Carta aberta ao ministro Aldo Rebelo

Belo Horizonte, 29 de janeiro de 2014.

Caríssimo Ministro do Esporte e camarada Aldo Rebelo. Quero primeiramente cumprimentá-lo pelo belíssimo trabalho que vem realizando a frente do Ministério dos Esportes. Uma GESTÃO que dá continuidade a quase doze anos de trabalho eficiente dos comunistas no comando da pasta. É preciso destacar que tanto o Presidente Lula, quanto a Presidenta Dilma vem ampliando ano a ano os recursos do esporte no orçamento público federal. É claro que precisaríamos de muito mais recursos, mas o que importa é que o esporte passou a ser política de Estado e nesse sentido tomou novas proporções.

O povo brasileiro demonstrou ao longo dos tempos que é um apaixonado pela prática e o acompanhamento das várias modalidades esportivas. Somos uma torcida apaixonada pelas cores verde e amarela, seja com Guga nas quadras de Roland Garros, seja com as meninas do handebol no campeonato mundial da categoria. No futebol nem te falo. Assim a torcida brasileira torce, vibra, chora, canta. Neste ambiente positivo, o Brasil avançou nos últimos anos, em competições de esportes coletivos e esportes individuais de alto rendimento. Como você sabe, precisamos avançar e avançaremos muito mais. 

Avançar mais significa política pública, comprometimento com o esporte, com os atletas, com o Brasil e, fundamentalmente, com o povo brasileiro. Aldo Rebelo, conheço sua trajetória e seus compromissos. Do menino pobre, filho de vaqueiro no interior de Alagoas, a Ministro de Estado. Uma trajetória política inigualável. Político de fala mansa e posições firmes, ocupou os principais postos do Congresso Nacional, chegando à sua Presidência. Por falar em nacional, um profundo e autêntico nacionalista. Aldo, sei que sua trajetória política sempre se pautou pela questão nacional e isso o diferencia dos demais políticos de sua geração.

Camarada Aldo, falando em nacionalismo quero deixar registrado o irretocável trabalho realizado pelo camarada Orlando Silva à frente do Ministério dos Esportes. Lembro-me dele e do Presidente Lula abraçados em frente ao presidente da FIFA. Quanta alegria eu senti quando o Brasil foi anunciado sede da Copa do mundo de 2014. E ainda mais emocionado fiquei quando foi decidido pelo COI – Comitê Olímpico Internacional a realização das olimpíadas de 2016. Sabemos que a Copa do Mundo e as Olimpíadas são os dois principais eventos esportivos do planeta. Dezenas de países gostariam de realizá-los em 2014 e 2016. Alias, é importante registrar que para chegar a esta situação e conquistar a realização das duas atividades esportivas, enfrentamos muitas disputas. O Brasil saiu vencedor. 

Falar em Brasil vencedor é falar de um país que ocupa um novo patamar na geopolítica internacional. Um país visto aos olhos do mundo como uma nova potência regional e internacional, um país que avança na afirmação de novos paradigmas. Isso foi decisivo para que ganhássemos a disputa e a realização dos dois eventos em solo pátrio. 

Aldo Rebelo, um país como o nosso, multicultural, multirracial, democrático e que nos últimos dez anos elevou à condição de cidadãos e cidadãs 40 milhões brasileiros, não poderia ficar de fora desses dois eventos. São justamente esses seletos grupos de países que vêm realizando os eventos esportivos mundiais no último período, a destacar: Coréia, Japão, China, Estados Unidos, África do Sul e Alemanha.  

Aldo Rebelo, acho que poderíamos fazer um paralelo entre a Copa do Mundo de 1950 e a de 2014. Você, como um profundo conhecedor da História, sabe perfeitamente que o Brasil dos anos 50 era também um país que avançava e encantava o mundo. A criação da Petrobras, da CVRD – Cia Vale do Rio Doce, da CSN- Cia Siderúrgica Nacional são alguns exemplos. Um país com alta estima, que crescia a 8% ao ano, que se urbanizava, se industrializava, desenvolvia suas estruturas produtivas, econômicas e sociais, enfim um país que se projetava para o futuro. Mas devemos parar por ai, porque o MARACANASO, não irá se repetir, a não ser como farsa ou mesmo tragédia. Por falar em Maracanã, o estádio foi construído para a Copa do Mundo e se transformou no grande orgulho dos brasileiros e no templo do futebol. A magia de tantos craques que ali desfilaram é indescritível.

Os brasileiros, como sabemos, têm uma profunda paixão pelo futebol, enraizada em todo o território nacional. Nesse sentido, quero expressar meu apoio ao Presidente Lula, que decidiu transformar a Copa do Mundo num evento nacional, com doze sedes, em todas as regiões do país. O Brasil não pode ser apenas o Brasil do Sudeste: São Paulo, Minas e Rio. O Brasil é muito maior e assim deve ser visto, assim como foi visto pelo corintiano Lula. O baiano, o gaúcho, o amazonense,  enfim, nos doze estados em que haverá jogos da Copa, o povo brasileiro será protagonista e não mero espectador.  Essa decisão muda radicalmente a forma como os donos do poder - da Paulista à Vieira Souto - sempre enxergaram o Brasil profundo.

