SOBRE CORRUPTOS E CORRUPTORES
Por Cléber Sérgio de Seixas
O Brasil ficou chocado com as imagens do “mensalão do DEM” ou “panetonegate”, como queiram. O escândalo ocorreu por conta das imagens de políticos de Brasília recebendo dinheiro e guardando em locais inusitados como meias e cuecas. Houve até quem fizesse uma prece de agradecimento pelo dinheiro angariado através da corrupção. Ao ver tais imagens, aquele que depositou seus votos e, por extensão, sua confiança em um dos envolvidos, torna-se mais cético com respeito à classe política, passando a acreditar que toda ela é corrupta e, por isso, não valeria a pena nenhuma investigação da vida pregressa dos candidatos ou nenhuma análise de suas propostas, visto que todos estariam irmanados na corrupção e seria perda de tempo o exercício de seletividade por ocasião dos pleitos. Diante de tal maniqueísmo devemos questionar a quem interessaria o desinteresse do eleitor pelo processo eleitoral – desculpem o pleonasmo.
Quando a ideologia deixa de ser a diretriz de um partido político, abre-se uma porta para a cooptação do mesmo pela “síndrome do eleitoralismo”, ou seja, a armadilha na qual muitos partidos têm caído por conta de quererem perpetuar-se no poder. Saem de cena os projetos de Estado, logo substituídos pelos projetos de governo. Manter-se no cargo se torna mais importante que aprovar projetos de interesse popular.
Para ser eleito, o nome do candidato precisa ser notório, e para isso é crucial o recurso à publicidade. Entra em cena, então, o marqueteiro, aquele profissional responsável por transformar a figura do candidato, tornando-a palatável ao gosto popular. Foi assim que o Lula radical, que dizia que quem bate cartão não vota em patrão, se tornou o Lulinha Paz e Amor - mais para cor de rosa que pra vermelho - sob as mãos de Duda Mendonça. O marketing político requer muito dinheiro e nos tempos atuais não são mais suficientes os bingos, as rifas, as vendas de broches ou os jantares de apoio para arrecadar dinheiro. O dinheiro virá de quem o possui em profusão, ou seja, de empresários, de produtores rurais, de banqueiros ou mesmo de tráficantes de drogas. Às vezes o dinheiro virá da corrupção – o candidato pode contar com o caixa dois de uma empresa privada que retribuirá em dinheiro a benesse de, por exemplo, ter vencido uma licitação fraudulenta. O dinheiro também pode vir de uma empresa pública que tenha aprovado orçamentos superfaturados com a condição de separar um percentual para a campanha política. De uma forma ou de outra o cidadão estará financiando, através dos impostos que paga, candidatos abastecidos por dinheiro público desviado.
Nesse último caso o candidato pode gozar de certa flexibilidade ideológica. Mas se o dinheiro que financia a campanha vier da iniciativa privada não há como manter a fidelidade aos antigos preceitos ideológicos. O candidato, assim, se torna um refém e devedor dos interesses da empresa ou do empresário que o financiou. Como conseqüência, o eleitor deixa de ser um fim para se tornar um meio. Sai o povo e entram os detentores do dinheiro; desaparecem as ideologias e despontam o pragmatismo e o rabo preso dele resultante. As mãos que tocam o barco do processo eleitoral são agora as da Realpolitik. É por isso que costumo afirmar, categoricamente, que nossa democracia se resume a voto.
Eis o dilema das esquerdas atuais: manterem-se fiéis aos programas populares e ideológicos e, por conseguinte, correrem o risco de cairem no anonimato, ou submeterem-se às diretrizes do marketing eleitoral visando manterem-se no páreo, sabendo que um dia o diabo (empresários, banqueiros e afins) virá cobrar a dívida de Fausto.
Em contextos assim é que surgem indivíduos da estirpe de José Roberto Arruda, mais comprometidos com seus bolsos do que com os interesses da coletividade. Punam-se os praticantes do ilícito; que sejam condenados os mensaleiros de plantão, mas é de igual importância garantir que as luzes dos holofotes incidam também sobre aqueles que ficam governando dos bastidores, ou seja, sobre os corruptores, pessoas físicas e jurídicas que não auferiram um voto sequer e, no entanto, são detentoras de grande poder.
