A FRUIÇÃO DA CIDADE

Algumas pessoas tomam sol na praça da Estação, em Belo Horizonte, em protesto pela decisão da prefeitura de proibir eventos em áreas públicas - Foto de Rodrigo Clemente/Agência Estado


A praça! A praça é do povo
Como o céu é do condor
É o antro onde a liberdade

Cria águias em seu calor!


Castro Alves



Por José Lúcio Mendes - produtor cultural e vice-presidente do Sindicado dos Promotores de Eventos de Minas Gerais (Sindiprom)

A Praça da Estação, depois da reforma que permitiu que abrigasse inúmeros eventos populares e políticos, inclusive o Arraial de Belô, promovido pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), por intermédio da Belotur, acaba de se tornar, em janeiro de 2010, no “reduto do vazio” como disse o poeta, pois a PBH resolveu proibir a realização de eventos com base na justificativa de depredação do patrimônio público. As praças das grandes cidades, em sua maioria, estão hoje sob o peso do silêncio e do vazio. A primitiva ideia grega “a plateia democrática do encontro e do convívio” vai se tornar o corpo do inútil e o reduto da ausência. É mais uma praça, entre tantas, que perde sua função social e sua identidade. E ao emudecer perde seu significado real e simbólico.
As praças têm uma função social e foram feitas para o uso democrático do espaço pelo público para o lazer e para as atividades culturais e não só para atividades contemplativas. A Praça da Estação recebe inúmeras linhas de ônibus, metrô e permite o acesso e o deslocamento de moradores de todas as regiões de Belo Horizonte e regiões próximas e seu projeto de reforma foi feito para abrigar eventos. Pesquisa recente indica que 98,7% da população de BH considera que a cidade seria melhor se houvesse mais eventos em espaços públicos. Lazer e eventos respondem por 29% do turismo da capital e, segundo a Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), a cidade está entre as cinco maiores receptoras de estrangeiros que participam do turismo de eventos na cidade.

Cidades criativas são as que mais crescem no mundo e entre os índices que dão a dinâmica dessas cidades estão a tolerância, a tecnologia e o talento. BH está classificada em oitavo lugar entre as cidades criativas do Brasil. O problema da depredação do patrimônio público não vai ser resolvido com o cerceamento do acesso dos cidadãos a esses patrimônios, nem é um problema exclusivamente policial, mas, sim, da ausência de valores. É um problema eminentemente social e cultural. Não é criando “zonas de exclusão” que iremos preservar os espaços públicos e volto a perguntar: preservar de quem e para quem?

A Praça da Estação deveria fazer parte de um corredor cultural que incluísse a Serraria Souza Pinto e a Casa do Conde, que tem um galpão fechado com o espólio da Rede Ferroviária Federal e que, se utilizado, daria quase três Serrarias Souza Pinto. E para a Copa do Mundo de 2014, a Praça da Estação não foi apresentada como um dos locais de grande concentração do público? Lembre-se, prefeito Márcio Lacerda, que o senhor assumiu compromissos com o setor de turismo e eventos de BH que vêm sendo cumpridos paulatinamente, como a recente instalação do Conselho Municipal de Turismo, com a posse dia 1º dos conselheiros, e medidas antidemocráticas voltadas para reduzir os poucos espaços de eventos da cidade não fazem parte de seu perfil administrativo, nem de sua história política. A decisão de liberar a praça seria mais sábia e simples.

Fonte: jornal Estado de Minas - 07/02/2010

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