A banda larga e o Custo-Brasil de conexão
Por Sérgio Amadeu da Silveira *
O sociólogo Manuel Castells escreveu que “a tecnologia da informação é hoje o que a eletricidade foi para a Era Industrial”. Assim como não foi possível construir grandes plantas industriais sem resolver o problema da geração, transmissão e distribuição de energia, não será possível inserir nenhum país na sociedade da informação sem enfrentar o problema da conexão do conjunto das suas localidades às redes digitais.
Já não é possível pensar em uma empresa competitiva sem que ela esteja conectada à Internet. As escolas cada vez mais necessitam das redes para ultrapassar os métodos conservadores de ensino-aprendizado. Muitos segmentos do comércio e dos serviços estão dependendo de modo crescente das redes para se estruturarem e para atingirem seus objetivos. Do mesmo modo que é impossível pensar no sistema financeiro, nos bancos e no mercado de capitais sem redes de alta velocidade.
Apesar dos apelos bombásticos de alguns pensadores conservadores contra a expansão da comunicação em redes informacionais, não há nada em um futuro próximo que indique que este gigantesco processo de digitalização das atividades humanas irá arrefecer. Ao contrário, os indicadores apontam que estamos no início deste processo. As tecnologias da informação mal começaram a penetrar em nosso cotidiano e no ano de 2009 constatamos que 67 % dos internautas brasileiros utilizaram redes de relacionamento online, também denominadas de redes sociais, 53% assistiram vídeos ou filmes na Internet e 39% fizeram download de músicas e de softwares. Estes números são da pesquisa sobre o uso das tecnologias da informação e da comunicação no Brasil, organizada pelo Comitê Gestor da Internet e estão disponíveis no seu site (HTTP://www.cgi.br).
Podemos notar que as pessoas já utilizam as redes digitais como meio básico não só para o seu trabalho, mas também para a organização de sua vida, seus estudos, sua comunicação e seu entretenimento. Por isso, alguns países já consideram formalmente que o acesso a Internet é um direito humano fundamental. Como usamos cada vez mais os recursos multimídia precisamos que nossa conexão acompanhe as possibilidades que se abrem na Internet. Países como a Coréia, Finlândia, Austrália, Dinamarca, Nova Zelândia têm planos de conectar mais de 70% de seus territórios com 100 Mb de conexão residencial. A Alemanha busca levar às suas residências o mínimo de 50 Mb. E o Brasil? Aqui as operadores de telecomunicação oferecem banda de ¼ de 1 Mb, pelo preço 4 vezes maior do que em qualquer país na Europa Ocidental que dá o mínimo de 2 Mb. O pior é que as operadores garantem apenas 10% do que pagamos no contrato e conexão. Isto quer dizer que se pagamos mais de R$ 100,00 por 2 Mb, na maioria das vezes temos apenas 200 Kbps (kilobit-por-segundo, ou seja, mil bits por segundo).
A velocidade de conexão é muito importante na era informacional. Uma banda larga é como uma estrada com muitas pistas. Nela é possível passar mais carros por segundo do que em vielas estreitas. Quanto maior a largura de banda mais rapidamente podemos navegar, trocar os arquivos digitais e realizar os serviços que queremos na Internet. Por exemplo, quem não tem banda larga no Brasil tem que fazer uma conexão discada, em geral, de 56 Kbps. Uma página de entrada chamada de home page de um portal de notícias tem aproximadamente 750 Kb de informação. Um brasileiro de periferia de São Paulo possui uma conexão de 56 Kbps leva em torno de 107 segundos para abrí-la em seu computador. Já na Alemanha leva-se para carregar a mesma home page apenas 0,15 segundos e na Coréia, não mais que 0,06 segundos.
Uma empresa que precisa receber um CD repleto de informações ou um jovem que quer baixar um álbum de músicas do site Jamendo terão que fazer o download de 700 Mb de informação. Com uma conexão de 56 Kbps levamos 28 horas para baixar este CD. Com a conexão de 2 Mb levamos 47 minutos e com 100 Mb apenas 56 segundos. Um vídeo educativo ou de entretenimento embutido em um DVD de 4 Gb levaria uma semana para ser baixado no computadores de quem tem 56 Kbps, mas apenas 5 minutos para quem já usufrui de uma conexão de 100 Mb. As diferenças são gigantescas. Por isso, precisamos enfrentar rapidamente a ausência de uma infraestrutura que conecte todas as cidades do país com uma velocidade de conexão que seja a mínima aceitável para o mundo em que vivemos.
