VOCAÇÃO OU IMPOSIÇÃO DO MERCADO?
Por Cléber Sérgio de Seixas
Há alguns meses abandonei a faculdade de Economia, área pela qual tenho um certo interesse - sobretudo por Macroeconomia e Economia Política -, porém não o suficiente para me entusiasmar a atuar como economista, cercado de estatísticas e cifras, mas distante do que mais me atrai: o contato com questões sociais. Cheguei a cursar meio semestre e tal escolha não foi fácil para mim, já que redundou na perda da bolsa do PROUNI, com a qual eu dispunha de um desconto de 50% na mensalidade. Confesso que meu sonho é ser sociólogo, porém, é lugar-comum que o mercado para o profissional de sociologia é muito restrito. Assim sendo, por enquanto, optei por outra carreira que, acredito, me dará condições de inserção no mercado de trabalho e ao mesmo tempo me trará mais satisfação pessoal. Inicio o curso de Serviço Social neste semestre, é o mais próximo que consigo chegar da Sociologia.
Trabalho com informática há cerca de dez anos. Já fui office boy, auxiliar de serviços gerais, auxiliar de escritório, auxiliar de almoxarifado, técnico em eletrônica, técnico em processamento de dados, técnico de suporte e atualmente exerço a função de tutor de cursos à distância. A empresa onde trabalho desenvolve softwares para o segmento acadêmico, ou seja, para gestão e controle de faculdades, escolas, cursos livres e afins. Para que os clientes possam utilizar de forma produtiva os softwares oferecidos pela empresa, há a necessidade de treinamento. Os treinamentos se dão da forma presencial e à distância (via internet). É aí que eu entro desempenhando a função de tutor nos cursos à distância, ou seja, acompanhando os alunos no decorrer do curso, corrigindo-lhes as tarefas, incentivando a participação nos fóruns, preparando os ambientes para os cursos etc. Seguindo esta lógica, o convencional seria eu optar por uma carreira ligada às atividades que atualmente desempenho - quem sabe fazendo um curso de Comunicação Social, Pedagogia, Letras etc. Mas se tal fosse a decisão, onde ficaria minha vocação?
Cinco anos após terminar meu segundo-grau, optei por fazer um curso técnico em eletrônica. Hoje reconheço que foi um passo errado, visto que entrei num mercado saturado, no qual os salários não são lá grande coisa e, o que é pior, reneguei minha vocação, que sempre foi mais voltada para as ciências humanas. Acabei caindo no segmento de informática no qual permaneço até hoje.
Talvez quem acompanha este blog há mais tempo não esteja entendendo onde quero chegar com este post no qual abordo minhas frustrações profissionais. Na verdade o ponto nevrálgico da questão é o equilíbrio que, acredito, deve haver entre a vocação e o mercado de trabalho, e que deve ser levado em conta na escolha de uma profissão.
Todo jovem ao terminar o ensino médio se vê diante de múltiplas possibilidades no que tange à escolha da carreira. Indagações surgem aos milhares tais como: “o que é melhor, um curso técnico ou uma faculdade?”. “O que deve ser levado em conta na escolha de uma determinada profissão, o mercado ou as habilidades e vocações?”. O dilema envolve quaisquer jovens, carentes ou não. Contudo, jovens carentes não têm o privilégio de que dispõem aqueles de famílias mais abastadas, qual seja, o direito de errar na escolha profissional. Explico: se um jovem pobre optar por determinado curso em faculdade particular e daqui a 2 anos se arrepender da escolha, terá deixado para trás várias mensalidades já pagas com muito sacrifício, ao passo que um jovem bem nascido sempre terá à sua retaguarda o “paitrocínio”, sempre pronto a dar-lhe suporte nas horas difíceis. Trocando em miúdos, serão muito mais drásticas as conseqüências de uma escolha errada para um estudante pobre do que para um rico. Em suma, o pobre tem menos tempo, dinheiro e direito de errar.
