A DEUS, SARAMAGO!


Por Cléber Sérgio de Seixas

Apesar de já avançado o horário, eu não poderia deixar de registrar aqui a minha tristeza diante do falecimento de José Saramago, escritor de quem sou admirador há algum tempo. Mesmo se tratando de um ateu visceral não posso deixar de dizer: "que Deus o tenha". Não diria "adeus, Saramago", mas "a Deus, Saramago"!

Saramago foi quem projetou a literatura portuguesa contemporânea no mundo, tendo merecido o prêmio Nobel de Literatura em 1998. Posso arriscar três nomes que resumem bem a literatura portuguesa: Camões, Fernando Pessoa e Saramago. Escreveu vários livros, sendo que um deles, O Ensaio Sobre a Cegueira, acabou se convertendo num filme dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles.

Desde sua conversão ao comunismo e filiação ao Partido Comunista Português, Saramago foi um militante incansável das causas sociais. Não vou me alongar aqui em detalhes sobre a biografia deste tão grande escritor que, a partir de agora, é de saudosa memória. Quero apenas salientar a falta que ele fará no campo da intelectualidade e, por que não dizer, da filosofia.

No último post de seu blog, intitulado Pensar, pensar, na verdade uma transcrição de uma entrevista sua à revista Expresso, o escritor assim se manifestou: “Acho que na sociedade atual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de reflexão, que pode não ter um objetivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objetivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, não vamos a parte nenhuma”.

Nesses tempos em que o pensamento único campea, quando existe uma tendência de equalizar os gostos, quando alguns intelectuais se maculam ao emudecerem diante das mazelas sociais - irresponsabilidade disfarçada de silêncio -, quando o fatalismo conduz à aceitação do triunfo do sistema capitalista e sua perversa variante neoliberal, enfim, quando o exercício do pensar crítico e não alinhado torna-se atitude de poucos, homens como Saramago são extremamente necessários, para não dizer imprescindíveis.

Portanto, fará falta um pensador de tão grande calibre. Deixa-nos órfãos, mas não desamparados, visto que sua vasta obra literária ecoará pelos tempos, semeando nos corações e mentes os germes da insatisfação e da busca pela utopia.

Para finalizar, apresento um dos melhores momentos de Saramago. Foi no Fórum Social Mundial de Porto Alegre, em 2005. Saramago fala sobre a democracia numa das mais claras dissertações que já ouvi sobre o sistema político tido por muitos como o ideal para a humanidade. Abaixo o vídeo.



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