Dos que amam Ribeirão das Neves
Por Cléber Sérgio de Seixas
Nas vésperas de se completarem 15 anos do massacre de Eldorado dos Carajás (PA), é necessário fazer uma reflexão sobre a postura do poder público e das forças de segurança a ele subordinadas frente aos movimentos sociais. Antes de partir para tal reflexão, gostaria de tecer algumas considerações.
Neste artigo vou da orbi para a urbi a fim de mostrar aos leitores deste blog que em Ribeirão das Neves, cidade onde resido, existem indivíduos preocupados com os rumos sociais, econômicos e políticos da cidade, e que têm capacidade de influir nas decisões que afetam a municipalidade. Um exemplo são os que fazem parte da Rede ‘Nós Amamos Neves’, entidade que congrega vários grupos e movimentos sociais. Antes de passar às reivindicações de tal entidade, é necessário fazer uma breve contextualização histórica, social e econômica do município.
Ribeirão das Neves torna-se cidade em 1953, mas seu surgimento como povoado e distrito remonta ao século XVIII. Seu crescimento se confunde com a instalação em seu território de vários presídios, sendo o mais antigo deles o José Maria Alckmin, inaugurado em 1938. É uma das cidades mais populosas de Minas Gerais, com uma população que já ultrapassou os 300 mil habitantes, distribuída numa área de 154,67 km². Um dos fatores que contribuiu para a explosão demográfica de Neves nas duas últimas décadas foi o desordenado uso e ocupação do solo através da venda de lotes cujos valores não condiziam com a falta de infra-estrutura dos loteamentos.
Neste artigo vou da orbi para a urbi a fim de mostrar aos leitores deste blog que em Ribeirão das Neves, cidade onde resido, existem indivíduos preocupados com os rumos sociais, econômicos e políticos da cidade, e que têm capacidade de influir nas decisões que afetam a municipalidade. Um exemplo são os que fazem parte da Rede ‘Nós Amamos Neves’, entidade que congrega vários grupos e movimentos sociais. Antes de passar às reivindicações de tal entidade, é necessário fazer uma breve contextualização histórica, social e econômica do município.
Ribeirão das Neves torna-se cidade em 1953, mas seu surgimento como povoado e distrito remonta ao século XVIII. Seu crescimento se confunde com a instalação em seu território de vários presídios, sendo o mais antigo deles o José Maria Alckmin, inaugurado em 1938. É uma das cidades mais populosas de Minas Gerais, com uma população que já ultrapassou os 300 mil habitantes, distribuída numa área de 154,67 km². Um dos fatores que contribuiu para a explosão demográfica de Neves nas duas últimas décadas foi o desordenado uso e ocupação do solo através da venda de lotes cujos valores não condiziam com a falta de infra-estrutura dos loteamentos.
A despeito do grande número de moradores, a cidade detém um dos mais baixos IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de Minas Gerais, e convive com a precariedade de serviços públicos como os de saúde, infra-estrutura, educação, cultura e lazer. Neves é considerado um município dormitório, visto que a maioria de seus habitantes trabalha na capital mineira ou em municípios vizinhos. O arremedo de centro industrial da cidade, denominado CIRIN (Centro Industrial de Ribeirão das Neves), concentra poucas indústrias e absorve pouca mão-de-obra local.
Outra característica marcante é a corrupção envolvendo membros do legislativo e executivo municipal, responsável por verdadeira sangria nos cofres públicos. Os exemplos são abundantes:
- Em 2006, todos os políticos do primeiro escalão da cidade (prefeito, vice e os 14 vereadores) tiveram seus bens bloqueados pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) por conta de improbidade administrativa;
- Recentemente, Gracinha Barbosa, prefeita no período de 1989 a 1993, foi condenada por irregularidades na construção de escolas e obrigada a devolver ao caixa do município a quantia de R$ 1.800.000;
- Outro ex-prefeito, Ailton de Oliveira, foi condenado em última instância a devolver R$ 26 milhões aos cofres municipais (leia o artigo "Ex-prefeito foi condenado");
- O atual prefeito Walace Ventura Andrade responde a vários processos no TJMG.
Como se vê, o que Ribeirão das Neves tem sobejamente são políticos corruptos e unidades prisionais, o que lhe valeu a alcunha de ‘cidade dos presídios’ - ao todo são cinco.
Sob intensos protestos da sociedade civil nevense, em 2005 o governo do estado instalou mais um presídio na cidade. Enquanto são questionados na justiça a instalação e o funcionamento do presídio Inspetor José Martinho Drummond, o governo estadual fechou uma PPP (Parceria Público Privada) para a implantação de mais um complexo prisional no município. Será o primeiro presídio construído neste modelo de parceria no Brasil. O empreendimento está sendo construído na Fazenda Mato Grosso – supostamente uma área de proteção ambiental -, e terá capacidade para 3.040 presos, o que aumentará a população carcerária municipal para 7.200 detentos, aproximadamente. Trata-se de um empreendimento lucrativo para o consórcio que toca o "negócio" e extremamente prejudicial à municipalidade. O aumento da população carcerária trará mais conseqüências negativas ao município. Uma delas é a migração dos familiares dos presos para a cidade com o intuito de facilitar as visitações semanais. Outra conseqüência negativa é a estigmatização por conta da idéia de que uma cidade com tantos presídios deve, obrigatoriamente, ser violenta, o que espanta investimentos que poderiam mudar a realidade social do município.
