O capitalismo agoniza

Por Jeferson Malaguti Soares *

Antes de a crise financeira mundial atingir as proporções que tomou, as bolsas de valores dominavam as manchetes na mídia. O rentismo surfava absoluto nas águas até então calmas do capitalismo neoliberal. Foi necessária coragem para que os vilões fossem detectados, quando da derrocada. Wall Street esperneava para escapar da turma dos especuladores. Não adiantou, caiu. Tempos aqueles muito propícios aos que buscavam lucro fácil. O deus do mercado tinha sacerdotes influentes e poderosos. Mesmo quando a economia mundial crescia a 5% ao ano, a crise explodiu, o desemprego acelerou até os níveis absurdos que vemos hoje nos EUA e Europa. Ficou claro que aquele crescimento era fictício e frágil.

Importante reservar capítulo à parte para a mídia nacional que, desde então, deita falação sobre economia, profetizando maus augúrios para a nossa. Ultimamente, atingiram tal nível de retórica que quem nunca esteve por aqui acredita estar o Brasil se afundando num buraco sem fim. Verdadeiros contos do vigário. E há quem caia neles, por ingenuidade, ignorância ou a eles se atrele, por má-fé mesmo. O Brasil da Era FHC era só “prosperidade” para nossa comprometida imprensa, apesar das desigualdades terem crescido assustadoramente em vista da política cruel do neoliberalismo cultuada pelos tucanos. O desemprego batia às portas dos 20%. E a mídia aplaudia.

Depois do Muro de Berlim mais um muro ruiu, o de Wall (muro em inglês) Street. Por ocasião da derrubada do muro que dividia as Alemanhas, profetas do acontecido proclamaram o fracasso do socialismo. Agora cai o wall nova-iorquino depois das especulações financeiras desbragadas, num ritmo alucinante de privatizações irresponsáveis (vide o caso da Vale aqui no Brasil). Quem na verdade fracassou? O socialismo permanece firme e crescendo em todo o planeta, apesar das gralhas neoliberais. Fracassa, sim, o capitalismo neoliberal e a sua elitizada estrutura de poder.


O capitalismo prega a liberdade, mas a confunde com libertinagem. Não basta querer liberdade, sem que se invista na igualdade. É imprescindível buscar a igualdade, independente da abominação dos donos do poder econômico, a qual, para eles, não passa de subversão da ordem e terrorismo. Não pega mais a demonização do comunismo. A liberdade sem igualdade não se sustenta, e seus limites são escancarados para os poderosos em detrimento do gênero humano. Ninguém se apropriou, com maior senso de oportunidade, da teoria da economia política igualitária, que Marx. Keines, Schumpeter e outros magos da teoria econômica clássica, apontaram suas ideias para o capitalismo selvagem, para o neoliberalismo cruel, que hoje soçobra mundo afora.

Os EUA e a Europa despejaram nos bancos mais de 5 trilhões de dólares em 2008, na esperança de que eles consertassem os estragos resultantes de suas irresponsabilidades, emprestando a seus clientes, a fim de ajudar na recuperação da economia. Mesmo assim as desigualdades aumentaram. Mais de 1 bilhão de pessoas no mundo vivem na miséria absoluta. Esse número é 14,5% da população mundial, enquanto aqui no Brasil retiramos da pobreza mais de 20% da população - só a mídia não vê. A desnutrição é galopante em função da falência da agricultura, principalmente na África. Segundo economistas de plantão, bastaria 1% do que foi destinado aos bancos para tirá-los do buraco onde foram enfiados, recuperando a agricultura nos países pobres. Mas o capitalismo é um regime que obra pelos ricos e não pela pobreza ignara. Muitos trabalhando para o conforto de poucos. A desigualdade é o princípio do capitalismo neoliberal.

Até o ano de 2002, em dois terços dos países estudados, caiu a participação dos salários na renda, aumentando as desigualdades. Entre as maiores disparidades, países como EUA, Índia, China e Brasil. A partir de 2003, os governos populares democraticamente eleitos por aqui, reverteram essa situação. Apenas a mídia, por absoluta má-fé, não consegue enxergar isto. Ao mesmo tempo, enquanto o desemprego crescia pelo mundo a partir de 2008, aqui crescia a empregabilidade. E a nossa mídia esconde o fato como pode.

Desta forma, pergunto mais uma vez: quem caiu em desgraça, o capitalismo ou o socialismo? Claro que o capitalismo agoniza e, nos seus estertores, procura se agarrar a países como o nosso, qual o afogado que se atraca em alguém para se salvar, levando ambos para a morte. Felizmente, aqui não estão encontrando solo fértil para suas sementes do mal, mesmo com toda a espetacularização que o judiciário e a mídia promovem contra os governos legalmente estabelecidos pelo povo, na esperança de um novo golpe contra a democracia.

Um último dado para que os capitalistas reflitam: por 40 bilhões de dólares (0,8% do que foi despejado nos banqueiros até 2008), poder-se-ia comprar 250 quilos de grãos para cada uma das pessoas que vivem na miséria absoluta pelo mundo, o suficiente para alimentá-las por um ano.

Isto sim seria humanitário. Isto é o que prega o socialismo: liberdade e igualdade, um regime que governa para todos e não para uma minoria.


* Jeferson Malaguti Soares é administrador, consultor de empresas e colaborador deste blog.

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