Popular ou populista?



Por Jeferson Malaguti Soares *

A direita tem a mania de vulgarizar os governos de esquerda chamando-os populistas, na medida em que os julgam usar os pobres e menos favorecidos em benefício de sua manutenção no poder. Na verdade, o que é ser popular e o que diferencia o termo do seu primo “populismo”? Popular é o que agrada ao público. Populista é o que usa o público. Dito isto, vejamos onde se encaixa os governos de Lula e Dilma por aqui.

Num governo populista, o povo não passa de uma categoria abstrata, usada para dar legitimidade a um governo forte, caudilhesco, e que nunca vai permitir a ascensão de alguém das massas populares ao poder de fato. Pregam sempre a reforma das instituições e nunca as reformas, ditas de base, que vão encontrar os anseios do povo. Neste sentido, o populismo não é necessariamente atributo das esquerdas, pois seu alvo não são apenas as massas destituídas, mas especificamente a manutenção de seus privilégios, tendo como princípio de sua ações políticas a exploração das carências dos estratos mais baixos (ou menos organizados) da população urbana, com os quais estabeleceu uma relação de pseudo-empatia, como na defesa de políticas rígidas justificadas pela salvaguarda da "moral  e dos bons costumes" ou da "lei e da ordem”. 

Assim sendo, a ditadura militar brasileira pode muito bem se encaixar num regime populista. Quem não se lembra do “Brasil, ame-o ou deixe-o”? E da musiquinha da Copa de 70: “90 milhões em ação...”? E, pior ainda, da campanha “Ouro para o Brasil” do primeiro governo militar, de Castelo Branco, “arrecadando” junto ao populacho, para salvar o País?  Esses homens e mulheres populistas nunca vêm do povo. Isso é populismo!

Popular, como o próprio nome indica, é algo que vem do povo, feito pelo povo, que pertence ao povo e para o povo retorna. Popular é um homem ou uma mulher do povo, que pertence ao povo, que faz parte íntegra e não abstrata de uma comunidade. Governo popular, portanto, é um governo com compromisso popular, voltado para os anseios populares, para as necessidades do povo. É um governo que prioriza o cuidado com aqueles que mais precisam de suas ações, com os menos aquinhoados pela sorte, os menos favorecidos. Não penaliza os pobres. Governo popular é progressista na sua essência. 

Então, considerando que os governos Lula e Dilma foram até um pouco conservadores nas ações econômicas, até mesmo ortodoxos com o capital financeiro, será que poderiam ser considerados governos populares? Sim, poderiam, na medida em que sob os mesmos foram criados muitos programas de inclusão social, econômica, política e educacional que beneficiaram diretamente as classes mais baixas da população. Apesar de não ter mexido com o dinheiro dos ricos, e de até ter favorecido para que eles ficassem mais ricos - vide os lucros dos bancos, por exemplo -, Lula e Dilma tiveram um olhar mais firme em direção aos mais atingidos pelo esquecimento.  Fizeram, sem dúvida alguma, governos populares.

Chegamos então hoje à assimetria quanto a governos populares ou populistas, o impopular. O governo golpista e ilegítimo de Michel Temer é excecional, incomum, e atípico. Não consegue agradar a qualquer dos lados. O povo é seu antagônico. Os ricos o ridicularizam. Michel Temer é hoje o verdadeiro bobo da corte, o bufão. É um servo consciente de quem são seus patrões, empresários, mídia, banqueiros, ricos em geral. É um tipo característico do grotesco. Não chefia um governo. No máximo, uma quadrilha mal enjambrada.


Jeferson Malaguti Soares é administrador, consultor de empresas, Secretário de Formação do PCdoB Ribeirão das Neves e colaborador deste blog.

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