O corrupto é apenas a ponta do iceberg. Pode ser o bode expiatório, o boi de piranha que é abandonado à própria sorte para não manchar o nome do partido ao qual pertence (o exemplo de Arruda em relação ao DEM ilustra bem esse conceito). Os corruptores ficam no anonimato na maioria das vezes, protegidos pela grande mídia que prima em generalizar como corruptos os políticos ao passo que coroa com auréolas de santidade empresários até o pescoço envolvidos em corrupção. A sociedade se escandaliza com os políticos corruptos mas desconhece os corruptores que os produziram. A regra, porém, é clara: não existe corrupto sem corruptor.
Combate-se na política com as armas da política. Uma das poucas saídas para esse imbróglio é o financiamento público de campanha. Com tal medida, se evitaria que os mais endinheirados tivessem sempre maiores chances de serem eleitos. É, portanto, urgente uma reforma política que toque na ferida do financiamento das campanhas eleitorais, por ser um dos maiores vícios de nossa “democracia”. Se alterações na legislação eleitoral não forem feitas, continuaremos a conviver com políticos que mandam às favas o interesse público.
Para finalizar, gostaria de citar a opinião de Frei Betto em sua magistral obra A Mosca Azul: “A política sempre foi um fator de educação cidadã. Esvaziada de conteúdo ideológico, como consistência de idéias, transforma-se em mero negócio de acesso ao poder, como ocorreu na Califórnia com Schwarzeneger. Elege-se quem tem mais visibilidade pública, ainda que desprovido de ética, princípios e projetos. É a vitória do mercado sobre os valores humanitários. No lugar de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, entram a visibilidade, o poder de sedução e os amplos recursos de campanha. É a predominância do marketing sobre os princípios. E, como todos sabem, o segredo do marketing não é vender produtos, e sim ilusões com as quais os embala, pois nutrem a mente de fantasias, embora não encham a barriga...”.
Quando a ideologia deixa de ser a diretriz de um partido político, abre-se uma porta para a cooptação do mesmo pela “síndrome do eleitoralismo”, ou seja, a armadilha na qual muitos partidos têm caído por conta de quererem perpetuar-se no poder. Saem de cena os projetos de Estado, logo substituídos pelos projetos de governo. Manter-se no cargo se torna mais importante que aprovar projetos de interesse popular.
Para ser eleito, o nome do candidato precisa ser notório, e para isso é crucial o recurso à publicidade. Entra em cena, então, o marqueteiro, aquele profissional responsável por transformar a figura do candidato, tornando-a palatável ao gosto popular. Foi assim que o Lula radical, que dizia que quem bate cartão não vota em patrão, se tornou o Lulinha Paz e Amor - mais para cor de rosa que pra vermelho - sob as mãos de Duda Mendonça. O marketing político requer muito dinheiro e nos tempos atuais não são mais suficientes os bingos, as rifas, as vendas de broches ou os jantares de apoio para arrecadar dinheiro. O dinheiro virá de quem o possui em profusão, ou seja, de empresários, de produtores rurais, de banqueiros ou mesmo de tráficantes de drogas. Às vezes o dinheiro virá da corrupção – o candidato pode contar com o caixa dois de uma empresa privada que retribuirá em dinheiro a benesse de, por exemplo, ter vencido uma licitação fraudulenta. O dinheiro também pode vir de uma empresa pública que tenha aprovado orçamentos superfaturados com a condição de separar um percentual para a campanha política. De uma forma ou de outra o cidadão estará financiando, através dos impostos que paga, candidatos abastecidos por dinheiro público desviado.
