De Eduardo para Tas
Causaram e ainda estão causando polêmica as infelizes declarações racistas e homofóbicas do deputado Jair Bolsonaro em entrevista ao programa CQC. Hoje, a corregedoria da Câmara notificou Bolsonaro (PP-RJ) por quatro representações feitas contra ele por suas declarações durante a entrevista.
Enquanto isso, um grupo de radicais de direita se prepara para fazer um ato em apoio ao deputado pepista na Av. Paulista, centro de São Paulo, no próximo sábado.
É importante frisar que a cada 36 horas um homossexual é morto no Brasil, o que atesta que a homofobia entre os brasileiros é alta, apesar de enrustida.
Enquanto isso, um grupo de radicais de direita se prepara para fazer um ato em apoio ao deputado pepista na Av. Paulista, centro de São Paulo, no próximo sábado.
É importante frisar que a cada 36 horas um homossexual é morto no Brasil, o que atesta que a homofobia entre os brasileiros é alta, apesar de enrustida.
A respeito do "bolsonarogate", o sempre atento e lúcido blogueiro Eduardo Guimarães escreveu uma mensagem ao apresentador do CQC, o pseudointelectual Marcelo Tas. Reproduzo abaixo a mensagem na íntegra.
Prezado Marcelo Tas,
Ouvi, preocupado, entrevista que a sua filha, Luiza, concedeu ontem ao Estadão por conta de você ter mostrado a foto dela e citado o seu nome em seu programa, o CQC, após entrevistar o deputado Jair Bolsonaro pela segunda vez. Então, você revelou que a menina é homossexual e afirmou ter orgulho dela.
Antes de explicar por que fiquei preocupado, porém, quero cumprimentá-lo pela iniciativa de expor seu orgulho. Quantos homossexuais devem ter sofrido com declarações de Bolsonaro como a de que “pai nenhum quer ter um filho gay” ou de que haveria que surrar filhos com tal orientação sexual.
Pena que a exposição de sua filha foi acidental, por controvérsias sobre o seu programa ter dado voz a um energúmeno como Bolsonaro. É preciso que mais celebridades que tenham filhos homossexuais digam que têm orgulho deles, de forma a levantar o estigma injusto, desumano que os fustiga.
Apesar de, politicamente, estarmos em campos opostos, não posso deixar de elogiar a sua serenidade e profissionalismo por ouvir Bolsonaro insultar tanto os gays tendo você uma filha que se enquadra entre os alvos desse infeliz. Jornalista tem mesmo que separar suas idiossincrasias da notícia.
Contudo – e há um porém, como já deve ter intuído –, preocupa-me a forma como você e a sua menina encaram a manifestação pública de barbaridades como as proferidas pelo deputado do PP fluminense na semana passada. É como pai de três meninas (28, 24 e 12 anos) que peço que reconsidere tal opinião.
Tanto ela, na entrevista, quanto você, têm dito em toda parte que não se pode cassar um deputado, retirar um mandato concedido pelo povo, por conta de declarações como as que ele deu sobre negros e homossexuais, sendo as que se referem a negros passíveis de desencadear processo criminal por infração da lei 7716/89, que tipifica crime de racismo.
Mesmo que dos meus quatro filhos (tenho um rapaz de 23 anos), três (os adultos, porque uma é criança) sejam heterossexuais, vivo alarmado com o nível de violência que grassa neste país e que atinge, preferencialmente, os mais jovens. No caso de sua filha, porém, o caso é mais grave, pois os gays são mais vitimados pela violência.
Mas o que desencadeia a violência contra os homossexuais? Não são justamente declarações como a de Bolsonaro que concedem toda uma “lógica” moralista a atos de violência que, para quem pratica, estariam sendo praticados “em defesa” de “valores” como os que o deputado em tela manifestou?
