Observadores Sociais - há dois anos enxergando além do lugar-comum
Por Cléber Sérgio de Seixas
Há alguns anos, assisti a um vídeo institucional cujo tema era responsabilidade social. O material fazia parte de uma estratégia motivacional para conscientizar os funcionários da empresa onde eu trabalhava a respeito da importância da responsabilidade social corporativa. Num dos trechos, foram mostradas imagens de pessoas famintas ou em situação de extrema pobreza em diferentes países. Foi neste momento que um dos presentes afirmou que ver tais imagens lhe causava mal estar. Em outras palavras, era como se aquela pessoa dissesse que as questões relativas à pobreza e à fome extrema eram temas cuja abordagem não deveria ser feita de forma tão ostensiva para não ferir suscetibilidades.
Assim como tal pessoa, muitos hoje não têm olhos para ver o que se passa a sua volta ou tiveram sua sensibilidade embotada pelo entretenimento que hoje grassa na sociedade. Em seu Discurso da Servidão Voluntária, Etienne de La Boétie narra a estratégia de Ciro II para subjugar os habitantes de Sardes, principal cidade da Lídia. Para evitar um confronto militar, o monarca persa instalou na cidade bordéis, tavernas e jogos públicos para distrair o povo lídio. Tal estratégia mostrou-se tão eficaz que Ciro nunca teve necessidade de utilizar a espada para dominá-los. A experiência lídia legou à Última Flor do Lácio a palavra lúdico, sinônimo de jogos e atividades de passatempo e distração. Na atualidade a estratégia é a mesma: distrair para despolitizar, entreter para dominar e, porque não, dividir para conquistar. No pani et circences moderno, o entretenimento que toma forma no folhetim televisivo, nos programas de auditório, no cinema despolitizante e depolitizado, nos jornais sensacionalistas, etc, é mais eficiente do que foram os jogos de gladiadores na Roma antiga.
Se há quem não se sensibilize com o espetáculo da injustiça social, há também quem se escandalize e se engaje na luta pela sua diminuição. Nós, os Observadores Sociais, estaremos sempre dispostos a observar a sociedade, nos indignar com suas injustiças e nos solidarizar com aqueles que foram postos à margem dos direitos sociais, dando nossa pequena contribuição para um país mais justo. Nossa observação, assim, irá além da contemplação passiva.
Não pretendemos nos arvorar em conscientizadores ou condutores de outros, pois sabemos no que deram os duces e os timoneiros. Apenas lançamos sementes que, acreditamos, germinarão nos corações e mentes dos que se indignam ao ver a miséria alheia. Não pretendemos ser os do contra, mas já o somos na medida em que remamos contra a maré do senso comum e lutamos contra a ditadura do pensamento único. Daí a proposta estampada no subtítulo deste blog: enxergar além do lugar-comum.
Nós, os Observadores Sociais, enxergamos no processo globalizatório capitalista – chamado por muitos intelectuais de “globocolonização” – uma estratégia de homogeneização. No zeitgeist atual, loas são entoadas à individualidade. No entanto, como falar em individualidade se todos se vestem da mesma forma, lêem os mesmos livros, curtem as mesmas músicas ou apreciam os mesmos filmes? Individualidade implica analisar e ponderar sobre uma determinada proposição antes de introjetá-la. Individualidade não combina com aceitação acéfala do que é apresentado. Se, por exemplo, todos estão por aí dizendo que Fidel e Chávez são ditadores, vamos primeiro analisar o contexto sócio-histórico-econômico cubano e venezuelano, tentando buscar nele as raízes do que hoje se descortina diante de nossos olhos. Nessa busca pode ser que cheguemos a conclusões diferentes das que nos são oferecidas pela grande mídia, a salvo dos maniqueísmos.
Este blog completa hoje dois anos e ainda caminha para sua maioridade. Até agora temos tido força suficiente para seguir modestamente em nossa missão de servir de contraponto à grande imprensa, fomentar a cidadania, a consciência de classe e a politização por meio da difusão de informações que julgamos ser de utilidade pública e mais próximas da verdade factual.
Percalços até aqui não faltaram: cuidados com a família, oito horas diárias no trabalho, três horas diárias no transporte público e os estudos da faculdade. Contudo, seguimos impelidos pela utopia, pelo apoio dos 92 leitores que nos seguem visivelmente – há um ano eram apenas 16 - e também daqueles que, anonimamente, prestigiam este blog. A todos agradecemos muitíssima e cordialmente.
Há um ano nos colocávamos como andarilhos em uma quixotesca jornada. Pois bem, tal jornada continua e volto a citar a frase do cineasta Fernando Birri: “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.” Talvez não cheguemos nunca ao ponto onde desejaríamos hoje estar: o socialismo. Mas é tal esperança de futuro que continuará a nos nortear nessa árdua jornada.
