Dica cultural - A Onda


Por Cléber Sérgio de Seixas *

Quando vemos imagens de campos de concentração – cadáveres amontoados em valas, homens, mulheres e crianças de corpos esqueléticos vestindo pijamas listados – dos grandes eventos fascistas dos anos 30, da indumentária e do simbolismo nazista e do culto à personalidade, acreditamos que tudo aquilo não vá se repetir porque hoje a humanidade é mais esclarecida, mais civilizada e mais atenta às violações dos direitos humanos. No entanto, há observadores que atestam a presença de germes do fascismo em várias sociedades na contemporaneidade.

O lento, mas aparentemente constante crescimento do Tea Party prenuncia um futuro nebuloso a que pode ser conduzido os EUA se os norte-americanos, sobretudo os políticos do partido Democrata, não extirparem a tempo o câncer fascista que já se prepara para metástase.

Na europa, sobretudo em países como Itália e Espanha, embriões da extrema direita crescem apoiando-se num conservadorismo de matiz religioso e adotando um discurso que prega a defesa da unidade nacional e dos "bons costumes".

No Brasil, a extrema direita saiu do ostracismo durante o último processo eleitoral, sob as bênçãos da campanha do candidato tucano José Serra. Mais recentemente, um grupo de jovens paulistas pregou na internet a xenofobia em relação a nordestinos, enquanto outro grupo atacou jovens supostamente homossexuais na avenida Paulista.

Diante de tais fatos resta perguntar: as condições para o surgimento do fascismo existem ou não hoje em dia?

Esta pergunta é o ponto a partir do qual se desenrola o enredo de A Onda (Die Welle, 2008). Na trama, o professor Rainer Wenger deve esclarecer o conceito de autocracia a seus alunos. Para tal, propõe um experimento que explique em termos práticos os mecanismos que podem conduzir ao totalitarismo e/ou fascismo. Quando a experiência foge ao controle e toma rumos inesperados, com todos os envolvidos profundamente mergulhados no que a princípio era um mero trabalho acadêmico, professor e alunos passarão por trágicas mudanças em suas vidas.

Apesar de não fugir de alguns clichês próprios de filmes de ambientação escolar, o filme de Dennis Gansel vale enquanto alerta e reflexão, sobretudo nesses dias em que um proto-fascismo ameaça surgir no horizonte.

Ao lado de Adeus Lênin (2003), Edukators (2004), A Vida dos Outros(2006) etc, trata-se de um filme que retrata o bom momento por que passa o cinema alemão.


* Cléber Sérgio não é crítico de cinema e sim um mero entusiasta da sétima arte e reles blogueiro.

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