Posso lhe garantir, Marcelo – e qualquer especialista dirá o mesmo, pode consultar –, que muitos desses psicopatas que espancam, torturam ou assassinam homossexuais podem cruzar com a sua filha em alguma festa, em alguma casa noturna ou na própria via pública, sobretudo se ela estiver manifestando carinho por alguém do mesmo sexo.
É assim, meu caro, que, de pai para pai, quero lhe pedir que se convença – e que convença a sua filha – de que as idéias que Bolsonaro está vendendo à sociedade estimulam não só o preconceito, o cerceamento de oportunidades e as agressões verbais, mas, também, a violência física contra os que têm forma de amar diferente da maioria.
Um abraço fraterno, Marcelo. De pai para pai.
Eduardo Guimarães
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Ouvi, preocupado, entrevista que a sua filha, Luiza, concedeu ontem ao Estadão por conta de você ter mostrado a foto dela e citado o seu nome em seu programa, o CQC, após entrevistar o deputado Jair Bolsonaro pela segunda vez. Então, você revelou que a menina é homossexual e afirmou ter orgulho dela.
Antes de explicar por que fiquei preocupado, porém, quero cumprimentá-lo pela iniciativa de expor seu orgulho. Quantos homossexuais devem ter sofrido com declarações de Bolsonaro como a de que “pai nenhum quer ter um filho gay” ou de que haveria que surrar filhos com tal orientação sexual.
Pena que a exposição de sua filha foi acidental, por controvérsias sobre o seu programa ter dado voz a um energúmeno como Bolsonaro. É preciso que mais celebridades que tenham filhos homossexuais digam que têm orgulho deles, de forma a levantar o estigma injusto, desumano que os fustiga.
Apesar de, politicamente, estarmos em campos opostos, não posso deixar de elogiar a sua serenidade e profissionalismo por ouvir Bolsonaro insultar tanto os gays tendo você uma filha que se enquadra entre os alvos desse infeliz. Jornalista tem mesmo que separar suas idiossincrasias da notícia.
Contudo – e há um porém, como já deve ter intuído –, preocupa-me a forma como você e a sua menina encaram a manifestação pública de barbaridades como as proferidas pelo deputado do PP fluminense na semana passada. É como pai de três meninas (28, 24 e 12 anos) que peço que reconsidere tal opinião.
Tanto ela, na entrevista, quanto você, têm dito em toda parte que não se pode cassar um deputado, retirar um mandato concedido pelo povo, por conta de declarações como as que ele deu sobre negros e homossexuais, sendo as que se referem a negros passíveis de desencadear processo criminal por infração da lei 7716/89, que tipifica crime de racismo.
Mesmo que dos meus quatro filhos (tenho um rapaz de 23 anos), três (os adultos, porque uma é criança) sejam heterossexuais, vivo alarmado com o nível de violência que grassa neste país e que atinge, preferencialmente, os mais jovens. No caso de sua filha, porém, o caso é mais grave, pois os gays são mais vitimados pela violência.
Mas o que desencadeia a violência contra os homossexuais? Não são justamente declarações como a de Bolsonaro que concedem toda uma “lógica” moralista a atos de violência que, para quem pratica, estariam sendo praticados “em defesa” de “valores” como os que o deputado em tela manifestou?
Posso lhe garantir, Marcelo – e qualquer especialista dirá o mesmo, pode consultar –, que muitos desses psicopatas que espancam, torturam ou assassinam homossexuais podem cruzar com a sua filha em alguma festa, em alguma casa noturna ou na própria via pública, sobretudo se ela estiver manifestando carinho por alguém do mesmo sexo.
É assim, meu caro, que, de pai para pai, quero lhe pedir que se convença – e que convença a sua filha – de que as idéias que Bolsonaro está vendendo à sociedade estimulam não só o preconceito, o cerceamento de oportunidades e as agressões verbais, mas, também, a violência física contra os que têm forma de amar diferente da maioria.
Um abraço fraterno, Marcelo. De pai para pai.
Eduardo Guimarães
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