AOS QUIXOTES DO SÉCULO XXI
Dom Quixote e Sancho Pança, quadro de Honoré Daumier
Por Cléber Sérgio de Seixas
Por Cléber Sérgio de Seixas
É com enorme satisfação que este blog sopra uma velinha. Doze meses depois, muitas alegrias depois, muitos posts depois, aumentaram, na mesma proporção, a experiência, a humildade, e o sentimento de que somos meros aprendizes neste imenso palco chamado vida.
No dia 24 de abril de 2009 nos apresentávamos (clique aqui para ler o primeiro artigo deste blog) como Observadores Sociais, isto é, aqueles que assistem estupefatos ao espetáculo que se desenrola em derredor – pobreza, injustiça social, egoísmo, consumismo, etc -, e do qual às vezes participam, seja na qualidade de protagonistas, seja como figurantes. A intenção, porém, foi, e sempre será, observar para, de alguma forma, auxiliar na mudança.
De lá para cá, tentamos veicular neste espaço o que julgamos relevante para o fomento da cidadania, para a ampliação da consciência de classe e do conhecimento histórico. Este último, julgamos de crucial importância, visto que “quem não conhece o passado está condenado a repeti-lo”. Esta máxima, proferida pelo filósofo espanhol George Santayana, deve ser repetida feito mantra nos dias atuais, quando muitos tentam reescrever o passado, transformando heróis em vilões e estes últimos em grandes homens. Foi nesse contexto que o jornal Folha de São Paulo – cuja notória colaboração com a ditadura militar rendeu vários artigos na web - cunhou o termo “ditabranda” para se referir ao período no qual a nação brasileira foi pisada pelas botas dos militares, como se uma ditadura que matou, castrou, assassinou e mutilou menos, se comparada a outras ditaduras do cone-sul, pudesse ser qualificada com mais branda. Outra frase oportuna nos dias atuais é a citada por George Orwell em sua magistral obra 1984: “Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado”. Se, no presente, o passado for reescrito, o futuro pode ser sombrio.
Falamos também sobre o consumismo, mal do fim do século XX e início do século XXI. Assim como o suicídio era o mal que atingia o homem de fins do século XIX, a doença do consumismo, acredito, contamina sete em cada dez terráqueos. Esta moléstia tem como um de seus sintomas principais aquele que transforma cidadãos em meros consumidores, lhes consumindo a capacidade de refletir sobre as questões sociais e lhes corroendo as finanças com gastos cuja finalidade precípua é conferir status social. Sob este raciocínio é que se pode entender porque jovens de periferia se transformam em bandidos ao roubarem ou traficarem para imitar ou simular um estilo de vida não condizente com o nível sócio-econômico da classe social à qual pertencem.
Um ano depois, precisamos ser sinceros e confessar: não é fácil manter um blog. Na medida do possível tentamos publicar um artigo por dia, autoral de preferência. Mas o tempo exíguo, gasto com trabalho, estudos e assuntos do lar, não permite que este blog seja 100% original. O leitor mais atento deve ter observado que nem todos os artigos publicados são de autoria dos mantenedores deste blog, ou seja, eu e minha esposa. Por outro lado, não vejo nenhum demérito nisso, visto que outros tantos blogs renomados, como o do jornalista Luiz Carlos Azenha, por exemplo, também não são 100% autorais. Assim sendo, procuro, no mínimo uma vez por semana, escrever algo e postar no blog.
No meio do caminho lançamos sementes. Várias delas germinaram. Um marco na curta história deste blog foi a veiculação, na forma de alguns artigos, da notícia do desmantelamento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Sabinópolis, numa operação policial batizada de Manumissão, chefiada pelo delegado Welbert de Souza, meu amigo de longa data. Tal evento repercutiu na pequena cidade do interior de Minas e transformou seções de comentários do blog em trincheiras de combate e debate acerca dos desdobramentos da operação. Até hoje os posts relativos a tal assunto rendem comentários calorosos no blog.
Também ficamos satisfeitíssimos ao constatar que um comunista de quase 100 anos, o senhor Roberto Menezes, se tornou leitor e seguidor deste blog – não é todo blog que tem o privilégio de ser seguido por uma pessoa tão experiente, um arquivo ambulante por assim dizer. Aproveitamos para admoestar que velhice é sinônimo de experiência.