Nesse último caso o candidato pode gozar de certa flexibilidade ideológica. Mas se o dinheiro que financia a campanha vier da iniciativa privada não há como manter a fidelidade aos antigos preceitos ideológicos. O candidato, assim, se torna um refém e devedor dos interesses da empresa ou do empresário que o financiou. Como conseqüência, o eleitor deixa de ser um fim para se tornar um meio. Sai o povo e entram os detentores do dinheiro; desaparecem as ideologias e despontam o pragmatismo e o rabo preso dele resultante. As mãos que tocam o barco do processo eleitoral são agora as da Realpolitik. É por isso que costumo afirmar, categoricamente, que nossa democracia se resume a voto.
Eis o dilema das esquerdas atuais: manterem-se fiéis aos programas populares e ideológicos e, por conseguinte, correrem o risco de cairem no anonimato, ou submeterem-se às diretrizes do marketing eleitoral visando manterem-se no páreo, sabendo que um dia o diabo (empresários, banqueiros e afins) virá cobrar a dívida de Fausto.
Em contextos assim é que surgem indivíduos da estirpe de José Roberto Arruda, mais comprometidos com seus bolsos do que com os interesses da coletividade. Punam-se os praticantes do ilícito; que sejam condenados os mensaleiros de plantão, mas é de igual importância garantir que as luzes dos holofotes incidam também sobre aqueles que ficam governando dos bastidores, ou seja, sobre os corruptores, pessoas físicas e jurídicas que não auferiram um voto sequer e, no entanto, são detentoras de grande poder.
O corrupto é apenas a ponta do iceberg. Pode ser o bode expiatório, o boi de piranha que é abandonado à própria sorte para não manchar o nome do partido ao qual pertence (o exemplo de Arruda em relação ao DEM ilustra bem esse conceito). Os corruptores ficam no anonimato na maioria das vezes, protegidos pela grande mídia que prima em generalizar como corruptos os políticos ao passo que coroa com auréolas de santidade empresários até o pescoço envolvidos em corrupção. A sociedade se escandaliza com os políticos corruptos mas desconhece os corruptores que os produziram. A regra, porém, é clara: não existe corrupto sem corruptor.
Combate-se na política com as armas da política. Uma das poucas saídas para esse imbróglio é o financiamento público de campanha. Com tal medida, se evitaria que os mais endinheirados tivessem sempre maiores chances de serem eleitos. É, portanto, urgente uma reforma política que toque na ferida do financiamento das campanhas eleitorais, por ser um dos maiores vícios de nossa “democracia”. Se alterações na legislação eleitoral não forem feitas, continuaremos a conviver com políticos que mandam às favas o interesse público.
Para finalizar, gostaria de citar a opinião de Frei Betto em sua magistral obra A Mosca Azul: “A política sempre foi um fator de educação cidadã. Esvaziada de conteúdo ideológico, como consistência de idéias, transforma-se em mero negócio de acesso ao poder, como ocorreu na Califórnia com Schwarzeneger. Elege-se quem tem mais visibilidade pública, ainda que desprovido de ética, princípios e projetos. É a vitória do mercado sobre os valores humanitários. No lugar de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, entram a visibilidade, o poder de sedução e os amplos recursos de campanha. É a predominância do marketing sobre os princípios. E, como todos sabem, o segredo do marketing não é vender produtos, e sim ilusões com as quais os embala, pois nutrem a mente de fantasias, embora não encham a barriga...”.
Comentários
Na luta contra a fraude e a corrupção eleitoral
VOTE BEM - OS DEZ NÃOS
1º - Não deixe de votar, valorize o seu voto
2º - Não vote contrariando a sua opinião, o seu voto é secreto
3º - Não vote para contentar parentes ou amigos, escolha o melhor candidato
4º - Não venda o seu voto, garanta a sua liberdade de escolha
5º - Não troque o seu voto por favores, o seu voto é livre e soberano
6º - Não vote sem conhecer a capacidade e o programa do candidato
7º - Não vote sem conhecer a competência e o passado do candidato
8º - Não vote sem conhecer o caráter do candidato, o seu voto merece respeito
9º - Não deixe nenhuma pesquisa mudar o seu voto, use de sua firmeza
10º - Não vote em candidato com Ficha Suja, deve ser Ficha Limpa
ESCOLHA BEM NA HORA DE VOTAR