Dia de Zumbi

Busto de Zumbi em Brasília. Foto: Agência Brasil


Por Cléber Sérgio de Seixas

A xenofobia e o preconceito que tomaram fôlego por conta do baixo nível protagonizado pela campanha do candidato derrotado José Serra, e que têm grassado no pós-eleição através de episódios lamentáveis, devem servir de alerta àqueles que sempre foram colocados à margem da cidadania no Brasil.

Há muito os negros brasileiros suportam um preconceito ora explícito, ora velado. É esse um dos motivos por que comemoram hoje o dia da consciência negra. Consciência implica reflexão para ação. É oportunidade de os negros se lembrarem de seus heróis - sobretudo do maior deles, Zumbi dos Palmares - e refletirem sobre os desafios atuais e os que o porvir reserva para a sua inserção social, já que muito pouco melhorou desde que as portas das senzalas foram abertas e os afro descendentes se viram libertos num país que não os acolheu plenamente como cidadãos. A lei áurea abriu os grilhões, mas não alforriou os negros do preconceito.

No século XVII, o Quilombo dos Palmares constitui-se num refúgio para escravos fugidos da opressão dos engenhos do açúcar. Enquanto no Brasil colônia imperava a monocultura açucareira, Palmares vicejava cultivando milho, banana, batata, feijão e mandioca. Zumbi se estabelece como líder do quilombo em substituição a Ganga Zumba. Por anos a fio, Palmares resiste ao assédio de incursões portuguesas e holandesas, tendo sido a mais longa rebelião escrava da História. No maior de todos os quilombos praticava-se uma espécie socialismo primitivo, sendo comunitária a posse da terra e inexistente a circulação de dinheiro.

Depois de várias derrotas, a coroa portuguesa ajuntou o maior exército até então convocado para dar cabo aos insurgentes. Dez mil guerreiros defendiam a última fortaleza de Palmares. A maioria sucumbiu. Os sobreviventes foram atirados de precipícios, degolados ou vendidos para mercadores do Rio e Buenos Aires. Depois de uma traição, Zumbi foi encurralado e morto. Cortaram-lhe a cabeça, salgaram-na e deixaram-na exposta em Recife, na intenção de varrer do imaginário popular a imortalidade do líder guerreiro. No entanto, trezentos anos depois, Zumbi não só sobrevive no imaginário de seus companheiros de cor, como também empresta a data de sua morte ao dia nacional da consciência do povo negro.

Se a África do Sul tem seu Mandela, se o Congo tem seu Lumumba, se os EUA têm Martin Luther King e Malcolm X, se o Haiti tem Toussaint Louverture, nós, os negros brasileiros, temos Zumbi!

Zumbi é orgulho da cor, é o desejo de liberdade, é consciência! Viva Zumbi! Viva o povo negro que tanto contribuiu e contribui para o desenvolvimento do país e para a cultura! Viva a consciência negra!

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