Alegramo-nos também ao conhecer os companheiros de luta da cidade de Campos dos Goytacazes/RJ por intermédio da companheira de partido e também seguidora deste blog, Silvana Carneiro. Tal contato em muito contribuiu para o crescimento deste blog.
Nos sentimos como Dom Quixote, personagem do livro homônimo de Miguel de Cervantes. Miramos os gigantes que são moinhos de vento ou os moinhos de vento que são gigantes? Não sei ainda. Não se sabe ainda quem era lúcido e quem era louco, se Quixote ou Sancho. Dom Quixote fora anteriormente um homem chamado Alonso Quijano. Cervantes narra sua loucura em virtude de excessiva leitura e imaginação. Tal imaginação levou-o a criar um universo paralelo no qual ele era o único representante de uma imaginária ordem de cavalaria. Assim Quixote era um solitário em seus ideais e, portanto, louco em meio aos “lúcidos”. Enquanto Quixote é a fantasia, Sancho é a realidade; enquanto o cavaleiro da triste figura encarna os sonhos e a utopia, o escudeiro bonachão simboliza o pragmatismo e o realismo; enquanto um é louco o outro é lúcido; enquanto o primeiro se engaja numa luta teoricamente fadada ao fracasso, o segundo se resigna. A loucura quixotesca, no entanto, é relativa. Cada um era louco aos olhos do outro, assim como um completava o outro, era o alter ego do outro. Nesse contexto é necessário perguntar: quem somos nós ao mantermos este blog? Somos os sonhadores feito Quixote ou os racionais à moda Sancho Pança? Somos os utópicos ou utopistas quixotescos ou somos os conformados e conformistas? Estamos aqui perdendo nosso tempo e dinheiro - já que uma coisa é a outra na cultura capitalista – escrevendo textos e mais textos, ou estamos ganhando-o na medida em que trazemos outros à nossa causa? Somos, nós os que sonhamos com um mundo mais justo, os cavaleiros das tristes figuras do século XXI? Na sociedade do consumo, erigida sob a égide do sistema capitalista neoliberal, sonhar com um outro mundo possível é utopia ou realidade? Digo aos leitores deste blog que se nós, os Observadores, trouxermos à nossa causa uma pessoa apenas no decurso dessa jornada à qual nos comprometemos, e se, como dissemos no artigo inaugural deste blog, conseguirmos fazer com que outros se tornem também Observadores, a missão já terá sido válida. E achamos justa a nossa causa por compor-se de substantivos como justiça, solidariedade, humildade, fraternidade – todos rimando com socialismo. E, por favor, entendam aqui o socialismo como mais assemelhado à comunidade dos apóstolos no livro bíblico de Atos do que o que ficou para a história como socialismo real. E nesse sentido, como disse certa vez Frei Betto, estamos mais para Proudhon do que para Marx.
Por que caminhamos? Por que avançamos? É porque nos norteia algo que talvez nunca alcancemos. Na seção perfil deste blog, este que vos escreve se apresenta como alguém que não viverá o suficiente para ver o surgimento de uma nova sociedade em moldes socialistas. Por quê? É inocência de qualquer marxista, socialista ou comunista tentar confundir seu tempo pessoal com o tempo histórico. O que fazemos neste blog é apenas lançar sementes para que, possivelmente, outros colham os frutos no futuro. Se nada colheremos em nossa existência, porque semeamos? A resposta eu deixo a cargo de Fernando Birri, cineasta argentino: “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar". Portanto, a utopia é algo inalcançável, que só existe para nos encorajar na jornada árdua pela justiça e equidade.
A jornada continua, os percalços virão acompanhados das crises de desânimo. Mas a utopia que nos impele será maior que as adversidades, e a estrada que se descortina diante de nossos olhos se converterá em mera trilha.
Por fim queremos deixar o nosso cordial agradecimento a todos aqueles que prestigiam e prestigiaram este blog. Em especial quero agradecer a André Luiz, à União Brasileira de Mulheres de Campos, ao cartunista Cleuber Cristiano, ao experiente comunista Roberto Menezes, à companheira Silvana Carneiro, a Deus da Silva, a Flor do Campo, à minha prima Gláucia Lúcia, ao Betinho (não é o irmão do Henfil), a José Cilira, àquela(e) que se identifica como “Então”, a Ivanete Vieira, a Diva Franco, a Elizabeth, a Johnny da Silva e à minha esposa Míriam, é claro. São estes os 16 seguidores visíveis deste blog, ou melhor, os “16 Quixotes”.