Pensando nas consequências de erros na escolha da carreira, acredito que devem pesar mais na hora de optar por determinado curso/profissão, o dom e a vocação, não as tendências de um mercado em constante mutação. Se o mercado for o norte das decisões profissionais em detrimento da vocação, pode ocorrer, por exemplo, que alguém já estabelecido numa profissão não se sinta mais realizado no que faz e conclua tarde demais que não era aquela a função que queria exercer e nem era aquele o salário que queria ganhar. Assim, foram perdidos tempo e dinheiro e deixados para trás satisfação e realização profissional.
Acredito que uma pessoa que gosta do que faz, mesmo não sendo bem remunerada, estará mais realizada profissionalmente. Abordando a temática de outra forma, alguém que se realize nas atividades que exerce tem maiores condições de se destacar no ofício, o que, automaticamente, redundará em melhores salários. Um indivíduo satisfeito com o que faz será feliz, produtivo e terá maiores condições de ser um dos melhores no que realiza, trazendo benefícios para si, para a empresa onde trabalha e para o meio social onde está inserido. Por outro lado, um profissional insatisfeito não será produtivo, não levará a cabo suas atividades a contento, viverá a reclamar do que faz, irradiando sua insatisfação para os que estão a sua volta. Voltará para casa frustrado, apoiará a cabeça no travesseiro e remoerá os erros do passado. Ruim para si e para os outros. Infelizmente, na atual conjuntura sócio-econômica do Brasil, poucos são os que fazem o que realmente gostam. Quantos talentos o país e as empresas perdem por não haver oportunidades de colocação das pessoas certas nos lugares certos, ou seja, nas funções que elas nasceram para desempenhar?
Gosto de ilustrar a questão da seguinte forma: um macaco pode ser ensinado a nadar, mergulhar, enfim, a ser hábil no meio aquático. Contudo um macaco nunca nadará ou mergulhará tão naturalmente quanto um peixe ou mamífero aquático. O macaco nasceu para se aventurar por entre as árvores, para se dependurar e balouçar de galho em galho, pois este é seu dom, é para isto que ele nasceu. Talvez seja por isso que criaram o adágio “cada macaco no seu galho”. Deixando de lado os trocadilhos, eu, apesar de não ser espírita, creio que cada indivíduo veio a esta terra com uma missão. Cada um tem, no mínimo, um dom, que é seu talento. Os evangelhos bíblicos nos apresentam a parábola dos talentos. Houve um servo que recebeu de seu senhor um talento (moeda) e o enterrou, ou seja, não o multiplicou. No mundo do trabalho não multiplicar o talento equivale a tomar a decisão errada na hora de escolher uma profissão, corresponde a ser improdutivo na atividade que exerce – ser improdutivo é também permanecer estagnado, numa condição em que o profissional sempre vem a reboque dos ditames do patrão. Estagnar-se é tornar-se reativo, numa época em que é pré-requisito curricular a proatividade.
Num tempo em que abrir faculdades é negócio extremamente lucrativo, muitos jovens estão perdidos em suas escolhas acadêmicas, mais interessados na obtenção de um “canudo” do em angariar conhecimentos necessários ao exercício de uma determinada atividade. Tornam-se, assim, presas fáceis de escolas de baixo nível. Algumas profissões estão saturadas no mercado, mas a pergunta que deve ser feita é a seguinte: o mercado está saturado de bons profissionais?
Infelizmente os testes vocacionais pouco ajudam na orientação das escolhas profissionais, haja visto que eles, em sua maioria, analisam a inteligência dos jovens apenas no que tange às habilidades lingüísticas e lógico-matemáticas. Testes de QI, por exemplo, costumam levar em conta somente as duas habilidades supracitadas. Melhor seria – porém não sei se já existe tal método – testar a vocação com base em testes que levassem em consideração as múltiplas inteligências, conforme as teorias de Howard Gardner. Portanto, considerando o que foi dito até agora neste artigo, na escolha de uma profissão devem ser dosados paixão e pé no chão, contrabalançados idealismo e pragmatismo, levados em conta vocação e tendências do mercado de trabalho, sendo que paixão e vocação devem vir sempre em primeiro lugar.
