Mandela e a força de seu exemplo



Por Cléber Sérgio de Seixas

Nesse triste momento da morte de Nelson Mandela, não esqueçamos que ele só foi bem aceito pelas potências ocidentais porque não "bateu de frente" com os interesses do capital transnacional em seu país, o que poderia acarretar um novo Moçambique no sul da África. Isso, porém, não ofusca o brilho de sua trajetória, pois entre os grandes líderes da história há também aqueles que souberam recuar taticamente nos momentos certos em prol de uma estratégia de maior amplitude. 

Antes de qualquer coisa, Mandela era um líder de esquerda, o que tentam e tentarão varrer para debaixo do tapete da História canonizando-o, nos moldes do que fizeram e fazem com Che Guevara ao torná-lo uma simples efígie estampada em camisetas. 

Para ilustrar esse processo, aproveito para lembrar as sábias palavras de Lênin em "O Estado e a Revolução", um de meus livros de cabeceira: 

"Os grandes revolucionários foram sempre perseguidos durante a vida; a sua doutrina foi sempre alvo do ódio mais feroz, das mais furiosas campanhas de mentiras e difamação por parte das classes dominantes. Mas, depois de sua morte, tenta-se convertê-los em ídolos inofensivos, canonizá-los por assim dizer, cercar o seu nome de uma auréola de glória, para ‘consolo’ das classes oprimidas e para o seu ludíbrio, enquanto se castra a substância do seu ensinamento revolucionário, embotando-lhe o gume, aviltando-o”

Lembrar de Mandela apenas no pós-libertação – o Mandela conciliador, apaziguador, “paz e amor” - é castrar a essência de seu pensamento. Há que se lembrar também do Mandela que optou pela luta armada no início da década de 60 e do Mandela que passou quase três décadas na prisão, tempo no qual a força de seu exemplo inspirou a luta de um povo contra um dos regimes mais racistas do mundo. 

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