Abraços a todos e que os próximos anos venham pela frente, sempre tendo a utopia a nos nortear.
Até o próximo post.
No dia 24 de abril de 2009 nos apresentávamos (clique aqui para ler o primeiro artigo deste blog) como Observadores Sociais, isto é, aqueles que assistem estupefatos ao espetáculo que se desenrola em derredor – pobreza, injustiça social, egoísmo, consumismo, etc -, e do qual às vezes participam, seja na qualidade de protagonistas, seja como figurantes. A intenção, porém, foi, e sempre será, observar para, de alguma forma, auxiliar na mudança.
De lá para cá, tentamos veicular neste espaço o que julgamos relevante para o fomento da cidadania, para a ampliação da consciência de classe e do conhecimento histórico. Este último, julgamos de crucial importância, visto que “quem não conhece o passado está condenado a repeti-lo”. Esta máxima, proferida pelo filósofo espanhol George Santayana, deve ser repetida feito mantra nos dias atuais, quando muitos tentam reescrever o passado, transformando heróis em vilões e estes últimos em grandes homens. Foi nesse contexto que o jornal Folha de São Paulo – cuja notória colaboração com a ditadura militar rendeu vários artigos na web - cunhou o termo “ditabranda” para se referir ao período no qual a nação brasileira foi pisada pelas botas dos militares, como se uma ditadura que matou, castrou, assassinou e mutilou menos, se comparada a outras ditaduras do cone-sul, pudesse ser qualificada com mais branda. Outra frase oportuna nos dias atuais é a citada por George Orwell em sua magistral obra 1984: “Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado”. Se, no presente, o passado for reescrito, o futuro pode ser sombrio.
Falamos também sobre o consumismo, mal do fim do século XX e início do século XXI. Assim como o suicídio era o mal que atingia o homem de fins do século XIX, a doença do consumismo, acredito, contamina sete em cada dez terráqueos. Esta moléstia tem como um de seus sintomas principais aquele que transforma cidadãos em meros consumidores, lhes consumindo a capacidade de refletir sobre as questões sociais e lhes corroendo as finanças com gastos cuja finalidade precípua é conferir status social. Sob este raciocínio é que se pode entender porque jovens de periferia se transformam em bandidos ao roubarem ou traficarem para imitar ou simular um estilo de vida não condizente com o nível sócio-econômico da classe social à qual pertencem.
Um ano depois, precisamos ser sinceros e confessar: não é fácil manter um blog. Na medida do possível tentamos publicar um artigo por dia, autoral de preferência. Mas o tempo exíguo, gasto com trabalho, estudos e assuntos do lar, não permite que este blog seja 100% original. O leitor mais atento deve ter observado que nem todos os artigos publicados são de autoria dos mantenedores deste blog, ou seja, eu e minha esposa. Por outro lado, não vejo nenhum demérito nisso, visto que outros tantos blogs renomados, como o do jornalista Luiz Carlos Azenha, por exemplo, também não são 100% autorais. Assim sendo, procuro, no mínimo uma vez por semana, escrever algo e postar no blog.
No meio do caminho lançamos sementes. Várias delas germinaram. Um marco na curta história deste blog foi a veiculação, na forma de alguns artigos, da notícia do desmantelamento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Sabinópolis, numa operação policial batizada de Manumissão, chefiada pelo delegado Welbert de Souza, meu amigo de longa data. Tal evento repercutiu na pequena cidade do interior de Minas e transformou seções de comentários do blog em trincheiras de combate e debate acerca dos desdobramentos da operação. Até hoje os posts relativos a tal assunto rendem comentários calorosos no blog.
Também ficamos satisfeitíssimos ao constatar que um comunista de quase 100 anos, o senhor Roberto Menezes, se tornou leitor e seguidor deste blog – não é todo blog que tem o privilégio de ser seguido por uma pessoa tão experiente, um arquivo ambulante por assim dizer. Aproveitamos para admoestar que velhice é sinônimo de experiência.
Alegramo-nos também ao conhecer os companheiros de luta da cidade de Campos dos Goytacazes/RJ por intermédio da companheira de partido e também seguidora deste blog, Silvana Carneiro. Tal contato em muito contribuiu para o crescimento deste blog.
