O direito à preguiça



Por Jeferson Malaguti Soares *

Em seu livro “Zen Socialismo”(Editora Geração, 238 páginas), a blogueira Cynara Menezes nos presenteia com o capítulo de abertura do livro “Direito à preguiça” do genial escritor socialista Paul Lafargue, genro de Karl Marx. Foi Lafargue quem teve a grande sacada de dividir as 24 horas do dia em oito horas de trabalho, 8 horas de sono e oito horas de lazer. E isso se transformou numa das principais reivindicações dos operários do planeta.  O socialismo “lafarguista” é o que mais se aproxima do combate ao capitalismo. Ele fala das misérias sociais e individuais impostas pelo capital em usurpação ao homem trabalhador; da sacrossantificação do trabalho em detrimento do prazer de viver; da cegueira e limitação do indivíduo ante a necessidade do ter e do poder; dos sermões da moral religiosa e econômica que conduzem às terríveis conseqüências do trabalho na sociedade capitalista. 

“Na sociedade capitalista, o trabalho é a causa de toda degenerescência intelectual, de toda a deformação orgânica”, acusa Lafargue. Realmente, se observarmos com mais acuidade, o que vem acontecendo pelo mundo, fruto da crueldade capitalista, que invade países para o seu bem, e mais, a proliferação dos missionários do comércio e dos comerciantes da religião, vamos entender que o dogma do trabalho, criado por religiosos, economistas e moralistas de plantão, nos transformou em miseráveis criados de máquinas e patrões insaciáveis pelo lucro fácil.

E de onde vem a preguiça? Da Grécia antiga primeiramente. Os grandes filósofos e matemáticos da antiguidade ensinavam o desprezo pelo trabalho, uma degradação do homem livre. Somente aos escravos cabia o trabalho. “Aos homens livres eram reservados exercícios físicos e jogos de inteligência” nos ensina Lafargue.

Depois vem Cristo com seu sermão da montanha: “olhai como crescem os lírios do campo, eles não trabalham nem fiam e, todavia digo-vos: Salomão, em toda sua glória, não se vestiu com maior brilho”, outro ensinamento do lafarguismo.

Deus, o ser supremo, nos concedeu o exemplo supremo da preguiça ideal; depois do sexto dia de trabalho, descansou por toda a eternidade.

No entanto, os capitalistas buscam no trabalho apenas a acumulação de bens, sem descanso.
O que é ainda pior, o proletariado, a enorme classe que produz, não se emancipa do trabalho servil, e deixou-se enganar pelo dogma do trabalho.

Encerra Lafargue o capítulo de abertura de seu livro “O direito à preguiça”, com uma frase instigante, que delata e criminaliza o pernicioso dogma do trabalho: “Todas as misérias individuais e sociais nasceram de sua paixão pelo trabalho.”


* Jeferson Malaguti Soares é administrador, consultor de empresas e colaborador deste blog.

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