda sorte de escoriações pelo corpo e queimaduras de cigarro. Após a morte de Bacuri, sua esposa fugiu para o Chile, tendo chegado àquele país somente com a roupa do corpo e uma filha nos braços.

Esta e várias outras histórias precisam ser contadas pelos meios alternativos de imprensa. Trazer à lembrança tais fatos não tem como objetivo o saudosismo puro e simples, mas visa desanuviar um passado obscuro no qual estivemos sob uma das mais sangrentas ditaduras do cone sul. Enquanto os arquivos da ditadura brasileira, verdadeira caixa preta em poder dos militares, não forem abertos, a lembrança daqueles que lutaram por um outro Brasil deve sempre ser evocada, para que essa página negra da história não se repita.
.

Comentários

Anônimo disse…
EDUARDO COLLEN LEITE(BACURI): PERSONALIDADE FORTÍSSIMA, DEDICADO COMPANHEIRO DE MILITÂMCIA, ATITUDES HEROICAS E UMA MORTE POR DEMAIS SELVAGEM. ALIÁS, TORTURAS ESSAS QUE SÓ LHE COBRARAM O CORPO, MAS SUA DIGNIDADE DE HOMEM E GUERRILHEIRO E SUA LEALDADE, NEM QUE ELE TIVESSE SIDO TORTURADO NO INFERNO POR SATANÁS E SEUS SEGUIDORES, NÃO O TERIAM FEITO FRAQUEJAR.

BELO EXEMPLO DE CORAGEM, DETERMINAÇÃO E CONFIANÇA NUM PAÍS JUSTO E DEMOCRÁTICO.