O REINADO DE MOMO TERMINA NO ALTAR
Carnaval, desengano
Deixei a dor em casa me esperando
E brinquei e gritei e fui vestido de rei
Quarta-feira sempre desce o pano
Chico Buarque
Por Cléber Sérgio de Seixas
Quem vê o rei Momo, com toda a sua simpatia e farta adiposidade - apesar de nos dias atuais nem todos os reis momos serem gordos -, não supõe que esta imagem, já consagrada no imaginário da cultura carnavalesca, pouco tem a ver com a imagem do deus Momo da mitologia grega, representante da irreverência e da galhofa, expulso do Olimpo por seu comportamento sarcástico e zombeteiro. Nas Saturnálias, festas em homenagem a Saturno, era escolhido o mais belo soldado romano para ser coroado rei Momo. Em meio à orgia era tratado com toda a pompa, comendo e bebendo até à exaustão. No fim da festa, que durava dias, era violentamente sacrificado no altar de Saturno. Seu reinado durava assim apenas alguns dias, porém, como dizia Vinícius de Moraes, era infinito enquanto durava, pois não conhecia limites de nenhuma espécie. Terminava, então, sobre altar a glória e a folia de momo. Podemos dizer que era a sua quarta-feira de cinzas, sua trágica apoteose.
O Carnaval sempre apresentou como características a inversão de papéis e a irreverência: vemos homens vestidos de mulheres e vice-versa, pessoas comuns travestidas de celebridades e uma disposição de satirizar e zombar das mais variadas situações e pessoas. É, sobretudo, um tempo em que se procura esquecer os problemas quotidianos para mergulhar na folia. É provável que esta comemoração tenha raízes nas festas Dionisíacas e nas Saturnálias, oriundas da Grécia e Roma antigas. Nessas festas, além da folia, ocorria uma teatralização da inversão dos papéis sociais, de forma que o pobretão vestia-se de nobre, o libertino de casto e a prostituta de donzela. Durante as Saturnálias os escravos tomavam o lugar dos senhores e saíam às ruas para comemorar a igualdade entre os homens, cantando e se divertindo em meio a grande desordem, sendo-lhes permitido até mesmo ridicularizar seus senhores em público. O período que antecede a quarta-feira de cinzas foi denominado Carnelevarium (“abandonar a carne”) devido à proibição Católica do consumo de carne na Quaresma.
Muitos artistas já cantaram as tragédias e glórias do Carnaval. Na belíssima canção Retalhos de Cetim, Benito di Paula apresenta a desilusão de um homem que gastou tudo para fazer uma fantasia para a mulher amada desfilar e na hora h a mesma dá o cano: "Mas chegou o Carnaval/ E ela não desfilou/ Eu chorei na avenida, eu chorei/Não pensei que mentia/A cabrocha que eu tanto amei". Já Chico Buarque canta uma desilusão amorosa momesca da seguinte forma: "Carnaval, desengano/Essa morena me deixou sonhando/Mão na mão, pé no chão/E hoje nem lembra não". Na arte como na vida as paixões desses dias de folia são, em sua maioria, passageiras.
O Carnaval é, talvez, a festa que mais caracteriza a cultura nacional. Pena que nos últimos anos a festa tem tido um caráter majoritariamente comercial, o que pode ser ilustrado pelas escolas de samba cariocas onde os destaques são artistas de televisão que tomam o lugar de pessoas comuns das comunidades. Uma festa que era para ser participativa, se transforma num espetáculo para se contemplar.
Se a farra momesca termina no altar, a efêmera alegria carnavalesca do brasileiro termina na quarta-feira de cinzas, mais precisamente após o meio-dia, quando o êxtase dionisíaco perde seu efeito e vai-se embora a alegria artificial, muitas vezes proporcionada por generosas doses etílicas. Tira-se a fantasia e veste-se novamente o uniforme de trabalho. Há quem diga, inclusive, que este país só começa a funcionar, de fato, após o Carnaval.
O Carnaval sempre apresentou como características a inversão de papéis e a irreverência: vemos homens vestidos de mulheres e vice-versa, pessoas comuns travestidas de celebridades e uma disposição de satirizar e zombar das mais variadas situações e pessoas. É, sobretudo, um tempo em que se procura esquecer os problemas quotidianos para mergulhar na folia. É provável que esta comemoração tenha raízes nas festas Dionisíacas e nas Saturnálias, oriundas da Grécia e Roma antigas. Nessas festas, além da folia, ocorria uma teatralização da inversão dos papéis sociais, de forma que o pobretão vestia-se de nobre, o libertino de casto e a prostituta de donzela. Durante as Saturnálias os escravos tomavam o lugar dos senhores e saíam às ruas para comemorar a igualdade entre os homens, cantando e se divertindo em meio a grande desordem, sendo-lhes permitido até mesmo ridicularizar seus senhores em público. O período que antecede a quarta-feira de cinzas foi denominado Carnelevarium (“abandonar a carne”) devido à proibição Católica do consumo de carne na Quaresma.
Muitos artistas já cantaram as tragédias e glórias do Carnaval. Na belíssima canção Retalhos de Cetim, Benito di Paula apresenta a desilusão de um homem que gastou tudo para fazer uma fantasia para a mulher amada desfilar e na hora h a mesma dá o cano: "Mas chegou o Carnaval/ E ela não desfilou/ Eu chorei na avenida, eu chorei/Não pensei que mentia/A cabrocha que eu tanto amei". Já Chico Buarque canta uma desilusão amorosa momesca da seguinte forma: "Carnaval, desengano/Essa morena me deixou sonhando/Mão na mão, pé no chão/E hoje nem lembra não". Na arte como na vida as paixões desses dias de folia são, em sua maioria, passageiras.
O Carnaval é, talvez, a festa que mais caracteriza a cultura nacional. Pena que nos últimos anos a festa tem tido um caráter majoritariamente comercial, o que pode ser ilustrado pelas escolas de samba cariocas onde os destaques são artistas de televisão que tomam o lugar de pessoas comuns das comunidades. Uma festa que era para ser participativa, se transforma num espetáculo para se contemplar.
Se a farra momesca termina no altar, a efêmera alegria carnavalesca do brasileiro termina na quarta-feira de cinzas, mais precisamente após o meio-dia, quando o êxtase dionisíaco perde seu efeito e vai-se embora a alegria artificial, muitas vezes proporcionada por generosas doses etílicas. Tira-se a fantasia e veste-se novamente o uniforme de trabalho. Há quem diga, inclusive, que este país só começa a funcionar, de fato, após o Carnaval.
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