É este o cenário sobre o qual incidem as preocupações dos membros da Rede ‘Nós Amamos Neves’. O movimento entende – e este blogueiro concorda – que a implantação de mais um complexo prisional agravará ainda mais a questão social do município.
Por conta disso, no dia 13 de fevereiro último, lideranças comunitárias e militantes da ‘Rede’ fecharam a BR-040, na altura da região do Bairro Veneza, em protesto contra a construção do complexo prisional supracitado. Por alguns minutos a rodovia foi totalmente bloqueada, sendo liberada em seguida sem nenhum incidente. Na ocasião foram distribuídos panfletos e exibidas faixas com mensagens de protesto.
No dia 10 de abril, integrantes da ‘Rede’ e lideranças comunitárias promoveram a ‘I Caminhada Ecológica Nós Amamos Neves’. O objetivo principal da caminhada era a sensibilização quanto à degradação ambiental levada a cabo pelas obras da construção do novo cadeião. O trajeto seria até o local onde está sendo construído o novo complexo prisional. As autoridades competentes (Polícia Militar, direção do presídio José Maria Alckmin e Transneves) foram previamente avisadas de forma documental, a fim de evitar incidentes. Este que vos escreve foi convidado e lá esteve registrando o evento.
Já na estrada que dá acesso ao canteiro de obras, a caminhada foi barrada por agentes do GIT (Grupo de Intervenções Táticas) armados com escopetas, lançadores de bombas, e acompanhados de um ameaçador cão pastor belga. Para surpresa dos caminhantes, alguns agentes do GIT usavam balaclava e não portavam nenhuma identificação. A estranheza da intervenção também correu por conta de que ali a maioria era constituída de mulheres, crianças, idosos e pessoas sem nenhum potencial ofensivo.
Após momentos tensos, quebrados por discursos enfáticos e protestos dos presentes, um documento foi apresentado pela segurança do presídio informando que os manifestantes não poderiam dar seqüência à caminhada. Em meio a muita polêmica com as autoridades prisionais e com oficiais da PM, a caminhada foi abortada. Os integrantes da ‘Rede’ fizeram um boletim de ocorrência e prometeram fazer novas manifestações no futuro contra a construção do complexo prisional.
O que fica de lição é que os movimentos sociais, embora em grau bem inferior que na era FHC, são sempre demonizados e proscritos. Não fosse o bom senso dos agentes de segurança, da PM e dos manifestantes, quem sabe um novo Eldorado dos Carajás não teria ocorrido em Ribeirão das Neves no dia 10 de abril, haja vista que nos rincões se atira primeiro e se pergunta depois.
Apesar do episódio desagradável, como dizia um certo ex-presidente, a luta continua. Uma batalha perdida não necessariamente significa a derrota numa guerra. A ‘Rede’ continuará sua luta contra um legado cujo teor visa transformar o município numa cidade presídio. Que todos os que amam Ribeirão das Neves se unam contra esta aberração promovida pelo governo do estado e se engajem na luta. Nossa cidade precisa é de emprego, infra-estrutura básica, lazer e cultura. Essa causa contará sempre com o apoio deste blog.
Abaixo reproduzo vídeo com imagens da manifestação.
O que fica de lição é que os movimentos sociais, embora em grau bem inferior que na era FHC, são sempre demonizados e proscritos. Não fosse o bom senso dos agentes de segurança, da PM e dos manifestantes, quem sabe um novo Eldorado dos Carajás não teria ocorrido em Ribeirão das Neves no dia 10 de abril, haja vista que nos rincões se atira primeiro e se pergunta depois.
Apesar do episódio desagradável, como dizia um certo ex-presidente, a luta continua. Uma batalha perdida não necessariamente significa a derrota numa guerra. A ‘Rede’ continuará sua luta contra um legado cujo teor visa transformar o município numa cidade presídio. Que todos os que amam Ribeirão das Neves se unam contra esta aberração promovida pelo governo do estado e se engajem na luta. Nossa cidade precisa é de emprego, infra-estrutura básica, lazer e cultura. Essa causa contará sempre com o apoio deste blog.
Abaixo reproduzo vídeo com imagens da manifestação.
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Comentários
Parabéns pelo artigo e a divulgação da nossa luta que também é sua. É o que eu tenho sempre afirmado, Neves não será mais a mesma, o povo tem tomado para si o gosto de conduzir a sua própria História e com este gesto a transformação irá paulatinamente crescendo nas mentes e ações deste povo que clama por justiça.
Um forte abraço!
Sidnei Martins
não fiquem enganados com esses políticos que tentam abafar toda e qualquer tipo de manifestação e descontentamento.
Isso é o que eles chama de demoniocracia?
Por que não se busca recuperar os detentos e se criam cadeias e mais cadeias no Brasil?
Quem lucra com o medo gerado com a criminalidade?
Abram os olhos povo pacato, pois as coisas no Brasil do Pro-álcool vão de mal a pior.
A segurança pública quer prender cidadão de bem.
O sistema de saúde mata os pobres por falta de atendimento.
As escolas públicas estão a mercê de todo tipo de violência e criminalidade.
Será que os políticos que são eleitos pelo povo passam pelas mazelas que o povo passa?
O Troco pode ser dado nas urnas, não votando em ninguém. Anule seu voto.
"Você de arma na mão,tenha compaixão
Jogue isso no chão e junte-se a união
Você tem essa farda, não passa de um coitado
Não passa de um cidadão é mais um explorado."