Gripe Suína - reinício das aulas adiado

Origem da gripe suína

Reportagem de Luciane Evans


Em cima da hora, autoridades de saúde de Minas Gerais, sob o argumento de que educadores precisam se preparar para orientar alunos e pais sobre os cuidados com o vírus influenza A da gripe suína, bateram o martelo: as aulas das escolas das redes municipais (algumas cidades do interior ainda não se manifestaram sobre a recomendação) e da rede estadual só recomeçam dia 10. O Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG) e algumas instituições de ensino superior também vão acatar a medida, que deveria ter sido tomada há pelo menos uma semana, pois afeta, só na rede pública, cerca de 5 milhões de estudantes.

A decisão vem ainda acompanhada de contradições. Diferentemente do que se pensava sobre a eficiência dos cinco dias de recesso, para os quais os profissionais de ensino deveriam receber treinamento, como vai ocorrer em outros estados, as autoridades mineiras contam com a criatividade dos diretores e professores para informar estudantes e responsáveis sobre a doença que já matou pelo menos 60 pessoas no país e pode ter feito a primeira morte em Belo Horizonte. “A forma como as informações serão repassadas vai depender do lado criativo desses educadores, que podem fazer oficinas e até mesmo dramatização”, diz o secretário-adjunto da Secretaria de Estado de Saúde (SES), Antônio Jorge de Souza Marques.

O martelo batido às pressas, a pedido do governador Aécio Neves, atinge a rotina escolar de 5 milhões de alunos. Além desse contigente, os universitários também foram pegos de surpresa. Tanto no interior quanto na capital, faculdades particulares e públicas adiaram o retorno das aulas (veja quadro). A gripe afetou ainda o retorno aos estudos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que decidiu adiar o início do período letivo do dia 5 para o dia 13 e a recepção aos calouros para os dias 17 e 18.

A novela se arrasta há pelos menos duas semanas. Antes, as autoridades bateram o pé alegando que em Minas a transmissão do vírus não estava sustentada e que, por isso, não haveria necessidade de adiamento, argumento que durou até quinta-feira, quando o cenário tomou outros rumos. Depois de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul decretarem mudanças nos calendários letivos, Minas ficou em cima do muro e a decisão, que antes era irredutível, tornou-se maleável. “Não é que voltamos atrás, mas achamos essa medida essencial para preparar as escolas”, defendeu o secretário-adjunto.

Embora a gripe esteja há pelo menos dois meses no Brasil, a secretária de Estado de Educação, Vanessa Guimarães, diz que o momento de preparar os educadores é agora. “Nas férias eles descansaram.” Acrescentando que a decisão não é trivial, a secretária afirmou que, na próxima semana, professores e diretores terão muito trabalho pela frente. Antônio Jorge, que aposta na criatividade para o cuidado com vírus, diz que a pretensão é que em todas as escolas da rede pública haja álcool em gel para a higienização de alunos e funcionários. “Mas precisaríamos de 125 mil quilos do produto, que está em falta em todo o país. Por isso, não sabemos se toda a rede vai receber.”

Enquanto justificativas e promessas engrossam o foco sobre a decisão tardia, pais de alunos não gostaram da notícia de última hora e questionam até mesmo a eficiência da medida. Sabendo da alteração do calendário letivo na tarde de ontem, assim como milhares de outros mineiros, Vander Goes Soares, pai de Bruno, de 10 anos, que estuda em uma escola particular da capital, lamenta que as autoridades não tenham feito um planejamento antes de tomar a medida. “Tudo que não é planejado levanta dúvida sobre efeito que terá essa decisão. Isso mostra claramente que não há preparo”, critica.

Na semana passada, Andrea Fontenelle matriculou o filho, Bruno, de 13, em uma colônia de férias. Certa de que as aulas do menino, que estuda em colégio particular, recomeçaria segunda-feira, ela não se preocupou com fim das atividades na colônia. Mas, informada do recuo das autoridades de saúde, não sabe onde deixará o filho. “Por que não decidiram antes? Numa sexta-feira eles noticiam isso? Atrapalha todos os nossos planos”, diz, acrescentando que reconhece a gravidade da gripe e que todo cuidado é essencial. “Só não gostei de ter sido pega de surpresa.”

A decisão tardia, além de deixar Cristina Lizardo sem saber o que fazer com os dois filhos, que estudam na rede estadual, afetou o seu orçamento. Ela é professora particular de alunos da 1ª a 5ª séries e aguardava o retorno das aulas para ganhar dinheiro. “É início de mês, as contas estão aí. Se soubesse do adiamento, teria me programado. Esse recuo me surpreendeu”, reclama, lembrando pessoas que viajaram e voltaram antes para cumprir o calendário letivo. “Elas poderiam ter curtido mais. Sem contar os pais que tiram férias nesta época porque não têm com quem deixar as crianças”, diz.

Em nota, a SES informou que fez 3 milhões de cartilhas educativas sobre o tema, que serão distribuídas nas 46 superintendências regionais de ensino. “Além disso, a comunidade escolar pode enriquecer o trabalho com os alunos. Diretores e professores devem usar reportagens de jornais e da internet”, diz o texto. Outra recomendação é manter os alunos em ambientes ventilados e evitar aglomerações.

Fonte: Jornal Estado de Minas - 01/08/2009

Comentário do Blog: Nessa história toda os professores é que vão pagar o pato pois é provável que poucos serão preparados para orientar e informar os alunos sobre a doença. Ficar só no "lado criativo dos educadores" é muito pouco. No entanto já era de se esperar que as autoridades do estado se eximissem de sua responsabilidade transferindo-a para os educadores, já tão sofridos e sobrecarregados pela lida diária em sala de aula.

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