VENDEM-SE CANDIDATOS


Por Cléber Sérgio de Seixas

Se no atual sistema econômico tudo é reduzido à categoria de mercadoria, com os candidatos a cargos políticos não poderia ser diferente. Na preparação dos candidatos, saem os cientistas políticos e entram os marqueteiros - especialistas que sabem como ninguém seduzir o consumidor-eleitor. O marqueteiro não necessariamente tem que entender de política, visto que sua especialidade é vender coisas. Assim, na venda da mercadoria chamada candidato, vale-se dos mesmos ardis usados, por exemplo, para vender perfumes, cigarros, bebidas, etc.

Saem a proposta política e o discurso ideológico e entra o capricho com o design do candidato, de forma a torná-lo mais agradável ao gosto popular. Prima-se pela forma e não pelo conteúdo. Se o candidato for barbudo, de aparência sisuda e cause aversão com seu discurso inflamado e radical, que se lhe apare a barba e adocique o falar, transformando-o em candidato “paz e amor”. Se o âmbito for o das cores, que se acrescente branco ao vermelho de forma a torná-lo cor de rosa. Se, por outro lado, o candidato for elitista demais, tachado de “favorito dos empresários”, deve-se varrer isto para debaixo do tapete, deixando à mostra apenas trivialidades como seu relacionamento familiar, sua aparência jovial e decidida e sua suposta religiosidade. Além disto, procure-se identificá-lo com as massas, chamando-o de “homem do povão”, já que empresários não elegem ninguém, minoria que são. Se a elite não tiver nenhuma opção, a mídia pode criar uma formando a opinião dos eleitores com informações sobre uma suposta combatividade de um determinado candidato, escolhido como paladino da justiça e bastião da moralidade. Foi o que ocorreu com Fernando Collor de Mello em 1989.

O candidato que tiver condições de bancar as milionárias campanhas publicitárias terá maiores possibilidades de se eleger. O que não tiver pode ficar a ver navios, a não ser que apele para algum financiamento privado de campanha. Neste caso, se eleito, ficará refém dos interesses de quem o financiou. Aliás, a forma de financiamento de campanhas é um dos maiores vícios de nosso processo eleitoral e uma das provas de que nossa democracia é meramente delegativa e não participativa.

O horário eleitoral seria trágico se não fosse cômico. É oportunidade ímpar para ver indivíduos dos mais variados naipes prometerem o que não podem cumprir, utilizando-se, no caso dos deputados, vereadores e senadores, de poucos segundos para exporem suas idéias mirabolantes. O tempo cedido para a exposição de propostas é escasso para promover a escolha do eleitor e é excessiva a quantidade de concorrentes, o que induz ao voto sem consciência, observado principalmente nos cargos legislativos. Pesquisas já mostraram que a maior parte dos eleitores não se lembra em quem votou para deputado estadual, federal ou vereador nas últimas eleições.

Já se foi o tempo em que políticos aportavam em um determinado partido por convicções político-ideológicas. A palavra de ordem não é mais o ideologismo e sim o oportunismo, norteado pelas regras da situação - se um partido é acusado de corrupção é prudente deixá-lo rapidamente e filiar-se a outro com o intuito de garantir resultados mais favoráveis no próximo pleito. Há aqueles partidos que se colocam sempre ao lado do governo, independente do posicionamento político do mesmo. Um dos mais notórios espécimes de tal modus operandi é o PMDB, que sempre é situação, nunca oposição.

Por sua vez, o eleitor não vota em idéias, ideologias ou partidos e sim em indivíduos, já que idéias são demasiado abstratas e indivíduos são carne e osso, ou seja, no indivíduo o verbo se faz carne. Tal fenômeno pode ser uma herança do caudilhismo, coronelismo ou patriarcalismos afins, outrora comuns na América Latina. Desta forma, o marketing político tem seu foco concentrado na pessoa do candidato, não em questões político-partidárias. Alguns partidos no Brasil sempre foram meras extensões de seus líderes: o PCB de Luís Carlos Prestes, o PDT de Brizola, o PT de Lula, o PSD de JK, o PTB de Vargas, etc. Há que se fazer ainda a seguinte pergunta: haveria cristianismo sem Jesus, socialismo sem Lênin ou pacifismo sem Gandhi?

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