Trabalho com informática há cerca de dez anos. Já fui office boy, auxiliar de serviços gerais, auxiliar de escritório, auxiliar de almoxarifado, técnico em eletrônica, técnico em processamento de dados, técnico de suporte e atualmente exerço a função de tutor de cursos à distância. A empresa onde trabalho desenvolve softwares para o segmento acadêmico, ou seja, para gestão e controle de faculdades, escolas, cursos livres e afins. Para que os clientes possam utilizar de forma produtiva os softwares oferecidos pela empresa, há a necessidade de treinamento. Os treinamentos se dão da forma presencial e à distância (via internet). É aí que eu entro desempenhando a função de tutor nos cursos à distância, ou seja, acompanhando os alunos no decorrer do curso, corrigindo-lhes as tarefas, incentivando a participação nos fóruns, preparando os ambientes para os cursos etc. Seguindo esta lógica, o convencional seria eu optar por uma carreira ligada às atividades que atualmente desempenho - quem sabe fazendo um curso de Comunicação Social, Pedagogia, Letras etc. Mas se tal fosse a decisão, onde ficaria minha vocação?
Cinco anos após terminar meu segundo-grau, optei por fazer um curso técnico em eletrônica. Hoje reconheço que foi um passo errado, visto que entrei num mercado saturado, no qual os salários não são lá grande coisa e, o que é pior, reneguei minha vocação, que sempre foi mais voltada para as ciências humanas. Acabei caindo no segmento de informática no qual permaneço até hoje.
Talvez quem acompanha este blog há mais tempo não esteja entendendo onde quero chegar com este post no qual abordo minhas frustrações profissionais. Na verdade o ponto nevrálgico da questão é o equilíbrio que, acredito, deve haver entre a vocação e o mercado de trabalho, e que deve ser levado em conta na escolha de uma profissão.
Todo jovem ao terminar o ensino médio se vê diante de múltiplas possibilidades no que tange à escolha da carreira. Indagações surgem aos milhares tais como: “o que é melhor, um curso técnico ou uma faculdade?”. “O que deve ser levado em conta na escolha de uma determinada profissão, o mercado ou as habilidades e vocações?”. O dilema envolve quaisquer jovens, carentes ou não. Contudo, jovens carentes não têm o privilégio de que dispõem aqueles de famílias mais abastadas, qual seja, o direito de errar na escolha profissional. Explico: se um jovem pobre optar por determinado curso em faculdade particular e daqui a 2 anos se arrepender da escolha, terá deixado para trás várias mensalidades já pagas com muito sacrifício, ao passo que um jovem bem nascido sempre terá à sua retaguarda o “paitrocínio”, sempre pronto a dar-lhe suporte nas horas difíceis. Trocando em miúdos, serão muito mais drásticas as conseqüências de uma escolha errada para um estudante pobre do que para um rico. Em suma, o pobre tem menos tempo, dinheiro e direito de errar.
Pensando nas consequências de erros na escolha da carreira, acredito que devem pesar mais na hora de optar por determinado curso/profissão, o dom e a vocação, não as tendências de um mercado em constante mutação. Se o mercado for o norte das decisões profissionais em detrimento da vocação, pode ocorrer, por exemplo, que alguém já estabelecido numa profissão não se sinta mais realizado no que faz e conclua tarde demais que não era aquela a função que queria exercer e nem era aquele o salário que queria ganhar. Assim, foram perdidos tempo e dinheiro e deixados para trás satisfação e realização profissional.