Nos sentimos como Dom Quixote, personagem do livro homônimo de Miguel de Cervantes. Miramos os gigantes que são moinhos de vento ou os moinhos de vento que são gigantes? Não sei ainda. Não se sabe ainda quem era lúcido e quem era louco, se Quixote ou Sancho. Dom Quixote fora anteriormente um homem chamado Alonso Quijano. Cervantes narra sua loucura em virtude de excessiva leitura e imaginação. Tal imaginação levou-o a criar um universo paralelo no qual ele era o único representante de uma imaginária ordem de cavalaria. Assim Quixote era um solitário em seus ideais e, portanto, louco em meio aos “lúcidos”. Enquanto Quixote é a fantasia, Sancho é a realidade; enquanto o cavaleiro da triste figura encarna os sonhos e a utopia, o escudeiro bonachão simboliza o pragmatismo e o realismo; enquanto um é louco o outro é lúcido; enquanto o primeiro se engaja numa luta teoricamente fadada ao fracasso, o segundo se resigna. A loucura quixotesca, no entanto, é relativa. Cada um era louco aos olhos do outro, assim como um completava o outro, era o alter ego do outro. Nesse contexto é necessário perguntar: quem somos nós ao mantermos este blog? Somos os sonhadores feito Quixote ou os racionais à moda Sancho Pança? Somos os utópicos ou utopistas quixotescos ou somos os conformados e conformistas? Estamos aqui perdendo nosso tempo e dinheiro - já que uma coisa é a outra na cultura capitalista – escrevendo textos e mais textos, ou estamos ganhando-o na medida em que trazemos outros à nossa causa? Somos, nós os que sonhamos com um mundo mais justo, os cavaleiros das tristes figuras do século XXI? Na sociedade do consumo, erigida sob a égide do sistema capitalista neoliberal, sonhar com um outro mundo possível é utopia ou realidade? Digo aos leitores deste blog que se nós, os Observadores, trouxermos à nossa causa uma pessoa apenas no decurso dessa jornada à qual nos comprometemos, e se, como dissemos no artigo inaugural deste blog, conseguirmos fazer com que outros se tornem também Observadores, a missão já terá sido válida. E achamos justa a nossa causa por compor-se de substantivos como justiça, solidariedade, humildade, fraternidade – todos rimando com socialismo. E, por favor, entendam aqui o socialismo como mais assemelhado à comunidade dos apóstolos no livro bíblico de Atos do que o que ficou para a história como socialismo real. E nesse sentido, como disse certa vez Frei Betto, estamos mais para Proudhon do que para Marx.
Por que caminhamos? Por que avançamos? É porque nos norteia algo que talvez nunca alcancemos. Na seção perfil deste blog, este que vos escreve se apresenta como alguém que não viverá o suficiente para ver o surgimento de uma nova sociedade em moldes socialistas. Por quê? É inocência de qualquer marxista, socialista ou comunista tentar confundir seu tempo pessoal com o tempo histórico. O que fazemos neste blog é apenas lançar sementes para que, possivelmente, outros colham os frutos no futuro. Se nada colheremos em nossa existência, porque semeamos? A resposta eu deixo a cargo de Fernando Birri, cineasta argentino: “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar". Portanto, a utopia é algo inalcançável, que só existe para nos encorajar na jornada árdua pela justiça e equidade.
A jornada continua, os percalços virão acompanhados das crises de desânimo. Mas a utopia que nos impele será maior que as adversidades, e a estrada que se descortina diante de nossos olhos se converterá em mera trilha.
Por fim queremos deixar o nosso cordial agradecimento a todos aqueles que prestigiam e prestigiaram este blog. Em especial quero agradecer a André Luiz, à União Brasileira de Mulheres de Campos, ao cartunista Cleuber Cristiano, ao experiente comunista Roberto Menezes, à companheira Silvana Carneiro, a Deus da Silva, a Flor do Campo, à minha prima Gláucia Lúcia, ao Betinho (não é o irmão do Henfil), a José Cilira, àquela(e) que se identifica como “Então”, a Ivanete Vieira, a Diva Franco, a Elizabeth, a Johnny da Silva e à minha esposa Míriam, é claro. São estes os 16 seguidores visíveis deste blog, ou melhor, os “16 Quixotes”.
Abraços a todos e que os próximos anos venham pela frente, sempre tendo a utopia a nos nortear.
Até o próximo post.
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