A GERAÇÃO Z E A TECNOLOGIA

Por Cléber Sérgio de Seixas

Uma discussão com o qual gostaria de contribuir com este artigo é aquela que estuda o impacto das novas tecnologias sobre as novas gerações. Não sou pretensioso a ponto de considerar que este pequeno texto vá esgotar o assunto, contudo acredito que algo deve ser dito sobre a relação das novas gerações com os constantes avanços tecnológicos.

Sobretudo nas últimas duas décadas, estamos experimentando uma estrondosa revolução nos meios de comunicação capitaneada pela tecnologia da informação. No bojo dessas transformações, faz-se necessário um debate sobre o tipo de homem que está sendo gestado no âmbito dessa revolução tecnológica. Que nova modalidade ou tipo de ser humano está sendo gerado, configurado, neste universo racionalizado e eficaz da tecnologia? Será um homem oco, sem alma, interiormente vazio e sem abertura à transcendência? Será um homem liberto das amarras que prenderam nossos antepassados a dogmas e preconceitos? Ou será um ser humano que elevou a tecnologia à categoria de seu mais novo deus?

Estudiosos da sociedade denominam a geração nascida de meados da década de 90 prá cá de Geração Z. O z vem de zapear, neologismo que denota a hiperatividade de uma pessoa ao alternar constantemente os canais de televisão via controle remoto, o que indica ansiedade e desatenção. É por aí que podemos descrever as características da Geração Z. São indivíduos que fazem várias coisas ao mesmo tempo: falam ao celular enquanto vêem televisão e utilizam o computador. São indivíduos acostumados aos recursos da World Wide Web (youtube, twitter, MSN, redes sociais), aos celulares de última geração, aos mp3 players, etc. Em outras palavras, são aqueles acostumados a toda espécie de quinquilharias eletrônicas. São indivíduos multitarefados e, por extensão, desatentos e desfocados. São também individualistas, embora alguns os apontem como preocupados com causas sociais.

É fato que a tecnologia tem encurtado as distâncias, mas não estaria também encurtando demasiadamente a capacidade de reflexão das pessoas, sobretudo dos assim chamados representantes da geração Z? A enxurrada de informações da internet não necessariamente redunda em formação. Uma pessoa que passa horas navegando na rede mundial de computadores não necessariamente será alguém bem informado. Com certeza terá muitas informações, mas dificilmente conseguirá convertê-las em conhecimento estruturado.

O que se tem constatado é a substituição da reflexão pelo reflexo. A reflexão é o ato de, quando se faz uma experiência, ponderar sobre a mesma. Já o reflexo é saber o que se deve fazer diante de uma determinada circunstância sem refletir. O uso da tecnologia, portanto, leva a automatismos, não à reflexão. Se você opera uma máquina que exige movimentos repetitivos, para que a reflexão? Se ao operá-la você parar para refletir sobre seu funcionamento, um acidente pode ocorrer. Assim sendo, o tipo de ser humano que é cada vez mais exigido pelas empresas não é aquele que reflete sobre o que faz, mas aquele que executa o que lhe é ordenado sem refletir ou questionar.

O mercado de trabalho louva a chegada deste tipo de indivíduo, pois precisa aumentar exponencialmente suas fontes de mais-valia. Se o patrão puder dispor de um trabalhador cuja capacidade de trabalho equivalha à de três ou cinco, maior será seu lucro. Em minha opinião, os representantes dessa geração tendem a ser mais subordinados, menos questionadores, enfim, mais submissos aos ditames patronais. É, pois, sintomático que loas tenham sido entoadas a essa nova geração que está para adentrar o mercado de trabalho.

Uma das ilusões do homem moderno é acreditar que a tecnologia o deixa mais livre, ou seja, o ser humano será tanto mais livre quanto mais utilizar a tecnologia. Livre para quê, se ainda trabalhamos, em média, oito horas por dia, e quase não nos sobra tempo para o lazer e para o contato familiar? Na prática constatamos exatamente o contrário. A tecnologia tem nos aprisionado. Quantos são os que conseguem passar algumas poucas horas sem o celular? E quantos conseguem ficar uma semana sem checar sua caixa de e-mail. A tecnologia cria necessidades e modifica hábitos. Não cabe aqui dizer que ela é boa ou ruim. Uma faca tanto pode servir para cortar um alimento quanto pode armar um assassino. Tudo depende de quem a utiliza. Assim sendo, não se pode fazer um juízo de valor da tecnologia, mas é mister lançar um olhar sobre como os seres humanos a têm utilizado.

Nós, indivíduos que vivemos no século XXI, estamos cercados de aparatos tecnológicos e umbilicalmente ligados a uma teia mundial de informações, a internet. No entanto, ainda convivemos com miséria, desigualdades sociais e diferenças sociais abissais dentro de um mesmo país – a exemplo do Brasil. Diante de tal cenário, a tecnologia não cumpriu seu papel de redentora. Há exemplos de empresas que, por um lado, utilizam suas tecnologias para o bem estar do ser humano, mas por outro, aliam-se aos mais execráveis interesses, emprestando seu know-how para as causas mais ignóbeis. A IBM, gigante do ramo eletrônico, que muito contribuiu para a difusão e popularização do computador pessoal (PC), em seus primórdios no século passado, também prestou seus serviços à Alemanha de Hitler, tendo colaborado diretamente com o extermínio de milhões de seres humanos que a eugenia nazista considerava indesejáveis. Esta história é magistralmente contada no livro A IBM e o Holocausto, de autoria de Edwin Black. Da mesma forma, a Monsanto, gigante do setor de agricultura e biotecnologia, foi quem criou o agente laranja para os norte-americanos devastarem as florestas do Vietnã durante a guerra, o que deixou e ainda deixa graves seqüelas na saúde dos vietnamitas.

Diante disso, é necessário que os membros da assim chamada Geração Z tenham uma postura crítica em relação às atuações das empresas que os contratarem, sob pena de serem coniventes com possíveis ações perpetradas pelas mesmas. Afinal, precisamos fazer a seguinte pergunta: existimos para a tecnologia ou a tecnologia existe para nós? Utilizamos a tecnologia, mas não podemos nos deixar ser utilizados por ela. Não pode haver uma inversão fetichista onde o objeto se torna o sujeito ou vice-versa.

Comentários

Anônimo disse…
Apesar de vivermos na chamada era da informação e de termos acumulado muito mais conhecimento do que qualquer outra geração passada,é impressionante como a alienação e grande na sociedade.