Para finalizar, gostaria de citar uma frase do dramaturgo George Bernard Shaw: “Você vê as coisas como elas são e pergunta: por quê? Mas eu sonho com coisas que nunca foram e pergunto: por que não?”
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Assim como tal pessoa, muitos hoje não têm olhos para ver o que se passa a sua volta ou tiveram sua sensibilidade embotada pelo entretenimento que hoje grassa na sociedade. Em seu Discurso da Servidão Voluntária, Etienne de La Boétie narra a estratégia de Ciro II para subjugar os habitantes de Sardes, principal cidade da Lídia. Para evitar um confronto militar, o monarca persa instalou na cidade bordéis, tavernas e jogos públicos para distrair o povo lídio. Tal estratégia mostrou-se tão eficaz que Ciro nunca teve necessidade de utilizar a espada para dominá-los. A experiência lídia legou à Última Flor do Lácio a palavra lúdico, sinônimo de jogos e atividades de passatempo e distração. Na atualidade a estratégia é a mesma: distrair para despolitizar, entreter para dominar e, porque não, dividir para conquistar. No pani et circences moderno, o entretenimento que toma forma no folhetim televisivo, nos programas de auditório, no cinema despolitizante e depolitizado, nos jornais sensacionalistas, etc, é mais eficiente do que foram os jogos de gladiadores na Roma antiga.
Se há quem não se sensibilize com o espetáculo da injustiça social, há também quem se escandalize e se engaje na luta pela sua diminuição. Nós, os Observadores Sociais, estaremos sempre dispostos a observar a sociedade, nos indignar com suas injustiças e nos solidarizar com aqueles que foram postos à margem dos direitos sociais, dando nossa pequena contribuição para um país mais justo. Nossa observação, assim, irá além da contemplação passiva.
Não pretendemos nos arvorar em conscientizadores ou condutores de outros, pois sabemos no que deram os duces e os timoneiros. Apenas lançamos sementes que, acreditamos, germinarão nos corações e mentes dos que se indignam ao ver a miséria alheia. Não pretendemos ser os do contra, mas já o somos na medida em que remamos contra a maré do senso comum e lutamos contra a ditadura do pensamento único. Daí a proposta estampada no subtítulo deste blog: enxergar além do lugar-comum.
Nós, os Observadores Sociais, enxergamos no processo globalizatório capitalista – chamado por muitos intelectuais de “globocolonização” – uma estratégia de homogeneização. No zeitgeist atual, loas são entoadas à individualidade. No entanto, como falar em individualidade se todos se vestem da mesma forma, lêem os mesmos livros, curtem as mesmas músicas ou apreciam os mesmos filmes? Individualidade implica analisar e ponderar sobre uma determinada proposição antes de introjetá-la. Individualidade não combina com aceitação acéfala do que é apresentado. Se, por exemplo, todos estão por aí dizendo que Fidel e Chávez são ditadores, vamos primeiro analisar o contexto sócio-histórico-econômico cubano e venezuelano, tentando buscar nele as raízes do que hoje se descortina diante de nossos olhos. Nessa busca pode ser que cheguemos a conclusões diferentes das que nos são oferecidas pela grande mídia, a salvo dos maniqueísmos.
Este blog completa hoje dois anos e ainda caminha para sua maioridade. Até agora temos tido força suficiente para seguir modestamente em nossa missão de servir de contraponto à grande imprensa, fomentar a cidadania, a consciência de classe e a politização por meio da difusão de informações que julgamos ser de utilidade pública e mais próximas da verdade factual.
Percalços até aqui não faltaram: cuidados com a família, oito horas diárias no trabalho, três horas diárias no transporte público e os estudos da faculdade. Contudo, seguimos impelidos pela utopia, pelo apoio dos 92 leitores que nos seguem visivelmente – há um ano eram apenas 16 - e também daqueles que, anonimamente, prestigiam este blog. A todos agradecemos muitíssima e cordialmente.
Há um ano nos colocávamos como andarilhos em uma quixotesca jornada. Pois bem, tal jornada continua e volto a citar a frase do cineasta Fernando Birri: “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.” Talvez não cheguemos nunca ao ponto onde desejaríamos hoje estar: o socialismo. Mas é tal esperança de futuro que continuará a nos nortear nessa árdua jornada.
Para finalizar, gostaria de citar uma frase do dramaturgo George Bernard Shaw: “Você vê as coisas como elas são e pergunta: por quê? Mas eu sonho com coisas que nunca foram e pergunto: por que não?”
Comentários
Aqui e de fato um espaço que contribui para formar cidadãos conscientes,politizados e enganjados na luta por uma sociedade mais justa e democrática para todos!
Valeu!