As operadoras privadas de telecomunicação fracassaram em oferecer banda larga em todo território nacional. Elas quiseram levar conexão de alta velocidade para áreas ricas do país, pois seu objetivo era e é cobrar caro pelo bit transportado em suas redes. Enquanto a O2 na Inglaterra vende 20 Mb por apenas 6 pounds (equivale a R$ 21,00). No Brasil, uma operadora lançou a banda larga popular de até 1 Mb (ou seja, pode ser bem menos que 1 mega) por R$ 29,90. Para isto, conseguiu isenção total de ICMS sobre as atividades de serviços de telecomunicações.
O governo do presidente Lula para enfrentar o enorme “Custo Brasil das Telecomunicações” acertadamente lançou o Plano Nacional de Banda Larga. Entre suas medidas estratégicas, o Plano conta com a recomposição da Telebrás para montar uma grande via de altíssima velocidade que ligaria as diversas cidades brasileiras, também conhecida como backbone ou espinha dorsal da Internet. Para isso, a Telebrás usaria as diversas fibras óticas apagadas que estão à disposição de várias empresas federais. Com tal incremento, a ideia é levar competição ao setor, baixar o preço do custo do Mb para os provedores locais e exigir uma conexão estável e que entregue ao usuário final efetivamente a velocidade que ele está pagando.
O problema é que as operadoras têm outro plano. Querem continuar cobrando caro pelo bit que passa por suas redes e com isto manter seu elevado nível de remuneração, além de não ter que se comprometer em entregar integralmente a velocidade que oferecem. Ao serem questionadas, as operadoras têm um mantra: não levaram banda larga para todo o país devido aos elevados impostos. Sem dúvida, é possível reduzir impostos desde que estas corporações equiparem seus preços com a realidade socioeconômica de nossa população. Mesmo retirando muitos impostos, o preço que as operadoras praticam no Brasil são abusivos e estão entre os mais caros do planeta.
* Sérgio Amadeu da Silveira é doutor em Ciência Política, membro co Comitê Gestor da Internet, professor da UFABC.
Fonte: edição especial da revista Caros Amigos - Mídia: a grande batalha para a democracia.
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O sociólogo Manuel Castells escreveu que “a tecnologia da informação é hoje o que a eletricidade foi para a Era Industrial”. Assim como não foi possível construir grandes plantas industriais sem resolver o problema da geração, transmissão e distribuição de energia, não será possível inserir nenhum país na sociedade da informação sem enfrentar o problema da conexão do conjunto das suas localidades às redes digitais.
Já não é possível pensar em uma empresa competitiva sem que ela esteja conectada à Internet. As escolas cada vez mais necessitam das redes para ultrapassar os métodos conservadores de ensino-aprendizado. Muitos segmentos do comércio e dos serviços estão dependendo de modo crescente das redes para se estruturarem e para atingirem seus objetivos. Do mesmo modo que é impossível pensar no sistema financeiro, nos bancos e no mercado de capitais sem redes de alta velocidade.
Apesar dos apelos bombásticos de alguns pensadores conservadores contra a expansão da comunicação em redes informacionais, não há nada em um futuro próximo que indique que este gigantesco processo de digitalização das atividades humanas irá arrefecer. Ao contrário, os indicadores apontam que estamos no início deste processo. As tecnologias da informação mal começaram a penetrar em nosso cotidiano e no ano de 2009 constatamos que 67 % dos internautas brasileiros utilizaram redes de relacionamento online, também denominadas de redes sociais, 53% assistiram vídeos ou filmes na Internet e 39% fizeram download de músicas e de softwares. Estes números são da pesquisa sobre o uso das tecnologias da informação e da comunicação no Brasil, organizada pelo Comitê Gestor da Internet e estão disponíveis no seu site (HTTP://www.cgi.br).
