Baixarias 2, a missão

Por Vera Schmitz

Não bastassem as acusações e o baixo nível que os eleitores assistiram durante a campanha para a Presidência da República, os brasileiros são metralhados agora por declarações tucanas, no mínimo desrespeitosas, à presidente Dilma Rousseff (PT) e ao ex-presidente Lula (PT). Sarcasmo, deboche, ironia, críticas são apenas alguns dos ingredientes que temperaram as entrevistas dadas pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na semana passada sobre os primeiros passos do novo governo. Em alguns momentos, segundo as reportagens, FHC chegou a rir ao dizer: “já é alguma coisa não ter que ouvir o Lula todo dia na televisão”. Sobre o novo ministério, afirmou que a presidente “deve estar preocupada”.

Muitos brasileiros podem até não ser fãs do estilo Lula, cordato, falador, empolgado, carismático, por que não, aparecido – as críticas eram freqüentes, todo mundo sabe. Porém, FHC esqueceu uma lição que a gente aprende desde criança: respeito é bom e todo mundo gosta. Especialmente vindo de um ex presidente referindo-se a outro. Quanto à Dilma e ao seu governo, a torcida de qualquer brasileiro, independentemente de qual tenha sido sua opção nas urnas, deve ser a favor. Torcida contra cheira a dor de cotovelo.

Fernando Henrique deveria estar mais preocupado com duas coisas no momento. A primeira, a sua participação em uma comissão global em busca de políticas alternativas de combate às drogas, lançada em Genebra há uma semana. Isso por si só, já teria importância suficiente para que o ex-presidente perdesse menos do seu tempo em criticar o governo passado e o atual e pensasse na dimensão do papel que assume diante de uma das maiores apreensões mundiais, que é o tráfico e o consumo de drogas.

A segunda, os rumos de seu próprio partido, às vésperas do início da nova legislatura, que começa amanhã, com a posse dos deputados estaduais, federais e senadores. Que o PSDB será oposição, não há dúvida. Mas, igualmente, não há dúvida de que as eleições e a derrota de José Serra passaram como um trator sobre a legenda. A hegemonia paulista, o serrismo e o centralismo saíram esfacelados. Nos bastidores, comenta-se que FHC estaria agora convencido de que o senador Aécio Neves é o melhor nome para representar o PSDB na disputa para a Presidência da República em 2014. Usa o desempenho eleitoral do ex-governador mineiro como justificativa. É bom lembrar que, na definição do nome que enfrentaria Dilma, ele trabalhou por Serra contra Aécio. Sendo que este vinha de duas eleições arrasadoras ao governo de Minas.

Marcado para ir ao ar em fevereiro, o programa partidário nacional do PSDB terá FHC como estrela. O objetivo é tentar recolocá-lo no cenário político nacional. Segundo os tucanos, é preciso recompensá-lo agora pela exclusão recomendada pelos marqueteiros durante a campanha presidencial. Por outro lado, o partido não pretende apresentar Serra nessa primeira propaganda.

Por falar em Serra...

Cada vez mais isolado, o candidato à Presidência da República José Serra também tem usado e abusado das mesmas agressões verbais que tanto o divertia durante a campanha. Na luta para manter seu nome em evidência, de olho na disputa pelo comando do PSDB, trocou farpas pelo Twitter com políticos do PT, atacou os governos Lula e Dilma e até mesmo previu uma crise econômica no Brasil. Nessa batalha, no entanto, Serra tem perdido round atrás de round. E corre sério risco de ser nocauteado.

Na homenagem ao ex-vice-presidente José Alencar, terça-feira, em São Paulo, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, um dos mais próximos companheiros de partido, foi o primeiro a levantar a bandeira branca em direção à presidente Dilma, deixando de lado qualquer resquício da rivalidade das eleições. Além disso, Alckmin tem promovido uma faxina na administração paulista, prometendo adotar programas de sucesso do governo federal, especialmente na área da educação, e resgatar outros que o seu antecessor teria minguado.

O último golpe - talvez fatal - foi desferido por aliados de Aécio e de Alckmin, segundo os próprios tucanos, numa articulação que barra qualquer pretensão de Serra em assumir o comando do PSDB. A operação foi posta em prática durante reunião da bancada do partido para a eleição de Duarte Nogueira (SP) para a liderança na Câmara: a maioria absoluta dos deputados presentes na reunião assinou um manifesto para reconduzir o senador Sérgio Guerra (PE), eleito deputado, para a presidência da legenda. Alckmin tentou aliviar seu lado, afirmando, no dia seguinte, que nem sabia se Serra queria o cargo – “Se quiser, terá meu total apoio”, disse para emendar, logo em seguida, que está cedo para discutir o assunto, uma vez que a eleição no ninho tucano está marcada somente para maio. Houve quem chiasse da “atitude indigna” dos colegas, e muita água pode rolar debaixo da ponte até lá, mas o cenário diante de Serra é nebuloso, sujeito ainda a muitas trovoadas.

Fonte: Jornal Estado de Minas - 31/01/2011
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