Acredito que uma pessoa que gosta do que faz, mesmo não sendo bem remunerada, estará mais realizada profissionalmente. Abordando a temática de outra forma, alguém que se realize nas atividades que exerce tem maiores condições de se destacar no ofício, o que, automaticamente, redundará em melhores salários. Um indivíduo satisfeito com o que faz será feliz, produtivo e terá maiores condições de ser um dos melhores no que realiza, trazendo benefícios para si, para a empresa onde trabalha e para o meio social onde está inserido. Por outro lado, um profissional insatisfeito não será produtivo, não levará a cabo suas atividades a contento, viverá a reclamar do que faz, irradiando sua insatisfação para os que estão a sua volta. Voltará para casa frustrado, apoiará a cabeça no travesseiro e remoerá os erros do passado. Ruim para si e para os outros. Infelizmente, na atual conjuntura sócio-econômica do Brasil, poucos são os que fazem o que realmente gostam. Quantos talentos o país e as empresas perdem por não haver oportunidades de colocação das pessoas certas nos lugares certos, ou seja, nas funções que elas nasceram para desempenhar?
Gosto de ilustrar a questão da seguinte forma: um macaco pode ser ensinado a nadar, mergulhar, enfim, a ser hábil no meio aquático. Contudo um macaco nunca nadará ou mergulhará tão naturalmente quanto um peixe ou mamífero aquático. O macaco nasceu para se aventurar por entre as árvores, para se dependurar e balouçar de galho em galho, pois este é seu dom, é para isto que ele nasceu. Talvez seja por isso que criaram o adágio “cada macaco no seu galho”. Deixando de lado os trocadilhos, eu, apesar de não ser espírita, creio que cada indivíduo veio a esta terra com uma missão. Cada um tem, no mínimo, um dom, que é seu talento. Os evangelhos bíblicos nos apresentam a parábola dos talentos. Houve um servo que recebeu de seu senhor um talento (moeda) e o enterrou, ou seja, não o multiplicou. No mundo do trabalho não multiplicar o talento equivale a tomar a decisão errada na hora de escolher uma profissão, corresponde a ser improdutivo na atividade que exerce – ser improdutivo é também permanecer estagnado, numa condição em que o profissional sempre vem a reboque dos ditames do patrão. Estagnar-se é tornar-se reativo, numa época em que é pré-requisito curricular a proatividade.
Num tempo em que abrir faculdades é negócio extremamente lucrativo, muitos jovens estão perdidos em suas escolhas acadêmicas, mais interessados na obtenção de um “canudo” do em angariar conhecimentos necessários ao exercício de uma determinada atividade. Tornam-se, assim, presas fáceis de escolas de baixo nível. Algumas profissões estão saturadas no mercado, mas a pergunta que deve ser feita é a seguinte: o mercado está saturado de bons profissionais?
Infelizmente os testes vocacionais pouco ajudam na orientação das escolhas profissionais, haja visto que eles, em sua maioria, analisam a inteligência dos jovens apenas no que tange às habilidades lingüísticas e lógico-matemáticas. Testes de QI, por exemplo, costumam levar em conta somente as duas habilidades supracitadas. Melhor seria – porém não sei se já existe tal método – testar a vocação com base em testes que levassem em consideração as múltiplas inteligências, conforme as teorias de Howard Gardner. Portanto, considerando o que foi dito até agora neste artigo, na escolha de uma profissão devem ser dosados paixão e pé no chão, contrabalançados idealismo e pragmatismo, levados em conta vocação e tendências do mercado de trabalho, sendo que paixão e vocação devem vir sempre em primeiro lugar.
Comentários
Infelizmente estou no mesmo barco e optei por Ciências Contábeis em vez de Letras, que eu considero a minha vocação. Estou em um dilema, pois já tenho 26 anos e preciso escolher logo o que fazer...
Também tenho bolsa prouni, de 100%, e se eu desistir do curso não poderei trocar para Letras e perco a bolsa. Infelizmente...
Reginalo