Matando o álibi

Reproduzo artigo de Marwan Bishara publicado no site da Revista Fórum

A morte de Osama Bin Laden é uma vitória simbólica enorme para a administração Obama, mas realmente muda o jogo para a estratégia dos EUA no “Grande Oriente Médio”?

Após 10 anos de perseguição ao líder da al-Qaeda, responsável pelos ataques de 11 de setembro de 2001, os EUA fecharam um capítulo, mas não o livro, da guerra contra a al-Qaeda e o “terrorismo internacional”.

Desde os ataques em Nova Iorque e Washington, a “al-Qaeda central” que estava sendo dirigida da fronteira Paquistão-Afeganistão, se transformou numa rede global de afiliados.

Os “especialistas em terrorismo” nos EUA estão divididos sobre a relevância da “al-Qaeda central” sob a direta liderança de Bin Laden e seus tenentes, em comparação à rede global de células menores e combatentes incondicionais que juraram lealdade às lideranças ou, para dizer concretamente, à marca: al-Qaeda.

Aqueles que subestimam a importância dos líderes “desconectados e na fuga” na fronteira de Paquistão e Afeganistão realçam a importância da descentralização do grupo.

Eles se referem a ela como um grupo SPIN (por sua sigla em inglês – segmentada, policêntrica, ideologicamente conectada), onde os combatentes da al-Qaeda em várias partes do mundo gradualmente aumentaram sua atuação independente sem ordens diretas ou suporte financeiro e logístico da al-Qaeda central.

Neste sentido, a al-Qaeda é mais um fenômeno global e pós-moderno do que um fenômeno religioso. E agora?

Enquanto ela continua evocando o Islã e a Jihad para ganhar apoio e incitar o ódio contra não-muçulmanos, na realidade, sua organização e extensão, seja pela web ou uso de tecnologia moderna, sempre esteve no centro de seu propósito enquanto rede global.

Seja como for, a morte física de Bin Laden sem dúvida causará um sério atraso psicológico e inspirador para os combatentes da al-Qaeda e suas causas. Mas, para o mundo muçulmano, Bin Laden já havia se tornado irrelevante em comparação à Primavera Árabe que realçou o significado do poder do povo por meios pacíficos.

Também vale relembrar que a al-Qaeda de Bin Laden e seus afiliados mataram mais árabes e muçulmanos do que mataram ocidentais.

E foi somente após falharem em reunir apoio no mundo Árabe que voltaram ao Afeganistão e começaram a alvejar o Ocidente.

Depois de muito se apropriar das causas árabes e muçulmanas através de seus ataques sangrentos a alvos ocidentais, a al-Qaeda foi desacreditada desde 11/9 e sua capacidade organizacional diminuída pelas medidas ocidentais anti-terror.

A al-Qaeda de Bin Laden providenciou à administração Bush a perfeita desculpa para lançar suas desastrosas e custosas guerras no grande Oriente Médio.

Como esperado, as guerras de Washington no Iraque, Afeganistão e Paquistão continuaram a fornecer recrutas novos para a al-Qaeda, além de apoio no mundo muçulmano e de perpetuar um ciclo de violência que arrasou a região na última década.

No entanto, esta foi o mais tácito e menos custoso serviço de inteligência dos EUA e Ocidentais a ser bem sucedido em larga escala a cercear atividades da al-Qaeda, limitando o movimento de seus líderes e eventualmente organizando suas mortes.

Então, o que significa isso para a guerra dos EUA no Afeganistão e no Paquistão? Certamente Washington tem menos razão ou justificativas para financiar uma guerra no Afeganistão agora que Bin Laden não mais existe.

Isso também deve encontrar mais respaldo entre certos líderes Taliban na ausência da mais pungente questão da al-Qaeda, para fazer um acordo que assegure o compartilhamento de poder em favor do Taliban em troca de limitar o uso do Afeganistão pela al-Qaeda para exportar “terrorismo”.

Bin Laden continuará a ser uma distração a curto-prazo, e especialmente se alguns dos grupos da al-Qaeda planejarem ataques de retaliação.

Mas, em longo prazo, são as transformações históricas no mundo árabe e muçulmano que eventualmente fecharão o livro sobre a al-Qaeda.

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