Ministro Aldo Rebelo, nos últimos meses a mídia nacional vem atacando cotidianamente os dois eventos e com mais força a Copa do Mundo. Uma visão pequena de país, transformando essas grandes oportunidades em crises e cisões do povo brasileiro. A oposição precisa transformar a Copa do Mundo na última e única possibilidade de disputarem com alguma chance o processo eleitoral de 2014. É claro que isso representa um grande desespero, falta de projeto para o Brasil e ausência de programa compatível com o Brasil atual.  Mas, com ou sem desespero, estimulam as mobilizações e manifestações contra a Copa, na tentativa de reproduzir junho e julho de 2013, e atingir a candidatura da Presidenta Dilma. 

Nos últimos dias foram criados vários movimentos envolvendo a Copa do Mundo: “Movimento contra a Copa”, “Não vai ter Copa”, “Movimento a favor da Copa”, “Quem é contra a Copa é terrorista”, e assim creio que surgirão novas propostas de movimentos. A imprensa, que já demonstrou seu lado na disputa, convocou massivamente as manifestações do ultimo sábado, que foi, aqui para nós, um grande fracasso. Nas treze localidades que tiveram atos contra a Copa, os manifestantes não conseguiram reunir mais que 4 mil pessoas, mas tiveram manchetes nos principais veículos de comunicação ao longo da semana, com destaque, é claro, para mais uma atrocidade da policia do governo tucano de São Paulo. Contudo, o governo brasileiro não pode vacilar, pois as possibilidades de manifestações são reais e diria que algumas das propostas são extremamente justas e pertinentes.

Aldo Rebelo, para ir encurtando minha carta, senão daqui a pouco vira um testamento, quero dizer do meu profundo descontentamento com o Governo Federal e o Ministério dos Esportes no que tange à disponibilização das informações e dados oficiais que envolvem a Copa do Mundo no Brasil. A cada dia chegam novas denúncias e informações distorcidas pela imprensa e nas redes sociais. Não vejo nenhuma contra ofensiva mais firme e incisiva do Estado brasileiro e do Ministério dos Esportes no sentido de melhor informar a maior parte da população que é favorável à Copa do mundo. As informações são decisivas para enfrentar as campanhas difamatórias contra a  Copa e o Brasil. Sabemos que o Governo brasileiro dispõe de meios materiais e intelectuais para enfrentar esta guerra, que não é contra a Copa do Mundo ou contra a FIFA, mas contra o Brasil.

Neste sentido, peço que responda a esta carta e disponibilize a todos os brasileiros algumas informações que considero fundamentais e definitivas para o esclarecimento da população. Espero, camarada Aldo Rebelo, ver a melhor Copa do Mundo de todas até hoje realizadas e, é claro, com Brasil sagrando-se campeão, com gol do artilheiro Jô, atacante do meu querido Galo Mineiro.

Algumas perguntas:
1 – Quanto de recursos públicos estatais foram gastos na construção das arenas?
2 - Quanto de recursos privados foram gastos na construção das arenas (PPP’s, clubes, empresas privadas, etc)?
3 - Quanto de empréstimos foram realizados pelo BNDES ao setor privado para a construção das arenas?
4 – Quais e quantas obras de mobilidade urbana serão entregues até a Copa do Mundo? Onde estão as obras?
5 – Quanto de recursos públicos serão investidos nestas obras de mobilidade?
6 – Existem outras obras que não sejam as arenas e de mobilidade urbana, que são vinculadas a Copa e que estão em andamento? Quais e quanto em valores?
7 – Qual o volume de obras construídas pela iniciativa privada - hotéis, transportes, restaurantes e etc - para atender a Copa do Mundo?
8 - Qual a estimativa de recursos disponibilizados pelo setor privado para atender os objetivos da Copa do Mundo.
9 – Quantos empregos diretos e indiretos foram criados no período pré-Copa e quantos serão criados no período da Copa?
10 – Com o evento da Copa do Mundo, o governo Federal deixou de realizar algum investimento nas áreas de educação, saúde e segurança pública?
11 – Qual a previsão do número de estrangeiros que acompanharão a Copa do Mundo em solo brasileiro?
12 – Qual a previsão de recursos financeiros que serão deixados no Brasil pelos torcedores estrangeiros ao longo da Copa?
13 - Os aeroportos ficarão prontos para atender à demanda de passageiros no período da Copa?
14 - A segurança pública será reforçada para garantir os direitos individuais e coletivos de todos os brasileiros e estrangeiros durante a Copa do Mundo?
15 – Quando o governo começará a fazer propaganda em favor da Copa e quais instrumentos de comunicação serão utilizados?

PS – Aldo, um grande abraço e espero a resposta a esta carta o mais breve possível. Ah, para mim e para o povo brasileiro.

Um grande abraço.
Gilson Reis.


* Gilson Reis é vereador em Belo Horizonte, vice-presidente do PCdoB-BH e membro da direção estadual deste partido. 

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