2014 e suas raízes em 2013


Por Cléber Sérgio de Seixas

Chega o fim do ano e com ele renovam-se os votos de um ano vindouro cheio de felicidades e realizações. Repetem-se velhos mantras, simpatias e toda sorte de sortilégios que supostamente trarão sorte em 2014. “Que tudo se realize...”, bradam de forma imperativa os mais otimistas, à semelhança de um mago que profere a palavra mágica “abracadabra”. O novo período de 365 dias que se iniciará amanhã pode ser tudo, menos o resultado de simpatias, feitiçarias, orações, otimismo, pessimismo ou palavras mágicas. 

Poucos se dão conta de que os rebentos do amanhã são as sementes do presente. As atitudes pregressas sempre deixarão marcas no porvir. Os erros cometidos em 2013 serão parte dos desacertos de 2014. Uma das leis férreas da humanidade é tributária da física newtoniana: a toda ação corresponde uma reação de igual intensidade e sentido contrário. A agricultura também explica: colhe-se conforme se semeou. 

O ser humano é o único animal capaz de relacionar, de forma quase perfeita, passado, presente e futuro.  Tal capacidade o habilita a traçar planos e, com tal planejamento, alterar a realidade que o cerca. Os animais também podem planejar, diga-se de passagem. Fazem-no, contudo, exclusivamente pelo instinto de sobrevivência e perpetuação da espécie, estando o nível de consciência do planejamento em proporção direta ao do desenvolvimento do sistema nervoso da espécie. 

É pacífico que o homem, de todos os seres, é o que apresenta o sistema nervoso central mais desenvolvido. Conforme afirma Engels em O Papel do Trabalho na Transformação do Macaco em Homem, “nenhum animal pôde imprimir na natureza o selo de sua vontade. Só o homem pôde fazê-lo.” A evolução do homem colocou-o no topo da cadeia alimentar, subordinando a ele todas as demais espécies e dotando-o da capacidade de se adaptar a todo tipo de ambiente, do gélido Pólo Norte ao cáustico Deserto do Atacama. Contudo, tal nível de sofisticação biológica não torna o ser humano imune a erros. As ações humanas incidentes sobre a natureza, por exemplo, desencadeiam um desequilíbrio ambiental que potencializa a transformação do homem de algoz em vítima. O planeta, assim, vai gradativamente convertendo-se num lugar inóspito devido às ações dos seres humanos.

O mesmo raciocínio válido para a espécie humana se aplica a seus indivíduos. Quantos se comportam de forma predatória e recebem como recompensa o salário da própria violência? E quantos foram aqueles que espalharam vento e estão, agora, colhendo tempestade? Todas as coisas estão relacionadas: yin e yang, luz e escuridão, ação e reação, presente e futuro. 

Errar, no entanto, é uma consequência do viver. A falibilidade humana imprime ao futuro de cada indivíduo um caráter de aventura, de confrontação ao desconhecido, de incompletude em busca de plenitude. Tão ruim quanto estar preso ao passado é ser consumido pela ansiedade decorrente de expectativas quanto ao futuro. O amanhã não pertence a Deus, mas ao acaso. Contudo, é possível estabelecer uma previsibilidade com base em atitudes pregressas. 

Por outro lado, a chave do sucesso não resulta tão somente da conduta individual, tal qual asseveram os manuais de auto-ajuda. As atitudes de um têm implicações profundas sobre a vida de outrem. Aplicando a Teoria do Caos, pode-se afirmar que o ruflar das asas de uma borboleta no Brasil poderia desencadear uma tempestade na Indonésia. Em outras palavras, o que um indivíduo fizer terá implicações sobre a vida de outro com o qual, não necessariamente, mantém relações diretas. O que é sorte para uns é azar para outros. O pé de coelho que supostamente dá sorte ao portador também significa o azar do animal cuja pata fora arrancada.

As origens etimológicas do nome do primeiro mês do ano encontram-se no nome do deus grego Jano (ou Januarius para os romanos), divindade em cuja cabeça se encontravam duas faces diametralmente opostas, uma para olhar para frente e outra para trás, uma para vislumbrar o futuro e outra para fitar o passado. Janeiro é tanto o patrono dos finais quanto o arauto dos inícios. 

O ano que se inicia, de certa forma, é também o ano que finda. Assim sendo, pouco ou nada adiantarão exortações, promessas e simpatias se os germes de um futuro nada auspicioso estiverem presentes no tempo hodierno. 2014 é, de certa forma, a extensão de 2013. 2014 será um ano novo ou feliz? Depende de 2013.

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