Podemos notar que as pessoas já utilizam as redes digitais como meio básico não só para o seu trabalho, mas também para a organização de sua vida, seus estudos, sua comunicação e seu entretenimento. Por isso, alguns países já consideram formalmente que o acesso a Internet é um direito humano fundamental. Como usamos cada vez mais os recursos multimídia precisamos que nossa conexão acompanhe as possibilidades que se abrem na Internet. Países como a Coréia, Finlândia, Austrália, Dinamarca, Nova Zelândia têm planos de conectar mais de 70% de seus territórios com 100 Mb de conexão residencial. A Alemanha busca levar às suas residências o mínimo de 50 Mb. E o Brasil? Aqui as operadores de telecomunicação oferecem banda de ¼ de 1 Mb, pelo preço 4 vezes maior do que em qualquer país na Europa Ocidental que dá o mínimo de 2 Mb. O pior é que as operadores garantem apenas 10% do que pagamos no contrato e conexão. Isto quer dizer que se pagamos mais de R$ 100,00 por 2 Mb, na maioria das vezes temos apenas 200 Kbps (kilobit-por-segundo, ou seja, mil bits por segundo).
A velocidade de conexão é muito importante na era informacional. Uma banda larga é como uma estrada com muitas pistas. Nela é possível passar mais carros por segundo do que em vielas estreitas. Quanto maior a largura de banda mais rapidamente podemos navegar, trocar os arquivos digitais e realizar os serviços que queremos na Internet. Por exemplo, quem não tem banda larga no Brasil tem que fazer uma conexão discada, em geral, de 56 Kbps. Uma página de entrada chamada de home page de um portal de notícias tem aproximadamente 750 Kb de informação. Um brasileiro de periferia de São Paulo possui uma conexão de 56 Kbps leva em torno de 107 segundos para abrí-la em seu computador. Já na Alemanha leva-se para carregar a mesma home page apenas 0,15 segundos e na Coréia, não mais que 0,06 segundos.
Uma empresa que precisa receber um CD repleto de informações ou um jovem que quer baixar um álbum de músicas do site Jamendo terão que fazer o download de 700 Mb de informação. Com uma conexão de 56 Kbps levamos 28 horas para baixar este CD. Com a conexão de 2 Mb levamos 47 minutos e com 100 Mb apenas 56 segundos. Um vídeo educativo ou de entretenimento embutido em um DVD de 4 Gb levaria uma semana para ser baixado no computadores de quem tem 56 Kbps, mas apenas 5 minutos para quem já usufrui de uma conexão de 100 Mb. As diferenças são gigantescas. Por isso, precisamos enfrentar rapidamente a ausência de uma infraestrutura que conecte todas as cidades do país com uma velocidade de conexão que seja a mínima aceitável para o mundo em que vivemos.
As operadoras privadas de telecomunicação fracassaram em oferecer banda larga em todo território nacional. Elas quiseram levar conexão de alta velocidade para áreas ricas do país, pois seu objetivo era e é cobrar caro pelo bit transportado em suas redes. Enquanto a O2 na Inglaterra vende 20 Mb por apenas 6 pounds (equivale a R$ 21,00). No Brasil, uma operadora lançou a banda larga popular de até 1 Mb (ou seja, pode ser bem menos que 1 mega) por R$ 29,90. Para isto, conseguiu isenção total de ICMS sobre as atividades de serviços de telecomunicações.
O governo do presidente Lula para enfrentar o enorme “Custo Brasil das Telecomunicações” acertadamente lançou o Plano Nacional de Banda Larga. Entre suas medidas estratégicas, o Plano conta com a recomposição da Telebrás para montar uma grande via de altíssima velocidade que ligaria as diversas cidades brasileiras, também conhecida como backbone ou espinha dorsal da Internet. Para isso, a Telebrás usaria as diversas fibras óticas apagadas que estão à disposição de várias empresas federais. Com tal incremento, a ideia é levar competição ao setor, baixar o preço do custo do Mb para os provedores locais e exigir uma conexão estável e que entregue ao usuário final efetivamente a velocidade que ele está pagando.
O problema é que as operadoras têm outro plano. Querem continuar cobrando caro pelo bit que passa por suas redes e com isto manter seu elevado nível de remuneração, além de não ter que se comprometer em entregar integralmente a velocidade que oferecem. Ao serem questionadas, as operadoras têm um mantra: não levaram banda larga para todo o país devido aos elevados impostos. Sem dúvida, é possível reduzir impostos desde que estas corporações equiparem seus preços com a realidade socioeconômica de nossa população. Mesmo retirando muitos impostos, o preço que as operadoras praticam no Brasil são abusivos e estão entre os mais caros do planeta.
* Sérgio Amadeu da Silveira é doutor em Ciência Política, membro co Comitê Gestor da Internet, professor da UFABC.
Fonte: edição especial da revista Caros Amigos - Mídia: a grande batalha para a democracia.
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