QUESTÃO DE URGÊNCIA
Por Jorge Werthein - Doutor em educação pela Universidade de Stanford, ex-representante da UNESCO no Brasil
Parece haver consenso. Não há quem discorde do argumento de que a educação é imprescindível para o desenvolvimento de um país. Em termos de discurso, pode-se considerar ponto pacífico. Uma educação de qualidade para todos é bandeira que nenhum partido ou político despreza. O que falta, então, para que países como o Brasil despontem no cenário internacional como exemplos de bom ensino e aprendizagem, assim como já aparecem em diferentes áreas, como esporte, música, agropecuária, fabricação de aviões e outras?
Tudo o que se discute em educação na América Latina passa antes pela necessidade de melhorar significativamente a qualidade do ensino mediante uma política de Estado específica para a educação, a ciência e a tecnologia. Sem essa política de Estado, permanecerão as habituais políticas de curto prazo, com duração de um ou dois mandatos do Poder Executivo, seja ele federal, estadual ou municipal. Essa questão ainda não mereceu suficiente debate, menos ainda com a periodicidade necessária. Assim, vêm sendo desperdiçados tempo e dinheiro em políticas que mal se concretizam e já saem de cena para que outra as substitua. Quem ouve professores sabe disso. Não faltam aqueles que se queixam por adotar um método hoje e precisar substituí-lo amanhã em função da dança de cadeiras no Poder Executivo local.
Áreas cruciais como a educação, a ciência e a tecnologia – estratégicas e que, por isso mesmo, demandam visão de longo prazo – não podem nem devem ficar à mercê de interesses eleitorais imediatistas. Uma educação de qualidade para todos resulta da cooperação, da união de esforços de diversos segmentos, de forma a elevar o nível de ensino e aprendizagem do maior número possível de estudantes, sobretudo dos primeiros anos escolares. A falta de uma política de Estado para a educação prejudica também os professores, pois não há como promover uma formação rigorosa de docentes nas universidades. O que eles encontrarão fora dos muros da academia? Tampouco é possível atrair os melhores alunos para a carreira do magistério. Os salários são pouco convidativos, e a realidade cotidiana, desestimulante. Sem formação adequada para os docentes, países como o Brasil não conseguem aumentar sua competitividade no plano internacional. Afinal, como desenvolver outras áreas sem avançar justamente naquela responsável pela formação de todas as outras?
Tudo isso já foi dito, mas todos os que o vêm repetindo experimentam a sensação de que se avança, porém, mais lentamente do que o desejado. Há esperanças, contudo. Recentemente, a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE) se reuniu para ouvir experiências em formação científica para estudantes do ensino fundamental. A ideia é reunir insumos para um relatório de recomendação ao Ministério da Educação (MEC) sobre essa área. O CNE ensaia a proposta de uma política nacional nesse âmbito. Espera-se que a louvável iniciativa não caia no esquecimento com possíveis trocas de comando no MEC no futuro. O mesmo vale dizer, evidentemente, sobre estados e municípios, que nem sempre rezam pela mesma cartilha entre si e igualmente sucumbem à tentação de mudar a política educacional a cada mandato.
Portanto, um pacto apartidário pela educação, a ciência e a tecnologia, que dê origem a uma política de Estado para essas áreas, sem o que o país terá dificuldades para encarar os próximos 30/40 anos, é imperativo. Por que não fazê-lo logo? Não há consenso sobre a relevância da educação, da ciência e da tecnologia, sobretudo da primeira, como eixo central do desenvolvimento neste século? Até quando esperar? No mundo globalizado, o Brasil já tem uma substantiva visibilidade e, por isso mesmo, precisa, o quanto antes, agregar valor ao que produz e comercializa.
Fonte: jornal Estado de Minas - 01 de março de 2010.
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