A tática do medo está de volta


Por Cléber Sérgio de Seixas

Quem ainda considera que a Rede Globo e seus tentáculos midiáticos são imparciais e praticam um jornalismo isento, tem agora um motivo a menos para sustentar tal convicção. A capa da revista Época, edição nº 639, joga por terra a suposta neutralidade das Organizações Globo no processo eleitoral.

É curioso o fato de a revista publicar uma matéria de capa cujo teor tenta passar a idéia de uma Dilma perigosa e supostamente envergonhada de seu passado de luta contra a ditadura militar, exatamente agora, pouco depois de o Jornal Nacional ter sabatinado os três principais candidatos à presidência da República, o que não passou de uma campanha disfarçada contra a candidata petista. Não se trata de nenhum expediente novo. É mais do mesmo, ou seja, é a tática do medo.

Contra o argumento da Dilma terrorista, acho oportuno reproduzir um trecho do artigo de Jorge Furtado cujo título é Dez falsos motivos para não votar na Dilma: "Argumento em parte falso, em parte distorcido. Falso, porque não há qualquer prova de que Dilma tenha tomado parte de ações “terroristas”. Distorcido, porque é fato que Dilma fez parte de grupos de resistência à ditadura militar, do que deve se orgulhar, e que este grupo praticou ações armadas, o que pode (ou não) ser condenável. José Serra também fez parte de um grupo de resistência à ditadura, a AP (Ação Popular), que também praticou ações armadas, das quais Serra não tomou parte. Muitos jovens que participaram de grupos de resistência à ditadura hoje participam da vida democrática como candidatos. Alguns, como Fernando Gabeira, participaram ativamente de seqüestros, assaltos a banco e ações armadas. A luta daqueles jovens, mesmo que por meios discutíveis, ajudou a restabelecer a democracia no país e deveria ser motivo de orgulho, não de vergonha". Tendo como base o apurado raciocínio de Furtado, deveríamos esperar que, na capa de futuras edições, Época fosse suficientemente honesta para estampar matérias semelhantes sobre Fernando Gabeira ou José Serra, destacando-os como terroristas ou utilizando adjetivos afins. Mas acho que é esperar demais daqueles que sempre remaram contra a maré da verdade factual.

A imprensa, hoje o único trunfo da candidatura Serra, tentará de todos os modos fazer com que seu candidato decole nas pesquisas. Não é tarefa fácil, sobretudo porque o principal cabo eleitoral de Dilma é ninguém mais ninguém menos que o mais popular presidente da "história deste país".

Mas não pensem que doravante as investidas da mídia marrom serão amenas. Pelo contrário, à medida que outubro se aproximar, intensificar-se-ão os ataques à candidata a sucessora de Lula.
Até lá, requentarão denúncias vazias tal como a da ficha falsa de Dilma e do dossiê contra os tucanos. É pouco provável que tais expedientes surtam efeito, mas é prudente estarmos atentos, sobretudo se lembrarmos que táticas midiáticas semelhantes levaram as eleições presidenciais de 2006 para o segundo turno.

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