O maior atentado terrorista da História



Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica

Rosa de Hiroshima - Vinícius de Moraes

Por Cléber Sérgio de Seixas


Na manhã de 6 de agosto de 1945, um bombardeiro B-29 sobrevoava o Japão acompanhado de mais duas aeronaves. Como havia uma orientação para não interceptar pequenas formações, nenhuma medida foi adotada pela força aérea japonesa para deter os três aviões. Na fuselagem do B-29 estava escrito Enola Gay, o nome da mãe do piloto, o jovem coronel Paul Tibbets.

Ás 8:15 da manhã, nos céus da cidade japonesa de Hiroshima, o B-29 abandonava em queda livre uma bomba de gravidade armada com 60 kg de urânio-235. Quando o artefato apelidado de Litlle Boy atingiu a altitude de 600 metros acima do centro de Hiroshima, ocorreu uma explosão que, instantaneamente, pulverizou cerca de 80.000 pessoas e destruiu praticamente toda a cidade. Posteriormente, o número de vítimas seria aumentado para cerca de 240.000 devido aos efeitos da radiação. Pouquíssimas edificações ficaram de pé. Uma das exceções foi a Cúpula Genbaku, hoje Memorial da Paz de Hiroshima. Três dias depois, às 08:30 da manhã do dia 09 de agosto, a bomba apelidada de Fat Man, carregada com 6,4 kg de plutônio-239, dizimava a cidade de Nagasaki, deixando um saldo de aproximadamente 40.000 mortos.

Os alvos foram escolhidos devido à grande área urbana e à alta concentração de civis, de forma que a hecatombe pudesse vergar o ânimo combativo dos japoneses. É importante lembrar que japoneses e norte-americanos travavam uma feroz guerra no Pacífico. O caminho para Tóquio foi palmilhado pelos norte-americanos ilha a ilha e uma invasão do Japão por terra enfrentaria resistência ainda mais feroz. Hiroshima e Nagasaki eram objetivos mais civis que militares. Assim sendo, tanto o número de vítimas quanto os efeitos da devastação atestam que o lançamento das duas bombas sobre as duas cidades japonesas no fim da Segunda Guerra Mundial pode ser considerado o maior atentado terrorista da história.

Os norte-americanos argumentarão que estavam em confronto declarado contra o Japão e que o ataque seria uma forma de apressar o fim da guerra evitando, assim, mais mortes. Mas tal argumento não se justifica, visto que antes mesmo do lançamento das bombas, o Japão já se preparava para a rendição. Não havia, portanto, necessidade de um ato tão bárbaro contra civis desarmados. Nos anos 60, o general Douglas MacArthur deu a seguinte declaração: “Não havia nenhuma necessidade militar de empregar a bomba atômica em 1945”. De qualquer forma, o efeito desejado pelas tropas estadunidenses foi alcançado e em 2 de setembro de 1945 o Japão se rendia incondicionalmente.

Alguns analistas apontam que as explosões das bombas atômicas sobre o Japão consistem num dos marcos iniciais de uma época marcada por conflitos indiretos e disputas estratégicas entre as duas maiores potências nucleares do planeta. Tal período ficou conhecido como Guerra Fria.

Os norte-americanos teimam em dizer, também, que o maior atentado terrorista da história foi aquele perpetrado contra as Torres Gêmeas em Manhattan, no início do século XXI. Tal afirmativa está calcada nos pressupostos de que os Estados Unidos representam a humanidade, são o bastião da liberdade e o maior expoente da democracia. Assim, um ataque aos Estados Unidos seria um ataque contra a humanidade, contra a democracia e contra a liberdade. Tal pretensão, no entanto, só se justificaria se os terroristas islâmicos tivessem detonado ogivas nucleares nos ataques, mandando, assim, toda a ilha de Manhattan para os ares, e não somente as Torres Gêmeas.

O terrorismo de que foi alvo o Japão não tem paralelos na História e serve de lição para as grandes potências que insistem em manter e produzir arsenais nucleares.

Comentários