O Rio de Janeiro


Por Jeferson Malaguti Soares *

O Rio de Janeiro representa hoje tudo o que o Brasil será muito em breve: uma cidade onde o caos está instalado em quase todas as áreas, na saúde, na educação, na segurança pública, na salubridade, nos transportes. A capital fluminense está absolutamente insolvente, salários do funcionalismo atrasados em três ou quatro meses, saúde sucateada, escolas depredadas, insegurança geral. É o Brasil de daqui a pouco. 

Há trinta anos, o governador do Rio era Leonel Brizola e seu Secretário de Educação era Darcy Ribeiro. Juntos elaboraram o maior e melhor projeto educacional da América Latina. Construíram no estado mais de 500 Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs), os quais tinham por objetivo oferecer ensino público de qualidade em período integral aos alunos da rede estadual de ensino. O aluno entrava no CIEP às 8 horas da manhã e saía às 17 horas. Nesse período, além do currículo escolar regular, eram administradas atividades culturais, estudos dirigidos, educação física e esportiva. Os CIEPs ofereciam refeições completas aos alunos além de atendimento médico e psicológico. A capacidade de cada unidade era de 1000 alunos. O projeto oferecia refeições desde a chegada da criança para o primeiro turno até a saída, quando havia o jantar. Quando encerrava o período letivo ou havia as férias de meio de ano, atividades recreativas eram oferecidas para que as crianças pudessem continuar a freqüentar o CIEP e obter acesso a recursos como as salas de leitura e as refeições. Era entregue todo o material didático, como caderno, lápis, borracha etc. Em cada turno havia uma professora diferente. O projeto objetivava, adicionalmente, tirar crianças carentes das ruas, oferecendo-lhes os chamados “pais sociais”, funcionários públicos que, residentes nos CIEPs, cuidavam de crianças também ali residentes. Era um projeto audacioso, de absoluta integração social e humana.

O que aconteceu a partir daí? Uma campanha ignominiosa da imprensa contra a existência dos CIEPs, capitaneada pelas Organizações Globo e seu jornal O Globo. Não satisfeitos, os donos da Globo apoiaram as candidaturas de Moreira Franco (o mesmo que hoje se locupleta no governo golpista de Michel Temer) e posteriormente de Marcelo Alencar. Estes dois destruíram os CIEPs e colocaram as crianças na rua. Os CIEPs estão abandonados, os professores não recebem há quatro meses e há escolas sendo fechadas. O resultado disso não é difícil de prever: crianças abandonadas, escolas fechadas, mais marginais nas ruas. 

Não existe solução para um povo que não passe pela educação. É simples assim. Agora vejam o que fez o governo golpista de Temer logo na primeira hora. Apoiado em sugestões do inominável Alexandre Frota, pariu uma desastrosa reforma da educação. 

Sabemos que a educação gera conhecimento e que este gera sabedoria. Apenas um povo sábio, que conhece suas limitações e sua história pode mudar seu destino. Sem a educação o caos se implanta. A história se perde e os erros se repetem. Aí está o que acontece no estado do Rio de Janeiro. Sucateou-se a educação. Sobrou a marginalidade social e policial.

No âmbito nacional, Fernando Henrique Cardoso jogou uma pá de cal no buraco onde pretendia enterrar nossa educação. Lula fez exatamente o contrário. Dilma continuou. Se preservadas as ações dos governos Lula/Dilma, daqui a 50 anos teríamos uma nova população, inventiva, curiosa, imaginativa, que pensaria o Brasil de forma grandiosa. Em um ano dilapidaram toda essa expectativa de futuro. 

Somos hoje um país fadado ao fracasso, ao descaso mundial e à exploração cruel de seus bens e de seu povo. Tornamo-nos rejeito de gente, escravos da economia e da ganância internacional.


* Jeferson Malaguti Soares é administrador, consultor de empresas, Secretário de Formação do PCdoB Ribeirão das Neves e colaborador deste blog.

Comentários